Miguel Calhaz continua do Contra, agora para celebrar canções do 25 de Abril
O cantor e contrabaixista Miguel Calhaz retoma o seu projecto Contra, a voz de contrabaixo, em Contra Cantos, um disco com canções escolhidas para celebrar o 25 de Abril.
Ao quarto álbum, o músico, compositor, cantor, contrabaixista e professor de jazz Miguel Calhaz dá-nos a ouvir, em voz e contrabaixo, dezasseis canções de um repertório que se cruza com o quase cinquentenário 25 de Abril. São canções de Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias, a que Miguel se entregou como se entregara ao cancioneiro tradicional português no seu trabalho anterior, Contra: Contemporânea Tradição, que em 2023 se estreou no Festival MED, em Loulé. O novo disco, Contra Cantos, Vol. 1, já está nas plataformas digitais e sairá também em CD.
Nascido em 1973, na Sertã, Miguel Calhaz lançara, antes, dois álbuns em nome próprio, Estas Palavras (2012) e vozCONTRAbaixo (2017). Distinguido com o Prémio José Afonso no 3.º Festival Cantar Abril, em 2011 (tema original), o Prémio Adriano Correia de Oliveira em 2013 (melhor recriação) e o Prémio Ary dos Santos em 2013 e 2015 (melhor letra), integrou, como cantor e contrabaixista, o quinteto Inquiet’Ensemble, que publicou um CD só com versões de canções de José Mário Branco, intitulado Que Dia É Hoje? (2022).
Neste novo álbum, Miguel Calhaz interpreta canções de Sérgio Godinho como Espalhem a notícia, As horas extraordinárias e Lá em baixo, a par de outras dos repertórios de Adriano Correia de Oliveira (As mãos, Erguem-se muros, Canção com lágrimas), José Afonso (Maio maduro Maio, Era um redondo vocábulo, Epígrafe para a arte de furtar, Tu gitana), José Mário Branco (Mariazinha, Travessia do deserto, Eu vi este povo a lutar (Confederação)) e Fausto Bordalo Dias (Porque não me vês, Por este rio acima, Porque me olhas assim).
De entre as canções que trabalhou para este primeiro volume, houve uma que constituiu, para ele, um desafio maior na adaptação: “Confesso que o Por este rio acima me deu muito trabalho. Embora fosse um tema que eu conhecia muito bem e que ouvia repetidamente nas minhas viagens, a grande dificuldade foi tentar transportá-lo para uma linguagem só de voz e contrabaixo. Fazer percussões, fazer harmónicos, para que não faltasse nada dos elementos fundamentais da música e tentando sempre, como tem sido meu apanágio, não desvirtuar o original, aquilo que é a sua matriz, a sua origem. Tento, sim, dar-lhe a minha visão.”
A escolha não foi fácil, diz Miguel Calhaz ao PÚBLICO: “Alguns dos temas já tinham sido pensados, tendo em conta a praticabilidade dessas músicas nesta singularidade de tocar em contrabaixo e cantar ao mesmo tempo. Foi o caso da Travessia do deserto, um tema muito calmo do José Mário Branco, ou de Era um redondo vocábulo, que eu já tinha feito noutras andanças. Mas o repertório destes autores é tão apaixonante e tão significativo, que torna a escolha muito difícil. Daí que eu tenha dado a este título o subtítulo de Vol. 1, porque há tanto nesta terra que ainda está por fazer, como diria o José Mário Branco…”
Isso pressupõe que, entre os seus próximos projectos, Miguel Calhaz se veja já a trabalhar num Vol. 2. “Sim, quero continuar com este registo”, confirma. “Para homenagear estes cantautores que tanto deram à nossa música, à cultura do nosso país, e que tanto lutaram para que valores fundamentais continuem a existir no nosso mundo.” Não só. Há um outro projecto que Miguel Calhaz acalenta: “Quero fazer um disco de originais, também neste registo de voz e contrabaixo. Deverá chamar-se Contra Factos… Não há Argumentos”.
O álbum Contra Cantos Vol. 1 vai ser apresentado ao vivo em vários palcos, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. O primeiro será no Teatro Stephens, na Marinha Grande, no dia 7 de Abril, seguindo-se, no dia 14, Aveiro, num espectáculo organizado pela Associação José Afonso. Ainda em Abril, no dia 30, Miguel Calhaz apresentará o disco na sua terra natal, a Sertã. E em 24 de Julho irá tocá-lo no Festival de Jazz da Praça da Erva, em Viana do Castelo. “Há outras [apresentações] já apalavradas, mas ainda sem confirmação”, diz Miguel.