Bruxelas vê Europa com “retoma adiada” e confirma abrandamento em Portugal

Comissão Europeia reviu previsão de crescimento da zona euro este ano de 1,2% para 0,8%. Em Portugal, a correcção foi bastante mais moderada, mas o cenário traçado continua a ser de abrandamento.

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Paolo Gentiloni, comissário europeu para a Economia EPA/OLIVIER HOSLET
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No meio de uma conjuntura mais sombria do que se esperava para a economia europeia, a Comissão Europeia manteve praticamente sem alterações as previsões de crescimento para Portugal, apontando para um abrandamento do ritmo da actividade económica no decorrer deste ano e para uma aceleração modesta ao longo de 2025.

Nas previsões intercalares de Inverno dadas a conhecer esta quinta-feira, o executivo europeu não faz, relativamente a Portugal, mais do que pequenas correcções relativamente às previsões de Outono que tinha apresentado em meados do passado mês de Novembro. Se o crescimento económico no ano passado, que antes estimava ser de 2,2%, cifrou-se afinal em 2,3%, no que diz respeito ao desempenho da economia durante o presente ano, a Comissão está agora mais pessimista, mas apenas de forma ligeira, prevendo uma variação do PIB de 1,2%, em vez dos 1,3% antes projectados.

Em relação ao crescimento da economia portuguesa em 2025, a expectativa mantém-se nos 1,8% já esperados em Novembro.

Os números confirmam o cenário de abrandamento estimado para Portugal no decorrer deste ano, mas ainda assim significam que o país consegue escapar à forte revisão em baixa que a Comissão Europeia se viu forçada a fazer nas suas projecções para o total das economias da zona euro e da União Europeia.

No relatório publicado esta quinta-feira, a Comissão dá conta de “uma retoma adiada” na economia europeia e, por isso, para além de passar o crescimento na zona euro em 2023 de 0,6% para 0,5%, corrige a sua projecção para este ano dos 1,2% esperados em Novembro para 0,8% agora. No caso da União Europeia, a revisão das perspectivas de crescimento este ano é de 1,3% para 0,9%.

Bruxelas assinala que a economia europeia “entrou em 2024 de uma forma mais fraca do que aquilo que era esperado” e que “depois de, por pouco, evitar uma recessão técnica na segunda metade do ano passado, as perspectivas para o primeiro trimestre de 2024 continuam a ser baixas”.

A maior economia da UE, a Alemanha, destaca-se pela negativa, já que, depois da contracção de 0,3% registada no PIB em 2023, viu a sua previsão de crescimento em 2024 passar de 0,8% em Novembro para apenas 0,3%.

Já no que diz respeito a Portugal, o final do ano passado acabou por surpreender pela positiva, com o crescimento em cadeia de 0,8% registado no último trimestre de 2023, o que pode explicar o facto de o país escapar à revisão em baixa das previsões que é feita para o total da economia europeia.

No entanto, as expectativas continuam a ser de um crescimento mais lento no arranque deste ano. “Devido à procura fraca dos principais parceiros comerciais, prevê-se que o crescimento económico se mantenha limitado no início de 2024, recuperando mais tarde, mas de forma gradual”, afirma o relatório.

A Comissão Europeia antecipa ainda que, em Portugal, “o consumo privado deverá beneficiar de um aumento regular do emprego e dos salários, que compensam largamente as despesas mais altas das famílias com o pagamento de juros”. Ao mesmo tempo, no que diz respeito ao investimento, a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência deverá ajudar.

O problema estará, por isso, no contributo da procura externa, com a Comissão a prever que “as importações cresçam mais rapidamente que as exportações”.

As boas notícias, tanto para a Europa como para Portugal, vêm, nestas projecções, dos preços. A Comissão Europeia antecipa que a inflação continue a apresentar uma trajectória descendente e que, em particular, a descida dos preços da energia permita à economia europeia recuperar alguma da competitividade perdida.

Gentiloni elogia aumento do emprego

Na conferência de imprensa em que apresentou as novas previsões, o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Paolo Gentiloni fez questão de salientar que o abrandamento que se prevê para Portugal não representa uma preocupação particular, uma vez que se relaciona com o “abrandamento em toda a região”. Portugal “ainda está a crescer a um ritmo forte”, assinalou, em declarações citadas pela Lusa.

“É claro que os desafios existem, mas vemos em Portugal um crescimento sólido do emprego e, no quadro geral, […] o facto de a União Europeia ter evitado a recessão é positivo, assim como o facto de alguns países como Portugal continuarem a registar um elevado nível de crescimento [da economia]”, disse o comissário.

De acordo com os dados publicados pelo INE na semana passada, Portugal terminou o ano de 2023 com um total de 4980 mil empregos, ligeiramente abaixo da barreira dos cinco milhões que tinha conseguido superar pela primeira vez no terceiro trimestre. Em relação ao final de 2022, o número de empregos em Portugal registou uma subida de 90 mil.

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