Pressão da FIFA e maré de críticas devem manter cartão azul no bolso
Jürgen Klopp “atacou” duramente a medida e o próprio International Board. Carlo Ancelotti sublinha objectivo das regras: “feitas para simplificar o jogo”. FIFA desmente notícias.
A forma contundente como Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, se referiu à hipótese de o futebol passar a ter um novo cartão azul — para punir com dez minutos de suspensão os jogadores que cometam uma falta ostensiva ou protestem com um elemento da equipa de arbitragem —, juntamente com outras reacções pouco abonatórias em relação à proposta do International Football Association Board (IFAB), terão levado, para já, ao congelamento da medida, cujos testes estariam programados para o Verão.
“A FIFA pretende esclarecer que as notícias sobre o alegado cartão azul, ao nível do futebol de elite, são incorrectas e prematuras. Quaisquer ensaios, se implementados, deverão cingir-se a níveis inferiores, para testar a medida de forma responsável. Posição que a FIFA tenciona reforçar quando esta medida for discutida na assembleia do IFAB de dia 2 de Março”, refere aquele organismo em comunicado, desmentido a intenção de implementar o cartão azul no futebol profissional.
A apresentação da “novidade” pelo IFAB, um plano revelado pelo The Telegraph, que, segundo o jornal britânico estaria agendada para ontem, ficou, por isso, suspensa, e a medida continuará circunscrita aos escalões inferiores, nomeadamente à formação.
As dúvidas levantadas e a sucessão de críticas travaram a intenção de testar o novo modelo a um nível profissional, levando a FIFA a esclarecer que os testes não incluem as principais competições, o que, ainda assim, deverá ser discutido na Assembleia Geral do próximo mês, no encontro anual do IFAB. Isto, depois de na última reunião, em Novembro de 2023, terem sido aprovados os primeiros testes a nível do futebol profissional.
“Vamos no sentido oposto”
Na conferência de antevisão ao jogo com o Burnley, da Premier League, o treinador alemão do Liverpool não deixou nada por dizer, dispensando quaisquer subterfúgios no comentário feito a uma questão levantada pelo repórter da BBC.
“Julgo que deveríamos, antes de mais, simplificar as regras em vez de complicá-las. Inclusive para os árbitros, cuja missão é já de si bastante complexa. E a introdução de um novo cartão só serviria para potenciar os erros. Se querem testar um cartão azul, tudo bem. Não há problema com os testes. Mas, à partida, não parece uma ideia fantástica. Na verdade, não me recordo da última ideia fantástica destes tipos. Se é que alguma vez tiveram alguma. Ora, tenho 56 anos… Não, nunca”, rematou, com ironia.
Antes, juntando-se às vozes dos ex-futebolistas Chris Sutton e Jamie O’Hara, o técnico do Newcastle, Eddie Howe, tinha lançado a discussão entre os treinadores, opondo-se à medida ao afirmar que um novo cartão “só acrescentaria mais confusão”, até porque o “sistema actual funciona”. “Só tem de ser aplicado em conformidade. É para isso que existem os cartões amarelos. Como tal, sou contra!”.
Ange Postecoglou, treinador do Tottenham, tem uma perspectiva semelhante, até porque a ideia seria aproveitar a Taça de Inglaterra da próxima temporada para iniciar os testes ao mais alto nível. “Não compreendo qual é a urgência de implementar coisas novas, nem como é que um cartão de outra cor pode fazer a diferença. A maioria das outras modalidades tenta acelerar o jogo e não sei por que razão nós vamos no sentido oposto”.
Em Espanha, porém, Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid e figura de relevo no futebol mundial, também levantou algumas questões sobre o cartão azul, na conferência que antecedeu o duelo com o Girona. “O objectivo das regras é o de simplificar o jogo, que parece mais complicado a cada ano. Não sei se isso simplifica ou complica a missão do árbitro”.