Missão privada descola para marcar regresso dos Estados Unidos à Lua (50 anos depois)

A empresa Intuitive Machines viu o seu módulo lunar entrar esta manhã no espaço - em direcção à Lua. As últimas três tentativas de empresas privadas pousarem na Lua não foram bem-sucedidas.

marte,ciencia,china,nasa,industria-aeroespacial,espaco,
Fotogaleria
A missão do módulo Odysseus é liderada pela empresa Intuitive Machines JOE SKIPPER/REUTERS
marte,ciencia,china,nasa,industria-aeroespacial,espaco,
Fotogaleria
A descolagem do foguetão Falcon 9 com o módulo lunar acoplado JOE SKIPPER/REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:21

Um módulo lunar da empresa norte-americana Intuitive Machines foi lançado esta manhã da Florida (Estados Unidos) numa missão para ser a primeira alunagem dos Estados Unidos em mais de meio século – e a primeira feita por uma empresa privada.

O módulo Nova-C, apelidado de Odysseus, descolou pouco depois das 6h (hora de Portugal continental) acoplado a um foguetão Falcon 9 de dois andares, da SpaceX de Elon Musk, lançado desde o Centro Espacial Kennedy da NASA, no Cabo Canaveral (Florida).

A transmissão em directo da NASA e da SpaceX mostrou o foguetão a abandonar a plataforma de lançamento e disparar em direcção ao céu escuro da costa atlântica da Florida, deixando para trás uma nuvem de fumo amarelada e ardente.

Cerca de 48 minutos após o lançamento, o módulo de pouso de seis pernas foi liberado do andar superior do Falcon 9 – estávamos já 220 quilómetros acima da Terra e o Odysseus afastava-se em direcção à Lua.

“Separação do módulo lunar IM-1 Odysseus confirmada”, afirmou um dos controladores da missão ouvido na transmissão.

Momentos depois, o centro de operações da missão, em Houston (Estados Unidos), recebeu os primeiros sinais de rádio de Odysseus quando o módulo de pouso iniciou um processo automático de ligar os seus sistemas e orientar-se no espaço.

Apesar de ser uma missão da empresa Intuitive Machines, o voo IM-1 transporta seis cargas de instrumentos da NASA criados para recolher dados sobre o ambiente lunar antes do regresso planeado dos astronautas à Lua através da NASA – previsto para o final desta década.

Primeiro desde 1972

O lançamento desta quinta-feira surge um mês depois de outro módulo lunar privado ter sido lançado pela empresa Astrobotic. O módulo teve uma fuga no sistema de propulsão a caminho da Lua logo após a entrada em órbita, a 8 de Janeiro.

O fracasso deste módulo Peregrino da Astrobotic, que também levava cargas da NASA para a Lua, marcou a terceira vez que uma empresa privada não conseguiu uma “alunagem suave” na superfície lunar, após as tentativas falhadas de empresas de Israel e Japão nos últimos anos.

Estes contratempos ilustram os riscos que a NASA enfrenta ao ter um maior apoio no sector empresarial do que no passado para realizar os seus voos espaciais.

Foto
O módulo lunar privado foi lançado na manhã desta quinta-feira Joe Skipper/Reuters

Os planos em marcha prevêem que Odysseus chegue ao seu destino, a Lua, após uma semana de voo, com uma alunagem prevista para 22 de Fevereiro perto da cratera Malapert A, no pólo Sul da Lua.

Se for bem-sucedido, este voo será a primeira alunagem controlada de um objecto espacial norte-americano desde a última missão lunar tripulada da Apolo, em 1972. O feito seria também a primeira viagem à superfície da Lua durante o programa Ártemis da NASA, num período em que os Estados Unidos querem colocar astronautas no satélite natural da Terra antes que a China consiga pousar lá a sua própria nave espacial tripulada.

Mais duas missões este ano

O IM-1 é o mais recente teste da estratégia da NASA de pagar pela utilização de naves espaciais construídas por empresas privadas para reduzir o custo das missões Ártemis, criadas com o intuito de serem as precursoras da exploração humana de Marte. Em sentido contrário, durante a era Apolo, a NASA comprou foguetões e outras tecnologias ao sector privado, mas era a dona e responsável pela operação dos mesmos.

No último mês, a agência espacial norte-americana anunciou o atraso da data prevista para o primeiro pouso tripulado da Ártemis na Lua, de 2025 para o final de 2026, enquanto a China refere que o seu objectivo é 2030.

Espera-se que pequenas sondas, como esta Nova-C, cheguem primeiro à Lua, transportando instrumentos relevantes para examinar de perto a paisagem lunar, os seus recursos e potenciais perigos. O Odysseus vai-se concentrar nas interacções do clima espacial com a superfície da Lua, em radioastronomia, bem como tecnologias de alunagem, precisão e navegação no satélite natural terrestre.

A missão IM-2 da Intuitive Machines está programada para pousar no pólo Sul da Lua em 2024, seguida da missão IM-3 no final deste mesmo ano com vários pequenos robôs.

Em Janeiro deste ano, o Japão tornou-se o quinto país a colocar uma sonda espacial na Lua, com a sua agência espacial (JAXA) a conseguir uma aterragem exacta da sonda SLIM. No ano passado, a Índia já se tinha tornado a quarta nação no mundo a chegar à Lua, no mesmo mês em que a Rússia falhou a tentativa de regresso às conquistas espaciais.

China, Estados Unidos e a antiga União Soviética são os outros três países que já tiveram alunagens bem-sucedidas. A China conquistou um recorde em 2019, com o primeiro módulo a pousar no lado “oculto” da Lua – algo sem precedentes.