Missão privada descola para marcar regresso dos Estados Unidos à Lua (50 anos depois)
A empresa Intuitive Machines viu o seu módulo lunar entrar esta manhã no espaço - em direcção à Lua. As últimas três tentativas de empresas privadas pousarem na Lua não foram bem-sucedidas.
Um módulo lunar da empresa norte-americana Intuitive Machines foi lançado esta manhã da Florida (Estados Unidos) numa missão para ser a primeira alunagem dos Estados Unidos em mais de meio século – e a primeira feita por uma empresa privada.
O módulo Nova-C, apelidado de Odysseus, descolou pouco depois das 6h (hora de Portugal continental) acoplado a um foguetão Falcon 9 de dois andares, da SpaceX de Elon Musk, lançado desde o Centro Espacial Kennedy da NASA, no Cabo Canaveral (Florida).
A transmissão em directo da NASA e da SpaceX mostrou o foguetão a abandonar a plataforma de lançamento e disparar em direcção ao céu escuro da costa atlântica da Florida, deixando para trás uma nuvem de fumo amarelada e ardente.
Cerca de 48 minutos após o lançamento, o módulo de pouso de seis pernas foi liberado do andar superior do Falcon 9 – estávamos já 220 quilómetros acima da Terra e o Odysseus afastava-se em direcção à Lua.
“Separação do módulo lunar IM-1 Odysseus confirmada”, afirmou um dos controladores da missão ouvido na transmissão.
Momentos depois, o centro de operações da missão, em Houston (Estados Unidos), recebeu os primeiros sinais de rádio de Odysseus quando o módulo de pouso iniciou um processo automático de ligar os seus sistemas e orientar-se no espaço.
Apesar de ser uma missão da empresa Intuitive Machines, o voo IM-1 transporta seis cargas de instrumentos da NASA criados para recolher dados sobre o ambiente lunar antes do regresso planeado dos astronautas à Lua através da NASA – previsto para o final desta década.
Primeiro desde 1972
O lançamento desta quinta-feira surge um mês depois de outro módulo lunar privado ter sido lançado pela empresa Astrobotic. O módulo teve uma fuga no sistema de propulsão a caminho da Lua logo após a entrada em órbita, a 8 de Janeiro.
O fracasso deste módulo Peregrino da Astrobotic, que também levava cargas da NASA para a Lua, marcou a terceira vez que uma empresa privada não conseguiu uma “alunagem suave” na superfície lunar, após as tentativas falhadas de empresas de Israel e Japão nos últimos anos.
Estes contratempos ilustram os riscos que a NASA enfrenta ao ter um maior apoio no sector empresarial do que no passado para realizar os seus voos espaciais.
Os planos em marcha prevêem que Odysseus chegue ao seu destino, a Lua, após uma semana de voo, com uma alunagem prevista para 22 de Fevereiro perto da cratera Malapert A, no pólo Sul da Lua.
Se for bem-sucedido, este voo será a primeira alunagem controlada de um objecto espacial norte-americano desde a última missão lunar tripulada da Apolo, em 1972. O feito seria também a primeira viagem à superfície da Lua durante o programa Ártemis da NASA, num período em que os Estados Unidos querem colocar astronautas no satélite natural da Terra antes que a China consiga pousar lá a sua própria nave espacial tripulada.
Mais duas missões este ano
O IM-1 é o mais recente teste da estratégia da NASA de pagar pela utilização de naves espaciais construídas por empresas privadas para reduzir o custo das missões Ártemis, criadas com o intuito de serem as precursoras da exploração humana de Marte. Em sentido contrário, durante a era Apolo, a NASA comprou foguetões e outras tecnologias ao sector privado, mas era a dona e responsável pela operação dos mesmos.
No último mês, a agência espacial norte-americana anunciou o atraso da data prevista para o primeiro pouso tripulado da Ártemis na Lua, de 2025 para o final de 2026, enquanto a China refere que o seu objectivo é 2030.
Espera-se que pequenas sondas, como esta Nova-C, cheguem primeiro à Lua, transportando instrumentos relevantes para examinar de perto a paisagem lunar, os seus recursos e potenciais perigos. O Odysseus vai-se concentrar nas interacções do clima espacial com a superfície da Lua, em radioastronomia, bem como tecnologias de alunagem, precisão e navegação no satélite natural terrestre.
A missão IM-2 da Intuitive Machines está programada para pousar no pólo Sul da Lua em 2024, seguida da missão IM-3 no final deste mesmo ano com vários pequenos robôs.
Em Janeiro deste ano, o Japão tornou-se o quinto país a colocar uma sonda espacial na Lua, com a sua agência espacial (JAXA) a conseguir uma aterragem exacta da sonda SLIM. No ano passado, a Índia já se tinha tornado a quarta nação no mundo a chegar à Lua, no mesmo mês em que a Rússia falhou a tentativa de regresso às conquistas espaciais.
China, Estados Unidos e a antiga União Soviética são os outros três países que já tiveram alunagens bem-sucedidas. A China conquistou um recorde em 2019, com o primeiro módulo a pousar no lado “oculto” da Lua – algo sem precedentes.