Montenegro tenta colar BE à governação do PS, Mortágua acusa AD de favorecer privados

Líder da Aliança Democrática considera que modelo económico defendido pelo BE já fracassou nos países de Leste. Mariana Mortágua acusa Montenegro de usar o Estado para favorecer lucros dos privados.

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Mariana Mortagua e Luis Montenegro deixaram transparecer os contrastes entre as propostas de cada partido NFS Nuno Ferreira Santos
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Num debate vivo em que se falou de saúde, habitação e impostos, ficaram claros os contrastes sobre o modelo económico proposto pela Aliança Democrática (AD) e pelo Bloco de Esquerda (BE): Luís Montenegro apoia a iniciativa privada, Mariana Mortágua defende a intervenção do Estado.

Já na recta final do debate, o líder da AD reforçou o argumento da necessidade de criar condições para atrair investimento estrangeiro, que diz estar a fugir para países ex-comunistas como a Hungria e a Polónia. “Os modelos económicos fazem a diferença. O seu modelo já foi rejeitado historicamente no Leste da Europa. A sua intenção pode ser muito boa, o resultado da sua política é o agravamento da pobreza”, rematou Montenegro, depois de Mariana Mortágua ter recuperado uma frase que o líder do PSD disse no tempo em que o país estava sob intervenção da troika. “Luís Montenegro tem uma máxima: a economia está melhor e as pessoas estão pior”, recordou, tendo recebido resposta: “Essa máxima tem um contexto histórico. A sua é: o país está pior, as pessoas estão muitíssimo pior.”

A diferença de projectos entre os dois partidos começou a reflectir-se na área da saúde, quando Mariana Mortágua criticou a proposta – “cópia radical da IL e Chega” – dos cheques-cirurgia por considerar que, além de serem ineficazes, iriam provocar uma onda de contratação de médicos ao SNS por parte dos privados. A coordenadora do BE atirou-se à proposta do regresso das PPP na saúde. “O PSD quer entregar a saúde a quem quer burlar a saúde”, acusou, referindo as irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas nos hospitais com gestão público-privada.

O entusiasmo de Mariana Mortágua na defesa do SNS não passou em branco. “Faz dela candidata a ministra da Saúde se ele [Pedro Nuno Santos] algum dia formar governo”, disse Montenegro em jeito de provocação, depois de já ter colado a líder bloquista à "geringonça": “É co-responsável pelo pior desempenho da saúde na democracia."

Na habitação, voltaram a perceber-se os contrastes entre as duas visões. A líder do BE defendeu a proposta de impor tecto às rendas e a descida das taxas de juro nos créditos à habitação ao mesmo tempo que apontava o dedo à direita por favorecer os privados, por aplicar a chamada lei Cristas e por ter criado os vistos gold. “Para o PSD, o Estado só serve para garantir lucros aos privados. Agiu sobre a oferta, expulsaram os idosos, eu vi idosos a serem expulsos, eu conheço o pânico, essa foi uma responsabilidade do PSD”, apontou, ao mesmo tempo que Montenegro tentava contrariar: “Não é verdade.”

Sobre a recuperação de imóveis, Luís Montenegro deu o seu testemunho pessoal ao referir que, no seu roteiro pelo país, tem pernoitado em unidades de alojamento local, e que concluiu só ser possível a recuperação de imóveis se for rentável para os investidores. Por outro lado, o líder da AD defendeu a necessidade de aumentar a oferta através de estímulos ao investimento privado para construir. “Não me diga que o problema é de construção. O que eu quero é decência e sensatez. Não há coisa mais extremista do que 1500 euros por um T0 em Lisboa”, contrapôs Mortágua.

Nos impostos, Montenegro defendeu as ideias de dar uma “folga” à classe média com a descida do IRS, de beneficiar os jovens com uma taxa máxima de 15% e de reduzir o IRC para as empresas. Uma receita errada, segundo a líder bloquista, que lembrou, por exemplo, que “a maioria das empresas em Portugal não pagam IRC” por serem pequenas ou médias.

O duelo juntou dois líderes políticos que estão a lidar com diferentes resultados nas eleições dos Açores: A AD ganhou, embora sem maioria absoluta; o BE perdeu um deputado e ficou sem grupo parlamentar. Montenegro reiterou que só uma aliança entre o PS e o Chega poderá obstaculizar um governo minoritário. Já Mortágua reafirmou que o Bloco continuará a ser oposição a um executivo cuja governação teve consequências “devastadoras para a região”.

Num debate em que os tempos de intervenção de cada candidato são contabilizados, os dois protagonistas falaram por vezes ao mesmo tempo durante alguns segundos. Ficou o momento em que Montenegro queria interromper a sua adversária: “Posso interromper?”. “Não, não pode”, respondeu prontamente Mortágua. O social-democrata replicou: “Poder posso mas não quero.”

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