Vegetação na Gronelândia duplicou nas últimas décadas e substitui 1,6% do manto de gelo

Há zonas anteriormente cobertas por gelo que estão agora a ser substituídas por vegetação. A Gronelândia está a aquecer de forma mais rápida do que a média do globo.

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Fiorde Bowdoin, em Qaanaaq, no noroeste da Gronelândia Mark Smith
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Antes havia gelo e neve, agora há rocha estéril, zonas húmidas e áreas de arbustos: é esta a descrição que um grupo de investigadores faz do que aconteceu a 1,6% da cobertura total de gelo e glaciares da Gronelândia, a maior ilha do mundo, cuja maior parte do território é coberta por gelo e glaciares.

Estima-se que 28.707 quilómetros quadrados do manto de gelo e dos glaciares da Gronelândia, situada na região do Árctico, tenham derretido nas últimas três décadas, de acordo com a análise de uma equipa de cientistas da Universidade de Leeds (Reino Unido) publicada nesta terça-feira na revista científica Scientific Reports.

No artigo Mudanças na cobertura do solo na Gronelândia dominadas por uma duplicação da vegetação em três décadas, os investigadores mostram os resultados da sua análise exaustiva de registos históricos de satélite, acompanhando as alterações na Gronelândia desde a década de 1980 até à década de 2010.

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Área proglacial do Glaciar Fan, em Qaanaaq, Noroeste da Gronelândia, mostrando um fluxo proglacial entrançado Mark Smith

Desde a década de 1970, a região tem vindo a aquecer ao dobro da taxa média global. Na Gronelândia, as temperaturas médias anuais do ar entre 2007 e 2012 foram três graus Celsius mais elevados, em comparação com a média de 1979 a 2000.

Estas temperaturas mais elevadas do ar estão a provocar o recuo do gelo, o que, por sua vez, tem impacto na temperatura da superfície terrestre, nas emissões de gases com efeito de estufa e na estabilidade da paisagem.

Jonathan Carrivick, da Faculdade de Ambiente da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo, alerta para os efeitos deste fenómeno: “Vimos sinais de que a perda de gelo está a desencadear outras reacções que resultarão numa maior perda de gelo e num maior ‘esverdeamento’ da Gronelândia”, descreve o investigador, citado num comunicado da instituição.

“A diminuição do gelo expõe rochas nuas que são depois colonizadas por tundra e, mais tarde, por arbustos. Ao mesmo tempo, a água libertada pelo derretimento do gelo está a deslocar sedimentos e lodo, que acabam por formar zonas húmidas e pântanos”, relata.

O permafrost – a camada permanentemente congelada sob a superfície da Terra – está a ser “degradado” pelo aquecimento e, em algumas áreas, os cientistas alertam para o facto de poder ter um impacto nas infra-estruturas, edifícios e comunidades que vivem à superfície.

O autor principal do estudo, Michael Grimes, realizou a investigação no âmbito do seu doutoramento e acrescenta ainda que “a expansão da vegetação, que ocorre em simultâneo com o recuo dos glaciares e do manto de gelo, está a alterar significativamente o fluxo de sedimentos e nutrientes para as águas costeiras”.

Estas alterações, alerta, são significativas, sobretudo para as populações nativas cujas práticas tradicionais de caça de subsistência dependem da estabilidade destes “delicados ecossistemas”. “Além disso, a perda de massa de gelo na Gronelândia contribui substancialmente para a subida global do nível do mar, uma tendência que coloca desafios significativos tanto agora como no futuro.”