Água: armazenamento das albufeiras aumenta, mas continua desigual no país após Janeiro quente
Volume de água retido nas 81 albufeiras públicas nacionais entre 1 de Janeiro e 12 de Fevereiro aumentou com a chuva intensa. Mantém-se, contudo, o contraste nas reservas do Norte e do Sul do país.
Hipólito, Irene e Karlota, as três depressões que atravessaram o território desde o início de Janeiro, deixaram nas albufeiras públicas portuguesas, até 12 de Fevereiro, mais 866 hectómetros cúbicos (hm3) de água. E enquanto a chuva ajudou a aumentar as reservas de água, o calor de Inverno atípico fez do mês de Janeiro de 2024, em Portugal continental, o terceiro mais quente desde 1931 e o mais quente dos últimos 58 anos.
O volume total retido nas reservas de água é agora de 10.611hm³, 80% da capacidade máxima de armazenamento que é de 13.299hm³, mas o contraste entre o Norte e o Sul do país continua a marcar o território. A norte do Tejo apenas três albufeiras estão abaixo dos 50% (Guilhofrei com 45%, Lagoacho com 34% e Vale de Rossim com 37%), mas a sul daquele rio o número sobe para 15. No Algarve persiste a escassez de água nas seis albufeiras públicas que asseguram o abastecimento de toda a região. De uma capacidade máxima de armazenamento de 445.925hm3, as barragens algarvias estão reduzidas a 142.679hm3 (32%).
Das quatro albufeiras que continuam no vermelho, apenas Campilhas registou um aumento de volume com algum significado: no início de Janeiro, era de 1967 milhões de metros cúbicos (7%), mas a 12 de Fevereiro concentrava 4832 milhões de metros cúbicos (18%) de água. As albufeiras de Monte da Rocha (11%), Arade (16%) e Bravura (11%) apresentavam uma subida residual, mantendo-se a situação crítica que tem destacado estas albufeiras por falta de água.
Reforço para garantir regadio
Numa das mais problemáticas reservas de água a nível nacional, a albufeira de Santa Clara, também se assinala uma melhoria que pode vir a garantir o regadio das culturas, quando já se procede também a trabalhos para concretizar a captação de água a níveis mais baixos. A precipitação acumulada desde o início do ano reforçou o armazenamento desta barragem em quase 9 milhões de metros cúbicos, sensivelmente o volume de água consumido pela rega em 2023.
E em Alqueva o volume de água acumulada na sua albufeira é 3489hm3 (84%) da sua capacidade máxima de enchimento. Este valor vai continuar a subir nos próximos dias. Observa-se um substancial aumento no débito de água vindo de Espanha (245 metros cúbicos por segundo às 22h de ontem) e também dos afluentes do rio Guadiana em território português.
A 12 de Fevereiro e comparativamente com o boletim anterior (de 5 de Fevereiro) verificou-se o aumento do volume armazenado em 13 bacias hidrográficas e a diminuição em duas. Das albufeiras monitorizadas, 51% apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 15% têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
Os armazenamentos na primeira quinzena de Fevereiro, por bacia hidrográfica, apresentam-se superiores às médias de armazenamento do mês de Fevereiro, observado no período entre 1990/91 e 2022/23, excepto para as bacias do Ave, Sado, ribeiras da costa do Alentejo, Mira, Arade e ribeiras do barlavento e sotavento algarvio.
As chuvas intensas transportadas, primeiro pela depressão Hipólito e depois pela depressão Irene, deixaram nas 81 barragens monitorizadas pelo Serviço Nacional de Informação e Recursos Hídricos (SNIRH), entre 17 e 23 de Janeiro, um acréscimo global de 958 hectómetros cúbicos nos volumes de água armazenados, seguido de um decréscimo de 245hm3 registado a 5 de Fevereiro.
Com a chegada da depressão Karlota, a 8 de Fevereiro, as 81 albufeiras públicas registaram um aumento de 147hm3. Entre subidas e descidas nos volumes armazenados entre 1 de Janeiro (9755hm3) e 12 de Fevereiro, os débitos entrados nas albufeiras trazidos pelos vários temporais acrescentaram um volume de afluência de 866hm3. Comparando o valor verificado em igual período de 2023, a água então armazenada era de 10.614hm3, volume praticamente idêntico ao actual (10.611hm3).
Mais água, menos seca, mas também mais calor
Ao aumento das reservas hídricas portuguesas e ao encharcamento dos solos soma-se uma situação anómala para a época de Inverno: as elevadas temperaturas que continuam a ser registadas. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) salienta uma diminuição da situação de seca meteorológica em Janeiro na região sul, mas no sotavento algarvio persiste um cenário de seca moderada.
Os dados que o IPMA reporta a 31 de Janeiro referem que 20% do território estava em seca meteorológica, enquanto no final de Dezembro essa percentagem era superior a 38% e abrangia a zona centro e o Sul de Portugal continental. Este quadro estendia-se para sul do distrito de Setúbal e aos distritos de Beja e Faro, embora com uma intensidade inferior a Dezembro. Apenas o sotavento algarvio se mantinha em seca moderada.
Em Portugal continental e no final de Janeiro verificou-se uma diminuição da seca moderada de 16,2% em Dezembro para 2% em Janeiro e também uma descida nos valores da seca fraca de 21,4% para 18,3%, chuva moderada de 19,5% para 8,2% e chuva severa de 0,5% para 0,3%. No fim do último mês, em 36,6% do território nacional a precipitação atmosférica foi moderada e em 34,6% considerada normal.
Os dados do boletim climatológico do IPMA indicam também que o mês de Janeiro foi “extremamente quente” em relação à temperatura do ar e chuvoso em relação à chuva. Com efeito, o mês de Janeiro de 2024, em Portugal continental, foi o terceiro mais quente desde 1931 e o mais quente dos últimos 58 anos.
Em território espanhol, o Ministério da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico (Miteco) salienta que a temperatura do ar superou a que foi registada em Janeiro de 2016 em 0,4 graus Celsius. Com uma temperatura média no território peninsular de 8,4°C, o último mês foi extremamente quente e húmido, 0,8°C mais quente do que o normal desde 1961, no Sul e no centro da península.
Os três rios internacionais Douro, Tejo e Guadiana registaram uma subida nos níveis de armazenamento. A 1 de Janeiro o Douro acumulava 1690,00hm3 (59,2% da sua capacidade) e a 12 Fevereiro mais 9,3%, chegando a 1956,00hm3 (68,5%); no mesmo período o Tejo engordou de 6525,62hm3 (59,05%) para 7727,2hm3 (69,92%), representando uma subida de 10,87%. Por fim, o rio Guadiana registou o menor aumento, mas ainda assim teve uma subida no nível de armazenamento de 7,8%, passando de 2496,2hm3 (26,3%) a 1 de Janeiro para 3240,4hm3 (34,1%) a 12 de Fevereiro.