Netanyahu quer evacuar Rafah para “eliminar os combatentes do Hamas”

Operação militar em Rafah está a ser criticada até pelos EUA porque a cidade é abrigo de cerca de 1,5 milhões de pessoas.

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Mais de um milhão de pessoas estão neste momento em Rafah REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ordenou, na sexta-feira, às Forças de Defesa de Israel (IDF, em inglês) que desenhassem um plano para retirar os civis palestinianos de Rafah, no sul de Gaza. O objectivo é “eliminar os combatentes do Hamas”, mas a cidade fronteiriça tornou-se o último refúgio de milhares de palestinianos que procuraram abrigo depois de terem abandonado outros pontos atacados pelas IDF.

"É impossível atingir o objectivo da guerra sem eliminar o Hamas, deixando quatro dos seus batalhões em Rafah. Pelo contrário, é evidente que a intensa actividade em Rafah exige que os civis deixem as zonas de combate", informou o gabinete de Netanyahu em comunicado a que a agência Reuters teve acesso. "Por isso, o primeiro-ministro ordenou às IDF e aos sistemas de segurança que apresentassem ao Conselho de Ministros um plano combinado para retirar a população palestiniana e para destruir os batalhões".​

O jornalista Peter Beaumont, especialista em conflitos no Médio Oriente, escreve nesta sexta-feira, no jornal The Guardian, que Israel "está cada vez mais próximo de uma ofensiva terrestre em grande escala contra a cidade de Rafah". ​​O pedido do governante israelita surge dois dias depois de ter rejeitado uma proposta para trégua do Hamas – que implicava a retirada das IDF de Gaza – e vem na sequência da crescente pressão externa para que Israel limite a sua acção no enclave.

Na quinta-feira, o chefe da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, alertava para os riscos de uma eventual escalada do conflito na cidade de Rafah, lembrando que o local abrigava "cerca de 1,4 milhões de pessoas", que estão "neste momento sem serviços básicos para sobreviver".

Já nesta sexta-feira, o chefe da organização da ONU que apoia os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, pouco depois de o plano do Governo de Israel ser conhecido, sublinhou que a situação em Rafah "é cada vez mais desesperada". "Qualquer operação militar em grande escala entre esta população só pode levar a uma camada adicional da tragédia sem fim que se está a desenrolar", disse aos jornalistas em Jerusalém.

"Para onde vão estas pessoas? É a [pergunta] que está na cabeça [de todos] e que estamos todos a fazer", afirmou a correspondente da Al Jazeera, Hamdah Salhut, que está a cobrir o conflito entre Israel e o Hamas para o canal do Qatar. "O primeiro-ministro israelita tem-se mostrado inflexível, afirmando que a operação [militar] se vai estender a Rafah. Na quinta-feira, assistimos à intensificação dos ataques aéreos e aos repetidos bombardeamentos em Rafah, que causaram a morte de vários palestinianos", descreve a jornalista.

Oposição dos EUA

Também os EUA se têm mostrado contra uma operação militar das IDF em Rafah. "Ainda não vimos qualquer prova de um plano sério para uma operação deste tipo", disse, na quinta-feira, Vedant Patel, porta-voz adjunto do secretário de Estado norte-americano​, citado pelo jornal The Guardian. "Avançar com uma ofensiva deste tipo agora, sem planeamento e com pouca reflexão, numa zona onde há um milhão de pessoas abrigadas, seria um desastre", acrescentou.

Também na quinta-feira, foi a vez de o próprio Presidente dos EUA, Joe Biden, admitir que as acções militares de Israel na Faixa de Gaza estão a ser exageradas. “Como sabem, a minha opinião é que a conduta da resposta na Faixa de Gaza tem sido exagerada", disse o responsável norte-americano, ainda antes de ser conhecida a intenção de Netanyahu de evacuar a cidade que faz fronteira com o Egipto.

Refém morto em ataque da Força Aérea

Nesta sexta-feira, de acordo com o jornal Haaretz, uma investigação das IDF descobriu que um refém, raptado pelo Hamas no ataque do 7 de Outubro, foi morto na sequência de um ataque do próprio exército de Israel.

Yossi Sharabi – que foi levado do kibbutz Be'eri e que foi dado como morto no mês passado – estaria cativo num apartamento no centro da Faixa de Gaza. A investigação conhecida nesta sexta-feira demonstra que as IDF tinham recebido informações de que havia uma célula do Hamas numa casa adjacente ao local onde ele estava. O prédio foi atacado e os edifícios ao lado foram igualmente destruídos, incluindo o local onde estava Sharabi, que acabou por morrer. Ainda de acordo com o mesmo jornal, o corpo da vítima ainda não foi entregue às autoridades israelitas.

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