À procura de um Carnaval brasileiro? Aqui ficam algumas opções

O P3 reuniu oito planos para quem prefere um Carnaval ao som do funk e ao ritmo do forró, mesmo com chuva (e protestos).

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Blocos de Carnaval em Portugal Nuno Ferreira Santos
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Nem a chuva nem o mau tempo que se esperam nos próximos dias parecem abrandar os planos para o Carnaval (dos mais corajosos, pelo menos). O Carnaval de Torres Vedras assinala o centenário, com o maior orçamento de sempre e com expectativas de receber mais de meio milhão de visitantes. As celebrações em Loulé, Ovar e Estarreja, por exemplo, já estão a acontecer, mantendo a tradição dos Carnavais portugueses.

Ao mesmo tempo, no Brasil, país do samba, do funk e do forró, o Carnaval é rei e uma das épocas mais aguardadas do ano. Com a comunidade brasileira residente em Portugal, as tradições cariocas chegam a várias cidades do país.

Em Lisboa, no entanto, os desfiles vão dar lugar a protestos “contra a gentrificação do espaço público e a incapacidade da câmara de apoiar o Carnaval”, disse Miguel Dores, membro da União de Blocos de Carnaval de Rua de Lisboa, ao PÚBLICO. Apenas um dos 12 grupos que pretendiam fazer cortejos vai desfilar, o Qui Nem Jiló, que tem o apoio da Junta de Freguesia da Penha de França.

Colombina Clandestina (Lisboa) – 10 de Fevereiro

A Colombina Clandestina já é conhecida pelas ruas de Lisboa. Há sete anos, o colectivo “artivista” (uma mistura de arte e activismo) independente tomou a dianteira no resgate de um Carnaval de rua, com a presença de Blocos e grupos de animação pela cidade, relembra Andréa Freire, idealizadora do grupo, ao P3.

Apesar de possuir influências brasileiras, o colectivo não se define como um projecto de Carnaval brasileiro: “O colectivo nasceu nas ruas de Alfama, não somos um grupo do Brasil, de Carnaval exclusivamente brasileiro. Somos um colectivo artístico para aqueles que queiram fazer parte, sem olhar a diferenças.”

O principal objectivo da Colombina Clandestina é “encher as ruas com corpos, corpos esses que não costumam ser tão desejados de serem vistos publicamente”. É um grupo que celebra a diversidade, independentemente da “cor da pele, orientação sexual, identidade de género e condições financeiras”, tornando-se num “espaço seguro para essas pessoas”.

O colectivo rege-se por três pilares principais, sendo eles a luta feminista, a saída à rua e a diversidade. “O nosso objectivo é dar visibilidade à diferença. No entanto, é algo que não se cinge apenas à altura do Carnaval, estendendo-se ao longo de todo o ano, em todas as actividades realizadas”, completa Andréa. O colectivo organiza várias iniciativas durante todo o ano, disponibilizando aulas de percussão, dança, canto e outras formas de expressão artística.

Andréa Freire explica que, este ano, o colectivo sairá à rua “em forma de protesto”, uma vez que a Câmara Municipal de Lisboa não atribuiu as devidas licenças. “Nós pagámos os valores propostos e mesmo assim as licenças não foram atribuídas. Vamos sair em forma de protesto, por nós e pelos outros blocos afectados, em revolta com esta má gestão e com o aumento dos preços e problemas de questão financeira”, esclarece.

O percurso do bloco sofreu alterações. Inicialmente, a rota iniciava-se no Mercado de Sapadores e ia até ao Largo da Graça. O novo caminho tem o mesmo ponto inicial, no entanto, continua pela Rua da Graça, a Rua do Arco e termina no Mercado de Santa Clara. Durante o percurso, a animação acompanha a Colombina Clandestina, com a Bateria Clandestina, sopros, corpo de dança, vozes e pernaltas.

O colectivo encerra os festejos com o Baile da Colombina, no Salão Nobre da Voz do Operário. Foi disponibilizado um lote de bilhetes extra, com um custo de 25€ e serão vendidos bilhetes à porta, por 30€ a entrada. “Muita brasilidade, livre expressão e funk” estão confirmados e, apesar dos problemas, o colectivo tem grandes expectativas para as celebrações deste ano.

Musa das Virtudes (Porto) – 10 a 12 de Fevereiro

“Fevereiro é pequeno mas carnudo” e a cerveja Musa preparou um programa cultural que tem como palco o passeio das Virtudes. Durante três dias, a noite cai e a música começa, com artistas brasileiros.

Uma viagem aos clássicos do samba, reggae e hip-hop é o que se pode esperar de Angêlo B, que inicia a programação com um DJ set, a partir das 18h.

No dia 11, domingo, a festa começa mais cedo, com o grupo Samba sem Fronteiras. Às 17h, o “samba de raiz” toma conta do Passeio das Virtudes, convidando os mais curiosos a celebrar um Carnaval que valoriza a “tradição e os grandes poetas dessa música popular brasileira”. O Samba sem Fronteiras foi criado por um grupo de brasileiros, residentes em Portugal, que sentiam falta das suas tradições e de encontrar o samba, feito por e para quem gosta. O grupo convida os visitantes a juntarem-se à festa e a “reinventar a alegria”.

O programa chega ao fim no dia 12, às 19h, com mais um DJ set, desta vez as Selva-Selva. As duas DJ brasileiras prometem um safari musical, com sons sul-americanos e batidas electrónicas e tropicais.

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Nuno Ferreira Santos
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A programação de Carnaval acontece no estabelecimento da Musa, junto ao Passeio das Virtudes, com entrada livre.

Carnaval de Coimbra – 10 e 11 de Fevereiro

Pelo segundo ano consecutivo, as ruas de Coimbra recebem os foliões. Este é um Carnaval de rua, sediado na Praça do Comércio, que surgiu pelos esforços de um grupo de amigos, “todos brasileiros e estudantes universitários”, que queriam dar a conhecer o “verdadeiro Carnaval popular brasileiro”, de estilo comunitário.

Esta é uma opção de entrada livre e para todas as idades. O evento inicia-se no sábado, 10, com uma manhã dedicada aos mais pequenos. Contudo, o Carnaval só começa oficialmente a partir das 15h, com a abertura oficial do evento. O primeiro dia tem o cortejo do bloco como atracção principal, acompanhado pelo CoimBrass Band, contando ainda com vários DJ e convidados durante a tarde e pela noite dentro.

O segundo e último dia são especialmente dedicados ao sexo feminino. As festividades começam com uma homenagem às mulheres envolvidas no projecto Íntimo Colorido, responsável pela decoração. O Grupo Muzenza de Capoeira apresenta-se às 17h, com o seu “samba de roda” e o cortejo com o Bloco do Beco volta a acontecer. A cantora Janine Mathias, Adriana Ramalho, Rodrigo Silveira e a banda BackToBahia são os responsáveis pela animação, para além da DJ PatiSol, que abre e encerra o evento.

Carnavrau (Porto) – 11 de Fevereiro

Já no Porto, acontece mais uma edição do Carnavrau. Este é um evento indoor, como local marcado no Restaurante Brasileirão, na Rua de Delfim Ferreira. Os disfarces não podem faltar e a fantasia mais ambiciosa é premiada durante a noite.

O grupo Batucada Radical, primeiro Bloco de Portugal e criado em 1994, é um dos animadores. A Batucada Radical também sai às ruas do Porto, a partir do Centro Comercial Stop, às 15h.

A entrada é paga e os bilhetes estão praticamente esgotados. Estão disponíveis apenas os bilhetes de 10€, que oferecem uma bebida e um kit de Carnavrau. Os bilhetes infantis já se esgotaram.

Bloco Qui Nem Jiló (Lisboa) – 11 de Fevereiro

Em 2023, o Bloco Qui Nem Jiló saiu às ruas de Lisboa pela primeira vez. Este ano, as expectativas estão ainda mais elevadas depois de um primeiro ano em que “só quem esteve presente sabe a experiência mágica que foi”.

Enrique Matos é um dos responsáveis pelo Bloco, que este ano pretende melhorar o cortejo e ser ainda mais especial. “Este ano o número de inscritos no corpo de dança aumentou imenso, são cerca de 30 pessoas a dançar. Também queremos expandir a ala das crianças e animar ainda mais a festa”.

Para o carioca, o Qui Nem Jiló distingue-se dos demais blocos pela presença do forró e também de instrumentos como o acordeão, a sanfona e o violino que adicionam um “toque tranquilo e sedutor” à efusão que os acompanha. A missão está definida: “O que queremos é trazer o Carnaval às pessoas. Se o europeu não vai ao Brasil, também devido aos custos, vem o Brasil até ele”.

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O Carnaval brasileiro é feito na rua, com dança e união Anna Costa

Enrique tem notado que o forró junta uma grande variedade de pessoas, mesmo aquelas que não conhecem o género musical. O Bloco Qui Nem Jiló é uma iniciativa criada em associação com o Espaço Baião, a mais antiga escola de forró do país, criada por Enrique Matos, em 2012. O número de alunos tem crescido e mesmo os professores e integrantes mais antigos continuam a participar em várias actividades.

Mesmo com os últimos problemas com a saída de Blocos às ruas de Lisboa, o Qui Nem Jiló tem “o privilégio” de ter o auxílio da Junta de Freguesia da Penha de França, que não lhes colocou qualquer entrave. “Somos o único bloco que tem esse tipo de privilégio e vamos poder sair à rua sem nenhum custo. Somos uma iniciativa sem fins lucrativos e tivemos mesmo sorte. Mesmo assim, estamos juntos dos outros blocos e batalhamos por eles, lutamos pela justiça e por um Carnaval na rua”, explicou Enrique Matos.

Ainda que a meteorologia não seja a mais convidativa, o folião não deixa a animação morrer e admite já ter alternativas planeadas, caso a festa não consiga sair à rua. O encontro tem lugar marcado às 15h, na Igreja Nossa Senhora da Penha de França, seguindo em cortejo. Até às 21h, acontece também um Baile de Forró.

Carnaval Independente do Baque do Tejo (Lisboa) – 11 de Fevereiro

Há a opção de participar no cortejo do grupo Baque do Tejo, que vai do Largo do Rosa ao Largo do Intendente. Para uma festa nocturna repleta de afrobeat, funk e dançar aos sons dos hits do Carnaval Brasileiro, o Carnaval Independente do Baque do Tejo pode ser a melhor opção.

A entrada custa 7€ por pessoa e o alinhamento é composto por três artistas: Colectivo Gira, Sapatrux e Didi. A igualdade de género é um dos motes da festa e música de diferentes lugares e estilos brasileiros não faltarão. Esta é uma plataforma de “intercâmbio cultural” e de “celebração da diversidade”, afirma a organização.

O “after” acontece na Casa Independente e dura até à meia-noite.

Kebraku (Porto) – 12 de Fevereiro

Em Portugal desde 2011, Rafael Henrique Victório, mais conhecido como DJ Farofa, já é conhecido na noite do Porto. Desde 2015 que organiza várias festas, principalmente nos Maus Hábitos, sendo Kebraku uma delas.

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Pessoas de todas as idades são bem-vindas nos festejos Nuno Ferreira Santos

Para o artista, o Carnaval é sinónimo de “alegria e nostalgia”. Em conversa com o P3, obseerva que as tradições portuguesas são “muito diferentes, apesar de terem uma história e pontos em comum”. No Brasil, o Carnaval é mais “livre e todas as pessoas estão na rua a celebrar, esquecendo todas as diferenças”.

Na noite de dia 12, os Maus Hábitos recebem uma nova edição do Kebraku, curado pelo próprio DJ. Com muita “diversão, amor, festa e, principalmente, respeito”, o programa junta artistas de vários artistas, como o próprio DJ Farofa, Igor, Patisol e Ucla Luna. As Kombikats, de nacionalidade portuguesa, também fazem parte do alinhamento. “Fiz um esforço para ter o máximo de artistas de vários locais do Brasil. Escolhi também duas artistas locais portuguesas, as Kombikats, porque a arte local deve ser também valorizada”, adicionou, explicando também que as duas artistas têm uma ligação próxima à música brasileira de Carnaval.

As fantasias “não podem faltar”, devendo ser o mais respeitosas possível. “Não queremos uma noite heteronormativa nem machista e muito menos com fantasias racistas e discriminatórias. É uma noite de diversão, mas deve ser, sobretudo, uma noite de diversão consciente”, assegura.

Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada – até 13 de Fevereiro

Na Mealhada, já é habitual celebrar-se o Carnaval com uma forte presença brasileira. Este ano, o Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada acontece de 3 a 13 de Fevereiro, com uma programação variada.

Os corsos carnavalescos acontecem a 11 e 13, com o habitual desfile nocturno a acontecer na noite de dia 12. Como manda a tradição, o rei e rainha do Carnaval são de nacionalidade brasileira. O actor Thiago Rodrigues e a Miss Portuguesa 2023, Yeniffer Campos, são os escolhidos deste ano.

A tenda de diversão nocturna e os desfiles de samba têm novamente presença marcada na programação deste ano.

Texto editado por Renata Monteiro

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