No debate entre Raimundo e Mortágua, o centro foi o PS

Mariana Mortágua considerou “incompreensível” que Pedro Nuno Santos tenha apelado ao voto útil no PS. Paulo Raimundo acusou o PS de não responder aos problemas do país se não for “obrigado”.

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O décimo quarto debate juntou antigos parceiros de "geringonça" José Alves
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O debate era entre o PCP e o Bloco de Esquerda, mas, com a possibilidade de um novo acordo à esquerda no horizonte, o PS acabou por estar no centro. Tanto Mariana Mortágua como Paulo Raimundo se mostraram disponíveis para um entendimento, mas não sem deixarem críticas aos socialistas. Sobretudo, a líder do BE, que tem sido mais aberta sobre esta questão e que se atirou contra o "apelo esfarrapado" de Pedro Nuno Santos para que haja uma maioria do PS. Com mais convergências do que desacordos, os líderes da esquerda alinharam-se sobre várias matérias, como a habitação ou a NATO. Mas a eutanásia e a guerra na Ucrânia provocaram divisões.

No frente-a-frente na SIC Notícias, os líderes partidários começaram por discutir o apelo ao voto útil no PS por parte de Pedro Nuno Santos. Questionada sobre se se tratou de "deslealdade", a coordenadora do BE retorquiu que é "simplesmente falso" que a "condição para derrotar a direita é a maioria do PS", lembrando como em 2015 isso se alcançou com os partidos à esquerda.

Depois de se ter mostrado disponível para formar um acordo com o PS após as eleições, Mortágua atirou contra o líder dos socialistas por fazer o mesmo "apelo esfarrapado" por uma maioria, após uma maioria absoluta que "deixou o país em crise social e política". "É espantoso e incompreensível", declarou.

Ainda assim, voltou a apelar a que haja uma "clareza" por parte do PS sobre se está disponível para um acordo, considerando que a "condição de uma maioria é dizer agora" o que se quer fazer para resolver os problemas da habitação, da saúde ou dos salários. É uma "questão de lealdade e uma condição de mobilização ao voto", vincou, acrescentando ainda que os partidos têm a "responsabilidade" de "encontrar soluções como encontraram no passado".

Mais recuado, o secretário-geral do PCP apelou a um "voto útil" na CDU, criticando o PS por se unir à direita nas "opções" sobre os grupos económicos ou a legislação laboral. Mas abriu a porta a um entendimento ao afirmar que, embora não considere a "forma" uma questão "determinante", o PCP "não falhará a tudo o que seja positivo". E que é preciso "constituir uma maioria na Assembleia da República com mais deputados da CDU que obrigue o PS" a responder às questões da saúde ou da habitação. O PS "não virá por si se não for obrigado", acusou.

Num debate sempre cordial, foram mais as convergências que Mortágua e Raimundo encontraram do que diferenças, desde o direito ao aborto, ao investimento na cultura ou à defesa da Palestina. Como, aliás, os próprios reconheceram. Temos "convergência em áreas essenciais, fizemos parte de uma solução de acordo em 2015 que foi a governação mais estável e de que as pessoas guardam melhor memória", assumiu Mortágua. "Convergimos em muita coisa", concordou Raimundo.

Desde logo, os partidos aproximaram-se nas críticas às propostas na área da habitação apresentadas este domingo pelo PS, que consideraram não responder aos problemas de fundo. E, apontando como problema o mercado de luxo ou os fundos imobiliários, não estiveram longe nas soluções que propuseram como alternativa: do lado do BE, proibir a venda de casa a não residentes ou controlar as rendas e, do lado do PCP, pôr os lucros da banca a pagar o aumento das taxas de juro ou pôr um limite à actualização das rendas.

Apesar disso, houve também tempo para assinalarem algumas divergências, como a lei da eutanásia, que o BE defende, ao passo que o PCP se opõe — embora Raimundo tenha mostrado abertura sobre o tema ao afirmar que os comunistas não dão por "encerrada a reflexão". E Mortágua fez ainda questão de vincar que a invasão da Ucrânia pela Rússia ou a "natureza dos regimes da China e de Angola" os "dividiu".

Faltam militares em Portugal?

O debate passou ainda por questões relacionadas com a defesa, nomeadamente, sobre como é que a União Europeia (UE) se deve preparar para uma escalada da guerra da Ucrânia, o que levou Mortágua e Raimundo a alinharem-se contra a NATO. A bloquista declarou que os países da UE "deviam organizar os sistemas de defesa em cooperação ao invés de servir projectos geopolíticos que não são os projectos da UE". E o comunista pediu o mesmo que Mortágua no debate com o Livre: que se cumpra a Constituição.

Já sobre a guerra da Ucrânia, Mortágua apelou a uma conferência da paz com a ONU para assegurar a autodeterminação da Ucrânia, enquanto Raimundo optou por defender uma "pressão política" para que os "intervenientes" na guerra (UE, EUA, Rússia, Ucrânia e NATO) se "juntem à mesa".

Questionados sobre a falta de militares em Portugal, nenhum respondeu directamente. A líder do BE considerou que só uma "pequena parte" dos Orçamentos do Estado vão para "reforço do pessoal" e "salários" e que existe "pouca transparência" sobre a utilização desses fundos, pedindo uma auditoria ao ministério da Defesa. O líder da CDU, por sua vez, defendeu um aumento salarial e a valorização das carreiras para todos os profissionais.

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