Associação José Afonso recorda Alípio de Freitas com um filme e uma sessão musical
O filme A Causa e a Sombra e uma sessão musical com Luanda Cozzetti e Bruno Fonseca marcam o 95.º aniversário de Alípio de Freitas (1929-2017). Sábado, na AJA em Lisboa.
No exacto dia em que Alípio de Freitas (1929-2017) completaria 95 anos, a Associação José Afonso, da qual chegou a ser presidente, dedica-lhe uma sessão comemorativa. É este sábado, dia 17, pelas 17h, na sede do seu núcleo em Lisboa (na Rua de São Bento 170, muito perto da Assembleia da República) e conta com a exibição de um filme sobre a vida de Alípio, A Causa e a Sombra (2015), de Tiago Afonso, e com um momento musical a cargo de Luanda Cozetti (vocalista do duo Couple Coffee e filha de Alípio) e de Bruno Fonseca (viola).
Nascido Alípio Cristiano de Freitas em Bragança, no dia 17 de Fevereiro de 1929, Alípio foi ordenado padre em 1952, mantendo estreita ligação com as camadas mais pobres. Foi pároco de Guadramil e Rio de Onor, exercendo depois o sacerdócio no Brasil, no Maranhão, para onde foi também leccionar, a convite do arcebispo local. O seu envolvimento na política brasileira, participando em protestos públicos e juntando-se às Ligas Camponesas, ao lado de Francisco Julião. Isso valeu-lhe ser sequestrado pelo exército durante cinquenta dias e, após o golpe militar de 1964, ser de novo preso e torturado, tempos que recordou no livro Resistir é Preciso, editado originalmente no Brasil pela Record, em 1981, e lançado em Portugal em 2017 pela Âncora.
O agravamento da situação política no Brasil devido à ditadura levou-o a exilar-se no México e a receber treino militar em Cuba, integrando depois movimentos guerrilheiros na América Latina. O período em que esteve de novo preso pelo regime militar brasileiro, de 1970 a 1979, foi retratado por José Afonso (que não o conhecia pessoalmente) numa canção a que deu o seu nome. Assim: “Baía da Guanabara/ Santa Cruz na fortaleza/ está preso Alípio de Freitas/ Homem de grande firmeza”. A canção, Alípio de Freitas, foi gravada em 1976 no disco Com as Minhas Tamanquinhas, mas só anos mais tarde os dois viriam a conhecer-se e a estabelecer amizade.
Libertado no dia 17 de Fevereiro de 1979, dia em que completava 50 anos, Alípio viria depois a trabalhar em Moçambique, em projectos agrícolas, voltando a Portugal em 1984 (três anos antes de José Afonso morrer), onde foi jornalista na RTP durante dez anos (até 1994) e exerceu cargos em diversas associações, recebendo em 1996 a condecoração de Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Portuguesa. O envolvimento em guerrilhas, no combate a regimes ditatoriais, não lhe diluiu o traço humanista que desde sempre marcou a sua personalidade. Repousa agora na vila de Alvito, onde viveu e à qual se dedicou.