José Neves sai da liderança da Farfetch, despedimentos avançam já

Fundador do primeiro “unicórnio” português sai do cargo pouco depois de a empresa ter sido resgatada pelo grupo sul-coreano Coupang. Despedimentos começam a partir de amanhã em Portugal.

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A Farfetch foi fundada por José Neves Nelson Garrido
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O empresário português José Neves, fundador da Farfetch, demitiu-se do cargo de presidente executivo (CEO) da empresa, que se dedica à venda online de produtos de moda de luxo, sediada no Reino Unido.

Conhecida como o primeiro “unicórnio” português (empresas emergentes com valor acima de mil milhões), a Farfetch foi comprada no final de 2023 pelo grupo sul-coreano Coupang, através de um resgate de 500 milhões de dólares (cerca de 465 milhões de euros ao câmbio actual), quando se encontrava insolvente e em risco de encerrar.

"Depois de cuidada ponderação, decidimos reduzir o negócio para podermos operar a partir de uma posição de força financeira", começa por dizer a nota interna a que o PÚBLICO teve acesso e que foi noticiada inicialmente pelo site The Business of Fashion. "Este processo implicou algumas decisões difíceis. Primeiro, José Neves decidiu demitir-se de CEO. Bom Kim [director-executivo da Coupang] e a equipa executiva da Farfetch irão liderar interinamente a empresa", continua a nota.

Além da saída da Neves do cargo de CEO, mantendo-se como consultor, haverá mais saídas de responsáveis da empresa, entre os quais directores que lideram as áreas financeira, de produtos, de plataformas e de operações.

"Em segundo lugar, Hélder Dias, Kelly Kowal, Edward Sabbagh, Sindhura Sarikonda, Tim Stone, Luís Teixeira, Nick Tran e Elizabeth Von der Goltz irão prosseguir outros desafios", ilustra a comunicação interna, acrescentando ainda que "este processo exige decisões difíceis para eliminar funções redundantes". Assim, "as conversas com aqueles afectados pelas redundâncias irão começar em Portugal amanhã, 16 de Fevereiro, e no Reino Unido e outras geografias, a partir de segunda-feira, dia 19", conclui.

Além de fornecer produtos de luxo pessoais na plataforma online e numa rede de lojas de venda a retalho, a Farfetch presta serviços de comércio online a boutiques de luxo, ligando as marcas aos clientes no processo logístico da compra, entrega e possível devolução dos bens.

Quando em Dezembro foi anunciado o acordo de compra pela Coupang, a administração liderada por José Neves assumia que sem a liquidez que o comprador garantia, “a Farfetch e as suas subsidiárias seriam incapazes de sobreviver como empresas”.

“O conselho de administração está desiludido com o facto de o processo [de evitar a queda a Farfetch] não ter resultado numa solução que assegure que a empresa cotada, a Farfetch Limited, se mantenha tal como está. No entanto, é com satisfação que o conselho vê que a Farfetch PCL [holding sediada no Reino Unido] conseguiu assegurar uma solução que garante a continuidade das operações nos seus negócios e que continuará a servir a rede, e as marcas, de boutiques e de consumidores que dependem do marketplace da Farfetch todos os dias”, escrevia a administração na altura.

A degradação da situação financeira da empresa levou a uma queda bolsista da empresa. O processo de resgate implicou que os investidores – onde se incluem trabalhadores com acções do grupo – perdessem os valores investidos.

Já depois de conhecido o acordo de compra pelo grupo sul-coreano, José Neves pediu desculpa aos trabalhadores pelo desfecho, confirmando que os trabalhadores iriam assumir perdas. “Lamento ter de vos informar que o resultado do caminho que vamos seguir, infelizmente, significa que os accionistas – incluindo os trabalhadores que detêm capital – não obterão qualquer valor dos seus títulos, tenham já sido adquiridos e convertidos ou não”, escreveu, numa mensagem escrita, no final de Dezembro. com Victor Ferreira

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