A célula viva da Bracara Augusta estará pronta a visitar em 2025
A musealização da Ínsula das Carvalheiras, quarteirão de Bracara Augusta com vestígios entre o século I a.C até ao século VII, vai ser iniciada este ano e estará pronta até ao final de 2025.
Mais de 40 anos depois das escavações que puseram a descoberto as ruínas da Ínsula das Carvalheiras, a Câmara de Braga vai avançar para a musealização do espaço, tendo prevista a preservação do conjunto arqueológico através da consolidação dos vestígios existentes com a criação de um edifício coberto. A obra tem um custo de 3,9 milhões de euros e está prevista terminar até ao final de 2025.
A adjudicação para a musealização das ruínas foi aprovada na segunda-feira, em reunião pública de executivo municipal, e aguarda agora o visto do Tribunal de Contas para avançar, tendo um prazo de execução de 18 meses. A “célula viva da cidade romana transportada no tempo”, como apelidou em 2021 o então vereador da Câmara de Braga com o pelouro do património, Miguel Bandeira, situa-se num quarteirão da cidade de cinco mil metros quadrados, localizado a noroeste do centro histórico, e será transformada num espaço aberto ao público.
O projecto prevê que as ruínas romanas, cujos registos remontam desde o século I a.C. ao século VII, sejam restauradas e consolidadas, estando depois prevista a construção de uma cobertura para evitar a degradação do sítio arqueológico. Pelo meio, será recriado um peristilo (pátio interior a céu aberto) com recurso a colunas de granito, por forma a reproduzir os pórticos originais. Aí, os visitantes poderão contemplar as ruínas do que originalmente teria sido uma luxuosa domus - tipo de habitação pertencente às elites de então –, e que depois teria evoluído para uma ínsula, destinada aos mais pobres, com dois pisos e umas termas públicas. É referida com um fragmento único do urbanismo de Bracara Augusta.
Além do edifício que permitirá a visita aos vestígios romanos, que foram sendo destapados pelas escavações da Unidade Arqueológica da Universidade do Minho entre 1983 e 2001, o projecto de musealização antevê a construção de um centro interpretativo de 250 metros quadrados, com dois pisos, onde se fará o controlo e o acesso ao sítio arqueológico e se alojará uma área introdutória ao urbanismo de Bracara Augusta, e ainda um miradouro. Para o exterior, está projectada a criação de um jardim público.
O acesso principal ao sítio arqueológico será realizado a partir de um edifício, cuja fachada será reabilitada, na rua Cruz de Pedra, havendo ainda uma entrada secundária a partir da rua do Matadouro. Na entrada principal serão criados percursos nos quais o visitante é atraído por uma linha do tempo que o guiará, com recurso a fotografias e projecções multimédia, desde a Braga contemporânea até à Bracara Augusta.
Projecto pode aumentar turismo cultural
As ruínas das ínsulas romanas de Braga, bem como as termas do Alto da Cividade, estão hoje a descoberto na sequência de extensas escavações realizadas no início dos anos 1980, depois de anos em que parte dos vestígios da Braga romana foi sendo destruída.
Em 1983, a Junta de Freguesia da Sé projectou a construção de uma escola, o que conduziu a uma primeira campanha de escavações, onde foram colocadas a nu as ruínas das Carvalheiras. Anos depois, em 1992, a Câmara de Braga viria a criar um Gabinete de Arqueologia, e desde então foram realizados projectos para preservar importantes testemunhos romanos que sobrevivem na cidade, como são as ruínas na Cividade ou a Fonte do Ídolo.
Segundo a vereadora com o pelouro da Gestão e Conservação de Equipamentos Municipais na Câmara de Braga, Olga Pereira, a musealização das Carvalheiras, cuja área se encontra classificada como Monumento de Interesse Público desde 1990, é um “projecto marcante” para a autarquia e, nomeadamente, para o legado do Gabinete de Arqueologia municipal, sublinhando que o projecto será “muito importante para o turismo cultural” da cidade. “Temos feito um trabalho intenso ao nível da preservação do património histórico que não se circunscreve a este projecto, mas as ruínas das Carvalheiras são um expoente muito importante”, assinala, referindo que no país é rara a existência de espaços de sítios arqueológicos desta natureza.