Pedro Nuno tenta colar Ventura ao PSD e recebe o epíteto de “candidato amnésia”

Socialista diz que “Justiça está a funcionar”, mas líder do Chega acusa-o de não querer combater a corrupção. Adversários acusam-se mutuamente de mentiras e de terem programas sem soluções.

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PS e Chega trocam acusações de falsidades e falta de propostas José Alves
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Foi um debate muito acalorado, centrado na Justiça, Saúde, Habitação e impostos – com mais tempo a criticar o opositor do que a falar das próprias propostas , com acusações mútuas de mentiras e termos menos próprios para dois altos políticos: Pedro Nuno Santos e André Ventura, que se enfrentaram pela primeira vez, mostraram que têm uma visão totalmente oposta sobre o país e sobre como resolver os problemas.

O líder do PS procurou, sucessivamente, vincar que o programa do Chega não traz soluções”, nem nada de novo”, mas sim falsidades, faz de conta e as medidas são irrealizáveis, numa tentativa de dar tudo a todos e que Ventura faz a “ilusão de enganar as pessoas. O presidente do Chega classificou Pedro Nuno de ser o rosto do maior falhanço do Governona Saúde – quando era ministro das Infra-Estruturas –, disse que é impreparado para ser primeiro-ministro e o seu programa é uma mão-cheia de nada. Isto, para além dos epítetos de candidato amnésia, ministro trapalhadas e até frouxo.

O debate começou pela Justiça, motivado pela libertação dos detidos da operação da Madeira nesta quarta-feira, depois de 21 dias de detenção. Pedro Nuno não quis comentar o caso concreto, lembrando que foi a atitude que também teve com a Operação Influencer, mas alegou que esse longo prazo terá sido aquele de que o juiz precisou para decidir com segurança.

Defendeu que todos os casos de corrupção são preocupantes, mas isto mostra que a Justiça está a funcionar e que o combate tem agora mais meios embora seja necessário continuar a reforçá-los. A percepção sobre o fenómeno cresceu, mas não a corrupção em si, defendeu o dirigente socialista.

Recusou o aumento de penas (com que Ventura o desafiou a dizer se concorda), alegou que o confisco e apreensão de bens que o Chega propõe já são hoje instrumentos legais a que a Justiça recorre em 2022 foram arrestados 37 milhões de euros e confiscados 13 milhões de euros , e até lembrou que o deputado do Chega faltou à votação de um pacote de medidas anticorrupção no Parlamento, em 2021, preferindo estar num encontro de líderes europeus da extrema-direita. Não traz nada de novo, repetiu várias vezes e não respondeu sobre se é ou não necessária uma reforma da Justiça.

O líder do Chega insistiu nas suas propostas de reforço das penas e confisco de bens no início do processo para evitar casos como o de Manuel Pinho, que voltou a ter acesso à pensão e para que os Ricardos Salgado desta vida não fiquem nos seus palácios, e citou o director da PJ de que só se confisca 1% a 3% do possível. Pedro Nuno Santos prefere não fazer nada no combate à corrupção, acusou, acrescentando que o PSD também nunca teve coragem para fazer esta reforma. O programa do PS é como o Melhoral, não faz bem nem faz mal, disse Ventura, que mais à frente acusou o socialista de ser frouxo no combate à corrupção.

Sobre a limitação de recursos nos tribunais que o Chega propõe para evitar situações como os 30 recursos de José Sócrates envolveram-se numa discussão, depois de Pedro Nuno ter dito que Ventura já foi condenado por difamação (na verdade, por segregação racial) e pôde recorrer e bem por ser um direito. Nunca fui condenado criminalmente, repetiu o líder do Chega, mas o socialista especificou: por difamação, por ter chamado bandidos a residentes no Bairro da Jamaica.

Nesta campanha temos o SNS em risco

Na Saúde, Ventura pediu incentivos salariais e fiscais para os profissionais, lembrou que os privados já assumem 40% do trabalho; Pedro Nuno teve de dar um passo atrás e corrigir a medida do seu programa sobre o tempo mínimo para permanência para os médicos, afirmando que terá de ser negociado com os sindicatos, tal como reconheceu que o SNS tem problemas.

Acusou o Chega de querer desistir do SNS e ter apenas um sistema de saúde que canaliza o dinheiro e investir no negócio privado, como a receita da IL e da AD. Nesta campanha temos o SNS em risco, avisou o líder do PS, extremando o discurso. Ventura haveria de lhe chamar candidato amnésia” e de o acusar de querer impor uma medida estalinista.

André Ventura quer tudo: já quis extinguir o Ministério da Educação, o da Saúde, e acabar com o cargo de primeiro-ministro. As posições do Chega não são para levar a sério. Tem a opinião do momento que lhe serve. Não tem programa credível do ponto de vista financeiro, apontou Pedro Nuno.

Nos impostos, digladiaram-se sobre quanto valem as propostas de redução fiscal e aumento das pensões do Chega, sem haver um número certo. O Chega baixa ou acaba com impostos; tem respostas para toda a gente. Isto não é para levar a sério. O aumento de pensões são 9000 milhões todos os anos; obviamente que é impossível, contabilizou o socialista, que diz que Ventura já começou a recuar, ao dizer, em entrevista ao PÚBLICO que isso só será possível se a economia crescer entre 3% e 5%.

Os cálculos de Ventura são diferentes: a subida das pensões mínimas até ao salário mínimo e a descida de diversos impostos representam 10 mil milhões de euros, sendo as pensões o equivalente anual a 1,3% do PIB. Pedro Nuno replicou que o líder do Chega está preocupado em enganar as pessoas com um projecto para o qual não tem solução; Ventura foi buscar o chavão de que está preocupado com os idosos que não têm dinheiro para medicamentos.

“Até o parceiro que tanto deseja não o leva a sério”

O secretário-geral do PS procurou colar Ventura ao PSD, apontando que apoiou Passos quando este cortou salários e pensões ou os polícias protestavam em 2013, assim como os professores. E acusou-o de ser um político a tentar subir no sistema com um programa cheio de falsidades e de irresponsabilidade financeira, que até o parceiro que tanto deseja [PSD] não o leva a sério.

Novo tema, velhas acusações. Também na Habitação o PS promete uma mão-cheia de nada, repete Ventura, desvalorizando a medida dos 50 euros de dedução das rendas no IRS. Pedro Nuno corrige-o para 200 euros e também acusa o concorrente de mentir por este dizer que houve uma injecção de 9000 milhões na CP. Números que Ventura usa para lhe chamar “ministro trapalhadas, somando o facto de “dirigir a TAP por WhatsApp.

Pedro Nuno defende-se: lançou o maior plano de investimento público em habitação na democracia, mas o problema demora. E explora as incoerências de Ventura, alegando que os benefícios fiscais mostraram não ter efeito, mas são esses que quer; que os “vistos gold” contribuíram para a crise do mercado e Ventura quer reintroduzi-los.

No final, Pedro Nuno quis saber quem deu a Ventura a garantia total de que haverá um governo de direita com ou sem Luís Montenegro. O líder do Chega respondeu, recusando jogos de bastidores: Não tenho de lhe dar nomes, porque você não é de direita, nem interlocutor. Ainda se ouviu Pedro Nuno: “Por isso anda a mendigar uma aliança...”

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