Do Funchal para Estrasburgo: Sara Cerdas pode ser a Eurodeputada do Mandato

Sara Cerdas, antiga campeã nacional de Natação, saltou da piscina, para a medicina, para o Parlamento Europeu. Está nomeada para o prémio Eurodeputada do Mandato.

Foto
Sara Cerdas é madeirense e tem 34 anos DR
Ouça este artigo
00:00
04:30

Entre 705 nomes, há uma portuguesa candidata ao prémio de eurodeputada da 9.ª legislatura do Parlamento Europeu, que se iniciou em 2019 e agora termina. Médica de profissão, Sara Cerdas chegou à política aos 29 anos, "quase de pára-quedas", mas a aterragem não deixou indiferentes os mais atentos à política europeia.

Já em 2020 tinha sido distinguida eurodeputada do ano na área de saúde, prémio atribuído pela revista The Parliament. Desta vez, a entrega dos prémios, a 20 de Março, será uma retrospectiva do trabalho feito em todo o mandato e por todos os eurodeputados, sem distinção entre áreas de trabalho. No Parlamento, a socialista Sara Cerdas senta-se no Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas.

Na categoria de Eurodeputado do Mandato, "não procuramos apenas o relator dos dossiers mais importantes”, ressalva a The Parliament, “mas a verdadeira dedicação às instituições”. Olhando para os cadernos assinados por Sara Cerdas, a eurodeputada esteve, no último ano, empenhada no Mecanismo Europeu de Protecção Civil, que assegurará uma frota aérea de combate permanente a incêndios na União Europeia por mais três anos, até 2027; e no tema da saúde e doença mental, sendo autora do primeiro relatório do Parlamento sobre saúde mental, por um reforço do financiamento europeu e pelo combate à estigmatização.

“Nunca imaginei ser uma das nomeadas, somos 705 deputados”, confessa, em conversa com o P3, apesar da anterior distinção na área da saúde. Não imaginava sequer, até às vésperas da ida para Estrasburgo, uma carreira política.

Ainda criança, na ilha da Madeira, as curvas do Funchal a Porto Moniz eram intermináveis. Os enjoos na estrada marcam as memórias dessas viagens de quatro, cinco horas. Sara Cerdas foi crescendo e consigo cresciam os caminhos madeirenses. Entre a década de 1990 e o início dos anos 2000, foram construídas vias rápidas que se estendem por dezenas de quilómetros, investidos milhares de milhões de euros, inauguradas centenas de pontes, viadutos e túneis.

Para uma criança, era isso a União Europeia: fundos transformados em betão e asfalto que encurtaram distâncias e melhoraram enjoos.

Mais de 100 jovens madeirenses levados a Bruxelas

Já adulta, não foi a política partidária que a interessou, mas o associativismo. A antiga campeã nacional de Natação fez parte da associação de estudantes na faculdade, depois da Associação Nacional de Estudantes de Medicina e da Federação Internacional das Associações de Estudantes de Medicina.

Em 2019, tinha começado o doutoramento em Ciências de Saúde Pública na Universidade de Estocolmo, recebeu uma chamada da Madeira. Emanuel Câmara — à data líder do PS-Madeira, actual presidente da Câmara de Porto Moniz — tinha um convite: integrar o projecto socialista para “mudar a Madeira”.

Traria a sua experiência em associativismo a nível internacional, conhecimento na área da saúde e, “acima de tudo”, considera Sara Cerdas, “um grande desejo de contribuir para uma alternância democrática na Madeira e para o desenvolvimento da região”.

“Foi um desafio impossível de recusar." Interrompeu o doutoramento, fez as malas e, ao terceiro dia depois do telefonema, voltou à ilha. Em três meses de campanha, visitou as 54 freguesias da região autónoma da Madeira. “O que senti foi que as pessoas não sabiam o que a União Europeia fazia por elas, nem a importância da União Europeia no nosso dia-a-dia”, conta a madeirense de 34 anos, a partir de Estrasburgo.

Essa percepção não ficou sem resposta. Para derrubar o muro que separava os madeirenses e porto-santenses das instituições europeias, criou o Roteiro Geração Madeira, iniciativa que percorreu todos os concelhos da ilha para falar sobre políticas europeias nas regiões ultraperiféricas, ouvir a população e levar as suas propostas e anseios ao Parlamento Europeu.

E para os jovens que, como Sara, cresceram no arquipélago da Madeira, lançou o Europe Calling, concurso sobre temáticas europeias dirigido às turmas de ensino secundário da região, sendo os vencedores premiados pelo gabinete da eurodeputada com uma visita a Bruxelas. Durante os últimos quatro anos, mais de uma centena de jovens madeirenses visitaram com Sara Cerdas o Parlamento Europeu. Outros tantos teriam viajado, não fosse a pandemia de covid-19.

Sara Cerdas é a única portuguesa entre oito nomeados para a categoria Eurodeputado do Mandato, dos The Parliament MEP Awards. Para a madeirense, só é possível olhar para os últimos anos como um longo trabalho de equipa. Conta, em particular, com o apoio de quatro assistentes em Bruxelas e na Madeira: Cristina Correia, Vasco Mendes, Duarte Brazão e Rodrigo Batista.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários