Todos os caminhos

Os que envelhecem a caminhar também rejuvenescem a caminhar.

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— Há caminhantes que preferem a margem feia do rio, pois tem vista para a margem bonita, outros preferem caminhar no meio da beleza, mas com uma péssima vista. Uns preferem o lugar aonde chegam, outros, o lugar que deixaram. Uns gostam do caminho já feito, limpo e cómodo, outros gostam de criar caminhos. Uns caminham sozinhos, outros, acompanhados. Uns passeiam, outros viajam, uns procuram, outros fogem. Os que gostam de caminhar sozinhos não caminham com outras pessoas, como é evidente, nem sequer com as que gostam de caminhar sozinhas, mas quem gosta de caminhar acompanhado pode caminhar com outras pessoas que gostem de caminhar acompanhadas. Uns gostam de se perder, outros usam mapas, uns gostam de voltar, outros preferem caminhar sempre em frente, uns preferem ir, outros preferem não andar. Uns vão lentamente, outros, rapidamente. Uns sabem sempre para onde vão, para não serem surpreendidos, outros, felizmente, enganam-se. Uns preferem correr, outros preferem parar. Uns afastam as pedras do caminho enquanto outros se sentam a descansar em cima delas. Há quem prefira montanhas, veredas, ladeiras e o esforço de subir, há quem prefira ir de carro. Os que envelhecem a caminhar também rejuvenescem a caminhar. Uns caminham para encontrar pessoas, outros caminham para se afastar delas. Uma das maiores interrogações de quem caminha é tentar perceber de onde se veio e para onde se vai, e essa questão tem a sua resposta nos passos dados pelo meio, entre origem e destino. Por isso, Ana, meu futuro cadáver, isso que me dizes ter verificado, o trajecto para a escola e o regresso da escola terem distâncias diferentes, é apenas a tua perspicácia e a tua sageza a funcionarem, descobrindo que dar um passo é muito mais do que dar um passo. E como está a tua mãe?

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