Os debates parecem uma mixórdia de temáticas
Nesta fase, já consigo dizer que estes momentos fazem lembrar as campanhas eleitorais — e percebi que até tenho algumas saudades delas.
Comecei por gostar deste modelo de debates televisivos. Curtos e incisivos, beneficiam mensagens claras, concisas e concretas, como mandam as regras do jornalismo, e não chegam a ser maçadores para ninguém.
Cada líder partidário não tem apenas 15 minutos para falar, tem quinze minutos em cada debate. Como são 30 debates, todos têm várias oportunidades para trazer os seus temas para cima da mesa. E todos têm aproveitado bem, regra geral, o tempo que lhes tem sido dedicado. Uns melhores do que outros, é certo.
André Ventura especializou-se em falar por cima dos outros, sejam o adversário ou o moderador, o que prejudica o modelo escolhido e faz com que seja muito fácil transformar 30 minutos de debate em meia hora de gritaria. Suponho que o objectivo seja impedir que o outro interveniente oiça os seus próprios pensamentos, mas diria que ninguém ganha com isso.
Os debates deste sábado, com Luís Montenegro e Paulo Raimundo (às 20h30) e com Pedro Nuno Santos e Inês de Sousa Real (às 21h) foram, respectivamente, o décimo primeiro e o décimo segundo. Nesta fase, já consigo dizer que estes momentos fazem lembrar as campanhas eleitorais — e percebi que até tenho algumas saudades delas.
Em que é que fazem lembrar as campanhas? Tal como elas, são 15 dias em que os líderes repetem as mesmas ideias, discurso após discurso, almoço após almoço, comício após comício.
Ao fim de duas semanas de campanha, 24 sobre 24 horas, qualquer jornalista é capaz de citar de cor as frases-chave que o líder do partido que está a acompanhar dirá na próxima intervenção. Parece haver uma espécie de "cassete" que todos "engolem" no primeiro dia em que a comitiva sai para a volta pelo país e que só pára de tocar no penúltimo dia, porque a excepção são, normalmente, os comícios de encerramento.
Tenho para mim que, no final da maratona de 30 debates, quem os acompanhar a todos conseguirá ser bem-sucedido se decidir fazer um exercício parecido. Eu vi ou ouvi os 12 que já aconteceram e captei alguns padrões ao nível da mixórdia de temáticas abordadas. Aliás, não há um padrão só ao nível dos temas, há sobretudo um padrão ao nível dos factos repetidos, como se os próprios políticos viessem já preparados para os fact checkers que se seguem aos debates.
Leia as crónicas dos dias anteriores:
- Ana Sá Lopes: Raimundo meteu Ventura no bolso, que respondeu com “os assassinatos do PCP (?)”
- Pedro Rios: A fezada no cofre e o político no laboratório: Rui Tavares e Rui Rocha à procura de um país
- Sónia Sapage: Rui e Mariana, meia hora entre amigos
- Marco Vaza: Vamos debater como se fosse 1974
- Pedro Guerreiro: Rui Rocha VS Pedro Nuno Santos: o marketeer e o fact-checker