Rocha encurralou Ventura no final de um debate com muito ruído e pouca substância
Presidente do Chega não promete viabilização de governo minoritário de direita. Líder da Iniciativa Liberal diz que Ventura quer “enganar os idosos” e que parece uma “criança num parque de diversões”.
Muito ruído e pouquíssima substância: assim se resume o debate entre Rui Rocha e André Ventura, respectivos líderes da Iniciativa Liberal (IL) e do Chega, esta terça-feira, na SIC Notícias. Apesar de algumas discordâncias no conteúdo — como na TAP ou nas pensões —, o debate fica marcado pelas diferenças na forma: Ventura foi insurrecto, Rocha institucional. No final, perante um desafio inesperado do liberal, Ventura não assume a viabilização de um governo minoritário de direita.
O confronto começou tímido. Fala-se de economia e parece não haver assim tanta divergência: o Chega quer reduzir a carga fiscal — IRC, IMI —, a IL também. Na primeira intervenção, um Ventura calmo dá apenas duas bicadas na IL: que “não tem boa conduta económica”; defende, e que só quer “privatizar e despedir” — o soundbite de Ventura para a noite.
Segue-se Rocha, que logo puxa pelo tema da privatização da TAP para abrir hostilidades. O líder liberal tentou colar o candidato da direita radical a Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, evidenciando que a posição do Chega é a mesma dos socialistas: salvar a TAP. André Ventura é “socialista”, insistiu.
“O Chega defende que a TAP é estratégica. Tem de se salvaguardar os trabalhadores e não se pode privatizar sem garantir, por exemplo, que a Iberia [companhia aérea que opera maioritariamente em Espanha] torna Madrid, e não Lisboa, no centro da Península Ibérica. À IL isso não interessa”, defendeu-se Ventura.
Na resposta, Rocha insistiu no seu soundbite: “Parece que estamos a falar com Pedro Nuno Santos. André Ventura quer aumentar salário mínimo para mil euros — socialista. Quer taxar as bancas e gasolineiras — socialista. Quer a TAP nacionalizada — socialismo. Quer aumentar as pensões para o nível do salário mínimo — socialista”.
O papel
O debate seguiu: agora fala-se sobre as pensões dos idosos. Rocha considera que se a medida proposta pelo Chega fosse implementada, o “futuro do país era a bancarrota”. “Isto é enganar idosos. Não vale tudo, André Ventura”, considera o líder liberal. Ventura riposta, colocando sobre Rocha o ónus de não assumir que quer aumentar as “pensões” e acusando-o de “falta de consciência social”.
Pelo meio, entre constantes interrupções — além de não responder às insistentes questões da moderadora, Ventura fazia perguntas ao seu adversário às quais respondia de imediato, tentando monopolizar o debate e espalhando ruído —, o líder da direita radical ia largando, sem critério ou contexto, como que clicando num botão de emergência, o tema dos aumentos aos “polícias” e “bombeiros”.
E assim, aproveitando a deixa, Rocha descreveu Ventura como “uma criança num parque de diversões: vê os carrosséis e quer andar em todos”. Concretizou: “Aumentar tudo e todos sem critério, baixar impostos, aumentar pensões. Não é o mundo real. Tem de ser chamado à realidade”.
Após uma breve passagem pelo tema da imigração — ambos a querem regulada e dela têm uma visão utilitária, embora o Chega tenha uma posição mais securitária do que a IL —, Rui Rocha, que se mostrou sereno durante o debate, lançou-se ao golpe final.
Dá um papel a Ventura: “Eu, André Ventura, assumo que viabilizarei um governo minoritário entre PSD e a IL”, lê-se. O liberal pede ao radical que o assine, mas o segundo, entre atrapalhação e surpresa, não o faz.
Certo de que tal aconteceria, Rocha remata o debate: “Um voto no Chega é um voto no PS. André Ventura, se tiver oportunidade, coloca o PS no poder”.