Biden vence primária da Carolina do Sul com 96% dos votos
No estado que marcou o início da sua caminhada vitoriosa em 2020, o Presidente dos Estados Unidos voltou a mostrar que não tem oposição interna em 2024.
Sem surpresas, Joe Biden foi declarado o vencedor da eleição primária do Partido Democrata na Carolina do Sul, ao início da madrugada deste domingo.
Numa corrida com apenas três candidatos, o congressista Dean Phillips e a escritora Marianne Williamson ficaram muito longe de conseguirem incomodar o favoritismo de Biden.
Tipicamente, os presidentes dos EUA em exercício de funções que se recandidatam a um segundo mandato não enfrentam uma oposição de peso no interior do seu partido. Foi isso que aconteceu no Partido Republicano em 2020, quando Donald Trump se recandidatou sem oposição no seu partido, acabando por perder no confronto com Biden na eleição geral.
Este ano, devido à idade avançada de Biden (o Presidente dos EUA vai comemorar o seu 82.º aniversário em Novembro, duas semanas após a próxima eleição presidencial), o Partido Republicano tem tentado capitalizar o pouco entusiasmo de uma parte do Partido Democrata à volta do candidato — o que também aconteceu em 2020, quando Biden chegou a ser dado como derrotado após as duas votações iniciais nas primárias desse ano, no Iowa e no New Hampshire.
Apesar disso, quaisquer rumores sobre a possibilidade de um golpe de teatro na convenção nacional do Partido Democrata, no Verão (por exemplo, com o aparecimento de uma outra figura ligada ao partido, que tiraria a Biden a nomeação conquistada nas urnas), não passam, nesta altura, de propaganda promovida pelos sectores mais à direita do Partido Republicano.
Em 2016, quando se tornou claro que Trump iria ser o nomeado dos republicanos para a eleição presidencial desse ano, falou-se muito sobre a hipótese de a ala antitrumpista travar a nomeação do candidato, através do apoio a uma outra figura do partido na convenção nacional — nessa altura, os nomes mais falados foram o do senador do Texas, Ted Cruz, que terminou as primárias de 2016 atrás de Trump; e o de Mitt Romney, candidato presidencial em 2012.
As regras permitem este tipo de solução, através daquilo a que se chama uma "convenção contestada" — ou seja, a nomeação de última hora de um candidato que pode até nem ter participado nas primárias —, mas esse cenário deixou de ser uma hipótese real nas últimas décadas, à medida que os dois partidos foram reforçando cada vez mais o seu controlo sobre as nomeações.
Sem oposição
Na Carolina do Sul, Biden obteve um resultado ainda mais expressivo do que na primeira votação do ano (64%), no New Hampshire, a 23 de Janeiro. Desta vez, o Presidente dos EUA recebeu 96% dos votos, contra 2,1% de Williamson e 1,7% de Phillips, e conquistou todos os 55 delegados que estavam em jogo.
A votação no New Hampshire não contou para a atribuição de delegados aos candidatos, já que o Partido Democrata daquele estado decidiu não estar presente na convenção nacional do partido, no próximo Verão, onde o vencedor das primárias vai ser confirmado como candidato à Casa Branca na eleição geral.
Em 2023, Biden e o Partido Democrata decidiram que o calendário das primárias de 2024 ia começar na Carolina do Sul, e não no New Hampshire, devido à maior diversidade populacional daquele estado. Segundo o Partido Democrata, a Carolina do Sul, com cerca de 30% de população negra, é mais representativa dos EUA do que o New Hampshire, onde mais de 90% da população é branca.
Devido ao desentendimento entre o Partido Democrata nacional e a delegação do partido no New Hampshire, Biden não surgiu como candidato nos boletins de voto a 23 de Janeiro. Apesar disso, os seus apoiantes apelaram aos eleitores para que inscrevessem o nome do Presidente dos EUA nos boletins, num espaço reservado para esse efeito, e Biden recebeu mais 55 mil votos do que Phillips e mais 75 mil votos do que Williamson.
A troca também se explica pelo facto de a Carolina do Sul ter marcado o início de uma reviravolta na campanha de Biden nas primárias de 2020. Foi lá, com a contribuição decisiva do eleitorado negro do estado, que o actual Presidente dos EUA partiu para a nomeação, depois de derrotas nas votações no Iowa e no New Hampshire.
Apesar dos baixos índices de popularidade de Biden no país, e do pouco entusiasmo nas sondagens em relação à recuperação económica iniciada no seu mandato, é altamente improvável que o Presidente dos EUA deixe escapar a nomeação para uma segunda candidatura à Casa Branca, onde deverá enfrentar Donald Trump, numa repetição do que aconteceu em 2020.