RUBYnanomed vence programa Net Zero Health Systems

O dia mais esperado chegou e trouxe o anúncio do vencedor do Net Zero Health Systems, promovido pela AstraZeneca, em parceria com a Startup Lisboa e a Unicorn Factory Lisboa.

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Paulina Piairo, RUBYnanomed, vencedora do prémio e júri responsável António Saraiva

Depois do evento AstraZeneca Sustainability Summit, em Outubro do ano passado, os oito projectos finalistas participaram num programa de aceleração durante três meses, focado no desenvolvimento de soluções que contribuam para o objectivo de descarbonizar os sistemas de saúde. E, no passado dia 24 de Janeiro, reuniram-se em Lisboa, no Hospital da Luz, para assistirem ao evento final e apresentarem os pitchs que foram avaliados pelo júri. A decisão não foi fácil, “mas acabou por ser consensual”, explicou a presidente do júri, Sílvia Garcia. “Este projecto já está numa fase muito avançada de certificação e de escalabilidade e esse era um dos critérios que deveríamos ter em consideração na selecção do vencedor”, explicou.

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“O júri acreditou que esta solução é realmente inovadora e evita a sobrecarga do sistema, do sector e as deslocações das pessoas” – Sílvia Garcia, presidente do júri Aleks Arkin?

E em que é que consiste este projecto? É um dispositivo médico que permite fazer a monitorização de pacientes oncológicos e o diagnóstico precoce da progressão metastática das doentes de cancro da mama. E isto é possível através da captura de células tumorais circulantes dos pacientes. Através de uma tecnologia patenteada, com uma geometria própria e determinadas características que permitam a retenção destas células, a equipa de dez elementos [com backgrounds e experiências em diferentes áreas], vai conseguir “partilhar informação repetitiva, actualizada e em tempo real, ao oncologista, sobre a individualidade do tumor, a assinatura molecular e a sua expressão proteica”, explica a COO e uma das co-fundadoras da startup, Paulina Piairo.

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“Este prémio é um reconhecimento de que estamos no caminho certo e isso tem um efeito motivador, de um valor incalculável” – Paulina Piairo, RUBYnanomed Aleks Arkin?

Isto significa que o médico poderá, a partir desta informação mais detalhada, desenhar e escolher a terapia mais personalizada para aquele tumor, de entre o catálogo de terapêuticas disponíveis para aquele caso. Para tal, é preciso conhecer bem o tumor e é essa a possibilidade apresentada pela RUBYnanomed. “Para este ano, já temos planeado o arranque de um ensaio clínico registado com uma maior amostragem. Claro que não chegaríamos até aqui sem uma prova muito robusta de vários testes pré-clínicos mais pequenos”, explica. Com a realização dos mesmos foi possível demonstrar que “as células estão em circulação antes de se manifestarem em massas de tumor, que são detectadas por sistemas imagiológicos, como a TAC e a ressonância magnética”. Ou seja, antes de terem uma dimensão que seja identificada em imagens de Tac e RM com alguma sensibilidade, estas células já estão em circulação no doente e vão aumentar a carga tumoral.

A equipa conseguiu então demonstrar “que é possível predizer que vão existir metástases de tumor e que determinado paciente está num percurso de pior prognóstico porque tem maior oportunidade de desenvolvimento de metástases”. Na apresentação deste projecto à audiência, Paulina Piairo explicou que é possível fazer a predição da recorrência da doença metastática até um ano antes. A empresa tem crescido “lentamente” e a muito pulso e a participação neste programa de aceleração e mentoria “chegou no momento certo” pois o projecto “já está mais maduro e encontra-se na fase de integrar networks com players e stakeholders da área da saúde e de med tech, que abram as portas a potenciais investidores”, defende.

A presidente do júri reforça que “o júri acreditou que esta solução é realmente inovadora e evita a sobrecarga do sistema, do sector e as deslocações das pessoas”. Ou seja, alia, de forma equilibrada, as preocupações ao nível da saúde e da sustentabilidade, dois pilares que estão na génese deste programa.

Tornar os projectos mais robustos

À margem do evento, Rosário Trindade, Corporate Affairs & Market Access Director da AstraZeneca Portugal, explicou que esta é uma preocupação em todos os projectos da companhia farmacêutica. “É para nós uma obrigação moral promover o desenvolvimento de inovação que possa contribuir para esta descarbonização, que é crítica para a sustentabilidade do planeta”. Relativamente aos oito finalistas, destacou a qualidade dos projectos, com claros benefícios na missão deste programa. “Falamos de coisas tão simples como poupar tempo, evitar as deslocações desnecessárias das pessoas aos sistemas de saúde, por exemplo, ao poderem fazer remotamente a sua monitorização e contactar com o clínico.” Em suma, estes projectos contribuem para várias fases da jornada do doente nos sistemas de saúde.

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“Ainda não sabemos em que moldes e se continuará com o mesmo modelo, mas este [programa] é um investimento que queremos manter no futuro” – Rosário Trindade, AstraZeneca Aleks Arkin?

Expostas a este programa de aceleração, as startups cresceram, no sentido em que conseguiram tornar as suas ideias mais maduras depois de terem acesso a mentores, alguns deles investidores e a temáticas de enriquecimento dos seus projectos. Para Gil Azevedo, Director Executivo da Unicorn Factory Lisboa & Startup Lisboa, este programa “junta dois sectores que são críticos para o País e para a sociedade como um todo”. Ao acompanhar de forma próxima as equipas, considera que “apesar de só terem tido três meses para incorporar toda a mentoria e o apoio de especialistas deste programa de aceleração, notámos diferenças nas apresentações de Outubro e os pitchs deste evento final. Julgo que as equipas saem mais fortes desta experiência”. E, garantiu: “Nós, na Startup Lisboa, enquanto incubadores e aceleradores de startups, temos o papel de ajudar estes projectos a continuarem a sua jornada e de assegurar que terão acesso a mentoria e a oportunidade de encontrar investidores para os seus projectos.”

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“Julgo que as equipas saem mais fortes desta experiência” – Gil Azevedo, Startup Lisboa Aleks Arkin?

Investir em inovação

Antes da divulgação do vencedor, o Demo Day contou com uma mesa-redonda moderada por Martim Velez, da Unicorn Factory Lisbon, onde se discutiu o papel da inovação e a sua aplicabilidade nos sistemas de saúde. Francisca Leite, Directora-Geral do Hospital da Luz Learning Health, afirmou que a inovação é necessária, mas que a área da saúde tem a particularidade de responder “a muita regulação e porque é preciso garantir os benefícios desse investimento e da forma como pode ser aplicado na prática clínica”. É um desafio difícil, mas o Hospital da Luz tenta aproximar-se destes projectos, através da participação em programas, como o NetZero Health Systems, e da colaboração com startups. “Tentamos sempre perceber o que estão a desenvolver e se as suas ideias são úteis para o hospital, e se são – ou não – possíveis de ser integradas.” Este tem de ser um esforço de todos – academia, pacientes, hospitais, indústria farmacêutica, startups – porque “é tanto mais desafiante para uma instituição conseguir integrar a inovação de forma isolada”.

Carlos Frederico Carvalho, Innovation and Business Excellence Director da AstraZeneca Portugal, referiu que “a empresa tem feito um enorme investimento, mesmo em Portugal, para ser mais sustentável”. “Estamos a transformar o modo como trabalhamos, mas, além desta filosofia dentro das nossas paredes, trabalhamos para garantir práticas colaborativas entre grupos farmacêuticos para que trabalhemos em conjunto, para resolver problemas de forma global.” Dirigindo-se particularmente às equipas finalistas, Luís Almeida Fernandes, Healthcare Executive, explicou que “tudo o que estejam a desenvolver faz parte de um mercado global. Nenhuma das vossas soluções pode ter uma função local”. É preciso dar “o grande salto”, “ter muito capital para proteger o negócio e apostar no networking”.

Para a Business Angel Isabel Neves, “o critério de elegibilidade para investir já não é o mesmo. Tenho de me sentir apaixonada pelo projecto, pela ideia e pela equipa”. É muito importante investir em startups na área da saúde que “resolvam problemas do dia-a-dia”, como é o caso dos finalistas desta iniciativa. “Mas, não é fácil apostar no sector, para pequenos investidores, que não tenham conhecimento da área e também porque os business angels procuram resultados rápidos e benefícios a curto prazo. E a saúde exige um caminho longo até alcançar êxitos.”

Depois desta primeira experiência, a AstraZeneca irá continuar este programa. “Ainda não sabemos em que moldes e se continuará com o mesmo modelo, mas este é um investimento que queremos manter no futuro”, assegurou Rosário Trindade, à margem do evento. E, em forma de conclusão, Paulina Piairo rematou que “este prémio é um reconhecimento de que estamos no caminho certo e isso tem um efeito motivador, de um valor incalculável”.