Acções da Maersk caem 16% com alertas sobre transporte de contentores
Segunda maior empresa mundial de transporte de contentores prevê sobrecapacidade da oferta nos próximos meses, registou perdas trimestrais e cortou o dividendo anual. Títulos estão a cair mais de 16%.
Os títulos do grupo dinamarquês AP Moller-Maersk estão a recuar mais de 16% esta quinta-feira na Bolsa de Copenhaga, depois de a segunda maior companhia mundial de transporte de contentores ter avisado os investidores de que o mercado se encaminha para excesso de capacidade. Com mais oferta, os preços dos fretes – que se elevaram a patamares históricos no período logo a seguir à pandemia – tenderão a ser corrigidos em baixa, levando a uma deterioração da rentabilidade das empresas transportadoras.
O que Vincent Clerc, presidente executivo da Maersk, afirmou ao Financial Times (FT) é que há um número elevado de navios-contentores com entrega prevista às transportadoras este ano e no próximo. E que esta situação levará a um excesso de capacidade para o sector do transporte marítimo de carga.
“Esta sobrecapacidade irá pôr os lucros sob pressão”, disse Vincent Clerc ao FT, e poderá representar algumas dificuldades nos próximos anos. “Estamos face a uma situação que requer muita prudência”, sublinhou.
Para o presidente executivo da Maersk, a capacidade poderá aumentar em cerca de 12%, anualmente, em 2024 e 2025 – num contexto em que a indústria do transporte marítimo de contentores enfrenta um abrandamento, após ter tido um crescimento extraordinário no período pós-pandemia.
Será, afirmou ao jornal económico britânico, “um regresso a uma correcção significativa após os preços muito elevados que se seguiram à covid-19. A sobrecapacidade irá manter-se ainda por algum tempo”, reiterou.
Apesar de os ataques dos houthis aos navios com passagem pelo mar Vermelho e pelo Canal do Suez estarem a desviar as transportadoras marítimas para a rota do Cabo da Boa Esperança, contornando o continente africano – e elevando o preço dos fretes –, o CEO da Maersk não está convencido de que isso altere a perspectiva apresentada esta quinta-feira para o médio prazo.
A “situação ainda está em evolução” e ainda não atingiu o seu pico, defendeu o gestor, mas a previsão do comportamento da oferta e da procura, com base nos dados conhecidos à data de hoje, “irá suplantar o impacto do mar Vermelho”, mesmo que esta situação se prolongue até ao final de 2024, acrescentou.
De lucros a perdas trimestrais
As estimativas do presidente executivo da multinacional foram feitas num dia em que os resultados mais recentes já tinham desiludido os investidores. A empresa anunciou esta quinta-feira ao mercado que nos últimos três meses de 2023 registou uma perda operacional de 537 milhões de dólares (cerca de 499 milhões de euros ao câmbio actual) – o que é comparável com um lucro de 5,1 mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros) no último trimestre de 2022.
O grupo – que já tinha anunciado uma redução de 10.000 postos de trabalho e uma parceria com a rival Hapag-Lloyd, tendo em vista a redução de custos – decidiu também que irá reduzir o dividendo (a remuneração a cada accionista, por título detido), relativo ao exercício de 2023, para 515 coroas dinamarquesas (cerca de 69 euros) por acção. Há um ano, o dividendo anual foi de 4300 coroas dinamarquesas (576 euros).
As notícias desta quinta-feira levaram as acções a resvalar 16,75%, para 10.710 coroas dinamarquesas às 14h45 de Lisboa, a duas horas do encerramento da sessão do dia.