“Quero cumprir castigo pelo crime que cometi.” Arranca julgamento por homicídio junto ao Dragão

Igor Silva morreu junto ao estádio do FC Porto, nos momentos dos festejos do título em 2022. Renato Gonçalves, principal suspeito, admitiu crime e pediu desculpa à família da vítima.

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Igor Silva morreu junto ao estádio do FC Porto, nos momentos dos festejos do título em 2022 Nelson Garrido
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“Queria pedir desculpa aos familiares do Igor e a todos os envolvidos. Quero cumprir o castigo pelo crime que cometi. Que se faça justiça.” Foi desta forma que arrancou o julgamento do caso da morte de Igor Silva, jovem assassinado junto ao Estádio do Dragão, em Maio de 2022. Entre os arguidos está Marco Gonçalves, membro influente dos Super Dragões, e o filho deste, Renato Gonçalves. Foi precisamente este o primeiro arguido a ser ouvido esta quinta-feira, no arranque do julgamento.

Na parte da manhã da sessão, que será retomada a partir das 14h, Renato enquadrou o relacionamento com Igor Silva antes do encontro fatal. Disse que a vítima tinha-o agredido numa discoteca, à irmã na Queima das Fitas e ao pai no Estádio da Luz. A personalidade violenta de Igor, asseverou, era conhecida pela generalidade das pessoas: Ele era assim, batia em toda a gente: mulheres, homens, crianças, velhos.

Marco Gonçalves estava visivelmente emocionado, chorando no momento de se identificar perante o colectivo de juízes. Horas antes do esfaqueamento, o membro da claque dos Super Dragões desentendeu-se com Igor Silva nas bancadas do Estádio da Luz, com Renato a dizer que temeu pela segurança durante o jogo que confirmaria a conquista do título dos dragões.

Vi uma confusão e reparei logo que era o meu pai no chão e o Igor por cima. Estavam a trocar socos. Depois disse que matava o meu pai ou fora do estádio ou no Porto. Estive de costas para o relvado o jogo todo, a ver se aparecia alguma coisa, relembra.

Segurança reforçada

Há um forte contingente policial destacado para este julgamento, com quase duas dezenas de agentes presentes na sala de audiência. Os arguidos em prisão preventiva estão rodeados pela força especial de polícia, com a presença do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP).

A audiência começou apenas às 11h30, depois de vários requerimentos apresentados pelos advogados dos arguidos. O objectivo final, adiar o arranque do julgamento, não foi conseguido, com a juíza responsável pelo caso a dar início à sessão.

Perante a inflexibilidade da juíza, quase dois anos após o homicídio de Igor Silva, começam a ser julgados os membros dos Super Dragões que o Ministério Público culpa pela morte de Igor Silva. Do grupo de sete arguidos, Marco Gonçalves (conhecido pela alcunha “Orelhas”) é o mais mediático, juntando-se a ele o filho, Renato Gonçalves, e ainda um cunhado, Paulo “Chanfras”. Estes três arguidos estão em prisão preventiva desde Junho de 2022, data em que foram detidos.

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Mancha de sangue no pavimento, no dia seguinte à morte Paulo Pimenta

Igor Silva morreu a 8 de Maio de 2022, poucas horas após o FC Porto ter conquistado o título nacional no Estádio da Luz. Nos meses que antecederam o homicídio, vítima e arguidos tinham protagonizado mais do que uma vez episódios de violência, com provocações e ameaças constantes.

No estádio do Benfica, ainda antes da entrada das equipas, Igor Silva foi agredido por Marco Gonçalves, conseguindo, contudo, levar a melhor na luta corpo a corpo. Humilhado perante os colegas de claque, Marco Gonçalves, juntamente com o filho terão planeado a vingança no Porto. Armado com uma faca, Renato Gonçalves terá esfaqueado Igor 18 vezes, com os restantes arguidos a agredir Igor Silva e a impedir a fuga deste. O crime aconteceu na Alameda do Dragão, num momento em que os jogadores festejavam com os adeptos “azuis e brancos”.

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