Cientistas associam o consumo de Viagra à redução do risco de Alzheimer

Estudo verificou que pessoas que tomam medicamentos para a disfunção erétil revelaram 18% menos probabilidades de desenvolver Alzheimer do aqueles participantes sem prescrição.

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Os cientistas recorreram à reorientação de medicamentos já usados, como os inibidores da fosfodiesterase 5 Mark Blinch/Reuters
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A prescrição de medicamentos utilizados para o tratamento da disfunção eréctil, como o Viagra, foi associada à redução do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer por uma equipa de cientistas da University College de Londres.

Num artigo científico, publicado na edição online da revista Neurology, os investigadores verificaram uma redução de 18% da probabilidade desenvolverem a doença de Alzheimer entre os participantes que tomavam medicamentos para tratar a disfunção eréctil.

A investigação contou com cerca de 270 mil participantes do sexo masculino, com uma idade média de 59 anos, diagnosticados previamente com disfunção eréctil e sem indícios de complicações neurológicas. Os resultados dos participantes a quem foi prescrita medicação para a disfunção eréctil (55%) foram comparados com aqueles sem prescrição (45%). No total, os cientistas verificaram 1119 casos de Alzheimer entre os milhares de indivíduos acompanhados, em média, durante um período de cinco anos.

Foram diagnosticados 749 casos da doença de Alzheimer entre os participantes que utilizaram medicamentos para o tratamento da disfunção eréctil, o que constitui uma taxa de 8,1 casos por dez mil pessoas por ano. Por outro lado, os indivíduos sem prescrição correspondem a uma taxa superior de 9,7 casos por dez mil pessoas por ano, ao serem identificadas 370 pessoas com a doença neurodegenerativa.

A associação do consumo destes medicamentos com a redução do risco da doença de Alzheimer foi ainda maior nas pessoas que registaram números superiores de prescrições durante o decorrer do estudo: as pessoas com 21 a 50 prescrições durante um ano foram associadas a um risco 44% menor de sofrer de Alzheimer, ao passo que as pessoas com mais de 50 apresentaram uma redução no risco na ordem dos 35%. Os cientistas verificaram ainda um menor risco da doença entre os participantes com hipertensão, diabetes e idosos com idades superiores a 70 anos.

“Resultados encorajadores”

O estudo foi baseado em registos de prescrição da medicação, ressalvando-se que os cientistas não dispuseram de informações que comprovassem a utilização dos medicamentos por parte dos participantes. Por isso, as conclusões da investigação constituem uma associação e não podem servir como prova de que os medicamentos utilizados para a disfunção eréctil reduzem efectivamente o risco da doença, frisa ainda a equipa de cientistas.

“É necessária uma maior investigação para confirmar estes resultados, saber mais sobre os potenciais benefícios e mecanismos destes medicamentos e analisar a dosagem ideal”, como, por exemplo, “um estudo aleatório e controlado com participantes masculinos e femininos para determinar se estas conclusões se aplicam também às mulheres”, afirmou em comunicado uma das autoras do estudo, Ruth Brauer, da University College de Londres.

Actualmente, a demência afecta 57 milhões de pessoas em todo o mundo, recordam os cientistas na sua publicação, prevendo que “os casos aumentem para 157 milhões até 2050”. A doença de Alzheimer — responsável pela deterioração de várias funções cognitivas — é a forma mais comum de demência e contribui para cerca de 60% a 70% dos casos registados, indica Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Embora estejamos a progredir com os novos tratamentos para a doença de Alzheimer, que actuam para eliminar as placas amilóides no cérebro das pessoas com fases iniciais da doença, precisamos desesperadamente de tratamentos que possam prevenir ou atrasar o desenvolvimento da doença de Alzheimer”, considera em comunicado a cientista britânica. “Estes resultados são encorajadores e justificam mais investigação.”

Viagra chegou há mais de 25 anos

Os cientistas recorreram à reorientação para outros fins de medicamentos já utilizados, nomeadamente os inibidores da fosfodiesterase 5, como o Viagra, enquanto “um método económico e oportuno para identificar novas terapias” no tratamento da doença, lê-se no artigo científico.

“A possibilidade de reutilizar medicamentos já autorizados para outros problemas de saúde pode ajudar a acelerar os progressos e abrir novas vias para prevenir ou tratar as doenças causadoras de demência”, conta ao jornal britânico The Guardian a directora de investigação do centro Alzheimer's Research UK, Leah Mursaleen.

Os inibidores da fosfodiesterase 5 são os fármacos mais utilizados para o tratamento da disfunção eréctil. Desenvolvidos inicialmente para combater a hipertensão arterial pulmonar, estes medicamentos relaxam os vasos sanguíneos e facilitam a circulação do sangue no corpo.

Esta não é a primeira vez que a utilização da substância sildenafil (composto do Viagra) surge associada ao tratamento de doenças neurológicas. Na sua publicação os cientistas estabelecem uma referência a um estudo realizado em animais, no qual a reorientação de sildenafil demonstrou “possíveis benefícios neuroprotectores”​, mas as conclusões sobre os estudos de reorientação desta substância não são unânimes.

Em 2022, uma equipa de investigadores associou a utilização de sildenafil a uma redução de 69% do risco Alzheimer em 7,23 milhões de indivíduos, juntamente com a formação mais lenta de biomarcadores precoces da doença cognitiva. Publicado no mesmo ano pela Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), outro artigo científico concluiu, no entanto, que este tipo de fármacos “não são candidatos promissores para o reposicionamento da doença de Alzheimer e demências relacionadas”.

Conhecido popularmente como o “comprido azul”, a estreia no mercado mundial do Viagra deu-se em 1998, rodeada de medos e estigmas, mitigados pelo seu sucesso no tratamento da disfunção eréctil. Ao aparecimento de outros fármacos na mesma linha, como o Cialis, o Levitra e o Stendra, sucederam-se os medicamentos genéricos, que contribuíram para facilitar o acesso a estes comprimidos. Segundo os dados fornecidos pela empresa IQVIA, entre Outubro de 2022 e Setembro de 2023, foram vendidos quase um milhão de caixas destes medicamentos em Portugal.

Texto editado por Teresa Firmino

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