O julgamento de Christian Brückner, o principal suspeito do desaparecimento da criança britânica Madeleine McCann, em Portugal, começou nesta sexta-feira, 16 de Fevereiro, em Brunswick, no norte da Alemanha, por crimes sexuais distintos deste caso, confirmou um jornalista da Agência France-Presse (AFP). Passados apenas 9 minutos, no entanto, a sessão foi adiada para o dia 23 de Fevereiro: o advogado de defesa levantou uma objecção contra uma juíza leiga – auxiliar de justiça, muitas vezes voluntária e possivelmente desconhecedora da lei – que acusou de ser "tendenciosa".

Em causa estão tweets publicados na rede social X, antigo Twitter, pela mulher em 2019, que endereçavam frases como "Matem esse demónio" e "Esse cretino deve ser destruído"ao Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. A defesa denunciou, assim, que as opiniões da juíza leiga não são compatíveis com a Lei Fundamental da Alemanha, pelo que o julgamento devia ser adiado. Depois de meia hora de deliberação, o tribunal assim o fez, já que não se admitem “declarações fora do sistema legal”.

De acordo com o jornal alemão Bild, o julgamento tinha já atrasado 38 minutos, devido à agitação sentida à porta do tribunal. Segundo o mesmo artigo, a sentença pode ser proferida a 27 de Junho.

Brückner, um alemão de 47 anos, já detido por outros crimes, arrisca uma condenação por mais de 15 anos de prisão por agressões sexuais e violações cometidas entre 2000 e 2017 em Portugal.

Em Outubro de 2023, a Polícia Judiciária portuguesa esclareceu que, na investigação ao desaparecimento da criança inglesa, no Algarve, em 2007, continuam a ser desenvolvidas diligências visando o esclarecimento da situação, adiantando que foram realizados contactos com familiares de Madeleine McCann.

Detido em Kiel, no norte da Alemanha, Christian Brückner foi já condenado em 2019 pela violação de uma turista norte-americana de 72 anos, em 2005, na localidade portuguesa da Praia da Luz.

Sobre estes factos, as investigações prosseguem e o Ministério Público alemão ainda não formulou qualquer acusação pela morte de Madeleine McCann, mais conhecida por Maddie.

O julgamento que arrancou na Alemanha será particularmente escrutinado porque desde a sua acusação no “caso Maddie”, em Junho de 2020, Christian Brückner nunca compareceu numa audiência pública. Nesta sexta-feira, mostrou-se calmo em tribunal.

Nos dias que antecederam a audiência, o seu advogado, Friedrich Fülscher, disse à AFP que Brückner pretendia permanecer em silêncio.

A sua designação, em 2020, como principal suspeito do desaparecimento de Madeleine McCann foi um grande momento nesta investigação, com ramificações internacionais, onde ocorreram inúmeras reviravoltas, pistas e hipóteses falsas.

Maddie desapareceu a 3 de Maio de 2007, na localidade Praia da Luz, no Algarve, pouco antes de completar quatro anos, quando passava férias com os pais e amigos.

Christian Brückner não foi formalmente acusado pelo desaparecimento da criança, mas as investigações do sistema de justiça alemão neste caso estão na origem do julgamento, segundo Christian Wolters, porta-voz do Ministério Público em Brunswick. “Sem a investigação do caso Maddie, estes alegados crimes não teriam vindo à luz”, disse à AFP.