Jorge Pardal e Joana Gonçalves fizeram da Casa d’Avó um restaurante de boas memórias

Em Aguim, município de Anadia, o casal criou um restaurante que exalta os produtos locais e as memórias. Da horta à cozinha, passando pela loiça. Abre duas vezes por semana.

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Jorge Pardal e Joana Gonçalves n’ A Casa d’Avó Quinhas Adriano Miranda / Público
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A pia onde a avó guardava o azeite é, agora, uma fonte Adriano Miranda / Público
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Jorge Pardal, de 40 anos, e Joana Gonçalves, de 38 anos, têm várias coisas em comum. A mais importante de todas é uma menina de 20 meses. A segunda será, certamente, a paixão pela cozinha e pela arte de transformar os produtos locais em pratos aprimorados. Para darem largas à sua veia gastronómica, decidiram pegar na casa da avó dele, restaurá-la e adaptá-la a restaurante. Só abre duas vezes por semana, tem uma capacidade muito limitada, mas é suficiente para Jorge e Joana colocarem “a criatividade ao serviço dos produtos”. Uma espécie de laboratório gastronómico onde o casal também vai preservando a memória de Maria da Conceição (mais conhecida como Quinhas), a antiga proprietária daquela moradia situada em Aguim, no município de Anadia, no coração da Bairrada.

Jorge é chef e professor de gastronomia na Escola de Hotelaria de Coimbra e na Escola Profissional de Cantanhede. Já Joana está ligada à engenharia electrónica e telecomunicações – também dá aulas na escola de Cantanhede , mas isso não a impediu de fazer pequenos cursos na área da cozinha em geral e da alimentação vegana. “Partilhamos esta paixão pela cozinha e sonhávamos ter o nosso projecto”, referem. Como a casa da avó Quinhas, que segundo dizem era boa cozinheira, estava inabitada desde 2015, bastou-lhes juntar um mais um.

Fizeram obras, alargaram a área da cozinha e criaram uma sala com conforto quanto baste para receber uns 20 comensais. “A ideia não era sermos um restaurante propriamente dito, mas um espaço diferenciador que marcasse pelo facto de funcionar à porta fechada e de trabalhar com produtos locais e biológicos, tantas vezes arranjados pelas senhoras daqui”, testemunham, fazendo eco dos propósitos que estiveram na base da abertura, em Setembro, da Casa d’Avó Quinhas. “Estamos numa aldeia e, nas proximidades, temos muitos produtos que queremos valorizar: a abóbora da região, a couve romanesca, os cogumelos, o peixe”, destaca Jorge, notando que isso dá “uma vontade de trabalhar completamente diferente”.

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Jorge e Joana preservam a panela para cozinhar no chão e as caçarolas em cobre da avó Quinhas ADRIANO MIRANDA / PÚBLICO

Dentro da própria área da Casa d’Avó Quintas é possível encontrar uma pequena horta e um cantinho de plantas aromáticas, que os chefs, actualmente a residir em Coimbra, fazem questão de dar a conhecer aos comensais. “Já tivemos aqui alguns workshops e é muito engraçado vermos as crianças a colherem as ervas, a sentirem os aromas, a provarem os vegetais e depois irem para a cozinha confeccionar”, notam.

A escolha dos chefs

Por norma, a Casa d’Avó Quinhas só abre à quinta-feira (ao almoço) e aos sábados (ao jantar) – excepcionalmente, pode abrir noutros dias para grupos – e apenas para quem tem reserva (926 478 866). “O contexto é não ter mercadoria armazenada, mas sim ir buscar no próprio dia e só comprar para aquela quantidade de pessoas”, apontam.

O menu fica sempre por conta dos chefs, com base nas suas memórias e vivências. Aos comensais resta escolher entre a versão de cinco momentos (29 euros) ou a de sete momentos (42 euros) – com harmonização de vinhos, ficam a 47 e 62 euros por pessoa, respectivamente. No dia em que a Fugas por lá passou, Jorge e Joana fizeram chegar à mesa, depois do pão de fermentação natural (com húmus, manjericão e manteiga com frutos secos), uma entrada de queijo, beterraba e mostarda amarela, seguida de uma proposta com abóbora hokkaido, borragem e cogumelo ostra amarelo. O quarto momento foi protagonizado por corvina, acompanhada de algas e couve toscana. Para finalizar, chocolate, cardamomo e hortelã.

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As bicicletas outrora pertencentes aos avós ADRIANO MIRANDA / PÚBLICO

Cada prato que Jorge e Joana servem merece uma peça de louça diferente, também ela idealizada pelo casal. “Trabalhámos com uma empresa de Lisboa, para criar os pratos à nossa própria imagem”, revelam.

E estando a Casa d’Avó Quinhas localizada no coração da Bairrada, Jorge e Joana não podiam descurar a questão dos vinhos, tendo desafiado o escanção Paulo Vale para se associar ao projecto. “É um grande conhecedor de vinhos e é daqui. Fazia todo o sentido tê-lo connosco, para fazer esta ligação entre a gastronomia e os vinhos”, vinca o casal.

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