Casos de sarampo devem continuar a subir em toda a Europa nos próximos meses

Alerta dos responsáveis europeus salienta a fraca cobertura de vacinação em muitos dos países afectados nos últimos meses. Portugal está entre os países com maior percentagem de crianças vacinadas.

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O sarampo, uma doença altamente contagiosa, é evitável por vacinação, afirma Andrea Ammon, directora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças Nelson Garrido
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A previsão é do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC): os casos de sarampo devem continuar a subir em toda a Europa ao longo dos próximos meses. A baixa cobertura de vacinação contra a doença é um dos principais problemas identificados pelos responsáveis europeus que temem um pico sazonal durante a Primavera.

Os dados do ECDC mostram que só em 2024 há pelo menos sete mortes de pessoas com sarampo em dois países europeus: Roménia e Irlanda. Se compararmos as primeiras cinco semanas de 2024 (ou seja, até 5 de Fevereiro) com todo o ano de 2023, os números são quase idênticos. Em 2023, registaram-se 2361 casos em 23 países europeus. No início de 2024 já há 1861 casos confirmados ou suspeitos em apenas nove países – a que se juntam as sete mortes avançadas pelo ECDC. A última morte na Europa de uma pessoa com sarampo tinha sido em 2020, segundo os dados disponibilizados pelo boletim de vigilância do organismo europeu.

“Ninguém devia morrer de sarampo”, afirma a directora do ECDC, Andrea Ammon, em comunicado. “O aumento dos casos de sarampo, uma doença altamente infecciosa, mas que pode ser prevenida com vacinação, é um alerta gritante de que todos os Estados-membros devem maximizar esforços para atingir e manter uma elevada cobertura de vacinação”, reforça. As tarefas destinadas aos países europeus neste momento são um aumento da vigilância nos cuidados de saúde e um reforço das campanhas de vacinação, sobretudo nas crianças – as duas doses da vacina tríplice (contra sarampo, papeira e rubéola) são geralmente administradas até aos cinco anos.

A perspectiva de um novo surto de sarampo à escala europeia na Primavera não é nova. Mário André Macedo, enfermeiro especialista em saúde pública do Hospital Fernando Fonseca, já tinha indicado essa possibilidade em Janeiro: “Esta Primavera podemos ter um surto de sarampo a Europa. O que acontece em Inglaterra pode ser a ponta do icebergue”, dizia ao PÚBLICO. Os britânicos detectaram mais de 200 casos de sarampo desde Outubro.

Casos cresceram 50% em todo o mundo

O sarampo é uma doença altamente contagiosa e que se transmite facilmente através do contacto directo ou de tosse e espirros. A vacinação é a fórmula mais eficaz de erradicar a doença. Porém, as taxas mais baixas de vacinação em muitos países europeus – abaixo do limiar recomendado de 95% – já demonstravam o potencial perigo de se registarem novos surtos.

Pode-se dizer que Portugal também desceu a sua cobertura vacinal, mas muito ligeiramente: entre 2020 e 2021, houve uma quebra de 99% para 98% nas crianças com uma dose da vacina e de 96% para 95% nas crianças com a vacinação completa, de acordo com os dados do ECDC. No entanto, a cobertura de vacinação de um país não vive numa ilha isolada e os casos importados têm tido um impacto no início de 2024: já foram detectados oito casos de sarampo em Portugal, dois na região de Lisboa e seis na região Norte, conforme avançou a Direcção-Geral de Saúde nesta quinta-feira.

Os dados do ECDC sobre a vacinação completa (ou seja, a toma das duas doses da vacina tríplice) são pouco animadores: apenas Portugal, Polónia, Noruega, Eslováquia e Hungria têm uma cobertura igual ou superior ao limiar mínimo dos 95%. A recusa da vacinação por associações infundadas ao autismo, o negacionismo de todas as vacinas ou a ausência de memória de casos de sarampo justificam parte do declínio nas taxas de vacinação.

“Quando há um surto de sarampo, sabemos que há uma falha nas vacinações. A vacinação protege e salva vidas”, defendeu em comunicado Stella Kyriakides, comissária europeia com a pasta da saúde.

Em todo o planeta, as mortes por sarampo aumentaram quase 50% em 2022: ou seja, houve nove milhões de pessoas infectadas com sarampo e 136 mil mortes resultantes disto (mais 43% do que em 2021).

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