Ursos-pardos espanhóis afinal não foram extintos do Norte do país
Os ursos-pardos espanhóis fintaram o destino e são hoje presença assídua nas aldeias do Norte do país. Governo regional criou patrulha para denúncias sobre a presença destes animais ibéricos.
Se em tempos os ursos-pardos espanhóis eram espécie rara de se avistar, agora não passam despercebidos. Outrora quase extintos, os ursos deslocam-se hoje em dia com tanta frequência para as aldeias de montanha do Norte do país que o governo regional de Castela e Leão criou uma patrulha para que os habitantes locais possam denunciar os animais que andam à espreita.
A patrulha, que conta com nove guardas florestais, protege os residentes e as suas colheitas na cidade mineira de Villablino, localizada na província vizinha de Palência, e noutras áreas circundantes.
O objectivo é manter os ursos-pardos-ibéricos em perigo de extinção seguros e saudáveis, bem como permitir a coexistência de humanos e animais. Durante os últimos três anos, a Reuters acompanhou os guardas florestais nas suas saídas nocturnas.
Os ursos adultos podem pesar entre 150 e 250 kg e medir até 2 metros. Além disso, podem viver até 30 anos. Há três décadas, existiam apenas 60 ursos em Espanha, mas actualmente a sua população é superior a 400.
No entanto, o aumento do número de ursos está a levar a um maior número de encontros com humanos. Para alguns, os ursos são intrusos indesejáveis, mas outros acolhem-nos com agrado, assim como aos turistas, que, atraídos pela presença deste animal, têm aumentado. Como medida de prevenção, se os habitantes locais avistarem um urso, são aconselhados a chamar os guardas florestais e a manter a calma.
Para aliviar as preocupações dos habitantes locais, a patrulha tem de actuar rapidamente. Assim que os funcionários recebem uma chamada para a sua linha telefónica de 24 horas, pegam nos seus rádios, espingardas de borracha e dispositivos de localização e correm para a porta. A missão é afastar os ursos das aldeias, disparando tiros de aviso, com base num protocolo rigoroso.
"O aumento da população de ursos leva a um aumento dos conflitos (com os seres humanos)", disse à Reuters o coordenador da patrulha, Daniel Pinto. Os ursos aproximam-se agora das aldeias com mais frequência porque têm dificuldade em encontrar comida suficiente nas montanhas, acrescentou.
Angeles Orallo, de 73 anos, é uma das pessoas que consideram a presença dos ursos um desafio. "Somos pessoas idosas... O facto de não podermos sair para um passeio tranquilo é triste", lamenta. A residente numa das aldeias do Norte de Espanha tem-se esforçado para manter os ursos longe da sua horta.
Mas enquanto alguns habitantes locais se sentem inseguros e preocupados com as suas colheitas, a patrulha está a revelar-se uma ajuda preciosa para a população de ursos pardos ibéricos. A equipa providencia um rendimento para os habitantes locais, proveniente dos turistas que vêm à região para avistar os ursos, ainda considerados em perigo de extinção, nas montanhas da Cantábria.
A recuperação da população de ursos
Graças a uma maior sensibilização, a uma forte vigilância e ao cumprimento das regras de conservação, a população de ursos pardos ibéricos está a crescer.
Historicamente, os ursos-pardos percorriam grande parte da Península Ibérica, mas a caça e a perda de habitat tiveram um impacto significativo na espécie. Em 1973, foi-lhes atribuído um estatuto de protecção, embora a caça continuasse a ser permitida.
A patrulha pretende também melhorar o conhecimento do comportamento dos ursos. Para isso, uma equipa de veterinários, biólogos e guardas florestais desenvolveu, em 2021, um novo sistema de satélite para monitorizar os animais, bem como uma gaiola inovadora, controlada à distância, que permite prender os ursos sem prender outras espécies.
Uma vez capturados, os ursos são anestesiados e é-lhes colocada uma coleira GPS à volta do pescoço para facilitar a sua localização no futuro. Até à data, os guardas florestais capturaram 12 ursos, que foram depois libertados longe das aldeias, impedindo-os de comer as colheitas e os frutos e legumes das hortas.
O facto de saberem que os ursos estão mais afastados tranquiliza os habitantes locais em relação à possibilidade de encontrarem um perto de suas casas. "O objectivo é procurar soluções para os desafios de conservação que enfrentamos com os ursos, principalmente em ambientes urbanos", disse David Cubero, coordenador do plano de captura e marcação por rádio do urso-pardo.
E remata:"O que queremos é monitorizar a todo o momento, em tempo real, para podermos agir rapidamente, sempre para melhorar a coexistência dos ursos com os humanos.”