Mais de 400 pessoas detidas na Rússia em homenagens a Navalny
Mais de 400 pessoas foram detidas em 36 cidades por prestarem homenagem a Navalny. Polícia retirou flores dos memoriais durante a noite, mas os tributos já regressaram.
Mais de quatrocentas pessoas foram detidas em diversas manifestações na Rússia em memória de Alexei Navalny, anunciou este sábado a organização não-governamental OVD-Info. O opositor de Vladimir Putin e crítico do Kremlin morreu esta sexta-feira na prisão onde estava detido desde Dezembro, uma das mais duras da Rússia, na Sibéria.
Ao longo da noite, as flores colocadas junto a vários memoriais foram removidas por grupos de desconhecidos enquanto a polícia observava, revelam vídeos e fotografias nas redes sociais.
Em Moscovo, os tributos foram retirados de um memorial junto à sede dos serviços de segurança russos, mas de manhã já havia novamente flores no local. No sábado, a polícia bloqueou o acesso a um memorial na cidade siberiana de Novosibirsk e deteve várias pessoas, segundo a OVD-Info.
Trata-se da maior vaga de detenções em eventos políticos na Rússia desde Setembro de 2022, quando mais de 1300 pessoas foram detidas em manifestações contra uma "mobilização parcial" de reservistas para a guerra na Ucrânia.
A OVD-Info indicou que, até às 18h30 de Moscovo (15h30 em Portugal continental), a polícia deteve pelo menos 401 pessoas em 36 cidades russas, a maioria em São Petersburgo e Moscovo. O grupo também comunicou detenções em cidades mais pequenas da Rússia, desde a cidade fronteiriça de Belgorod, onde sete pessoas foram mortas num ataque de mísseis ucranianos na quinta-feira, até Vorkuta, um posto de mineração no Árctico que já foi um centro dos campos de trabalho gulag da era Estaline.
"Em cada departamento de polícia pode haver mais detidos do que os que constam das listas publicadas", declarou o OVD-Info. "Publicamos apenas os nomes das pessoas sobre as quais temos um conhecimento fiável."
Imagens filmadas pela Reuters em Moscovo mostravam as autoridades locais a juntarem pessoas no chão, na neve, perto de um local onde manifestantes tinham deixado flores e mensagens de apoio ao falecido líder da oposição. "Vim prestar homenagem", disse Ksenia, 29 anos, uma apoiante de Navalny , ao jornal The Moscow Times.
Tal como outros apoiantes de Navalny entrevistados, a mulher não revelou o seu apelido devido aos riscos envolvidos no seu apoio depois de vários destes grupos terem sido proibidos e classificados como "extremistas". "As pessoas estão a falar calmamente. Trazem flores vermelhas e brancas. Muitos choram em silêncio, abraçam-se", disse Ksenia ao jornal independente da capital russa. "Esperava a polícia, mas aqui só há pessoas que perderam muito hoje."
"Tenho muita pena dele e do nosso país", disse uma mulher de 83 anos que participava numa vigília em São Petersburgo e que não quis ser identificada. "Estou assustada." Na mesma cidade, dezenas de pessoas reuniram-se num monumento em memória às vítimas da repressão, depositando flores, acendendo velas e cantando músicas. Cerca de 30 pessoas foram presas no local, diz a Reuters.
Morte de Navalny motivou protestos por toda a Europa
Na Europa, reuniram-se multidões em várias cidades em homenagem a Alexei Navalny e em protesto contra o regime de Vladimir Putin. Centenas concentraram-se junto da embaixada russa em Berlim, na Alemanha; em Zurique, na Suíça; Amesterdão, nos Países Baixos; Londres, no Reino Unido; e Turim e Nápoles, em Itália.
Também na Dinamarca e em Portugal, o ponto de encontro dos manifestantes foram as embaixadas da Rússia, nas cidades de Copenhaga e Lisboa.
"Libertem os presos políticos" e "a Rússia vai ser livre" foram algumas das frases entoadas em coro pelas centenas de pessoas, sobretudo jovens russos, que este sábado se juntaram em frente à representação russa na capital portuguesa, para prestar homenagem a Navalny.
"O nosso líder está morto, mas a nossa resposta é: 'Mataram um Alexei Navalny, existirão milhões de Navalnys'", disse à Lusa Timofei Bugaevskii, que participa todos os sábados em concentrações contra o regime de Vladimir Putin.
*com Ivo Neto e Carolina Amado