Inflação da zona euro recuou para 2,8% em Janeiro
Indicador retomou em Janeiro a curva descendente interrompida em Dezembro, mas recuo de 0,1 pontos percentuais e os preços nos serviços e alimentos enfraquecem hipótese de corte de juros mais cedo.
A inflação nos 20 países da moeda única europeia desceu 0,1 pontos percentuais em Janeiro, para 2,8%, em linha com o que era esperado, segundo a primeira estimativa divulgada esta quinta-feira pelo Eurostat. A autoridade estatística europeia alerta, no entanto, que apesar de este indicador se aproximar do valor de 2%, que é a meta da política monetária do Banco Central Europeu, a chamada inflação subjacente, que elimina das contas os produtos mais voláteis, energéticos e alimentares não processados, continua distante desse objectivo, nos 3,3%, apesar de também ter registado uma descida de 0,1 pontos percentuais face a Dezembro de 2023.
Este cenário torna menos provável um corte em breve nas taxas de juro do BCE no curto prazo, que servem de referência ao mercado da zona euro. Christine Lagarde, presidente da instituição, alertou em Janeiro que ainda seria cedo para pensar nisso, alegando que ainda há muitas incertezas. Apesar de se estar a formar um consenso de que, não havendo choques com impacto na inflação, tal decisão possa surgir por volta do Verão, afirmou Christine Lagarde durante a cimeira de Davos.
Na última reunião da autoridade monetária europeia, a 25 de Janeiro, foi decidido manter as taxas de juro inalteradas, nos 4%. O mesmo fez a sua congénere nos EUA, a Reserva Federal (Fed), que, na quarta-feira, também não mexeu no nível actual, justificando que primeiro é necessário ter "maior confiança de que a inflação está a evoluir de forma sustentável para 2%".
Embora haja quem aposte num corte para Abril, os preços continuam a subir ao mesmo ritmo nos serviços e nos salários. As autoridades monetárias olham com preocupação para a tensão no Médio Oriente, em particular no mar Vermelho. As dificuldades no transporte marítimo através do canal do Suez criam riscos de maior inflação, contribuindo assim para os que, tanto no BCE como na Fed, argumentam que ainda não se está perante uma descida controlada dos preços.
Nas estimativas do BCE, a inflação só deverá descer para os 2% em 2025. O que não significa que as taxas de juro não possam ser aliviadas antes, o que se reflectiria num desagravamento paulatino nos custos de financiamento das empresas e do crédito às famílias, por exemplo nos empréstimos à habitação.
Pela positiva, há a assinalar que a inflação harmonizada (que permite comparações entre economias) volta a afastar-se dos dois dígitos (que tinha abandonado em Novembro de 2022), é substancialmente mais baixa do que os 8,7% de há um ano e regressa à tendência de descida, depois da interrupção entre Novembro e Dezembro, quando este indicador voltou a subir dos 2,4% para 2,9%, quebrando uma curva descendente iniciada em Abril de 2023.
Analisando para os últimos dados, a subida dos preços nos serviços é a que mais contribui (44,9%) para o actual nível da inflação harmonizada. Segue-se os bens industriais não energéticos (25,7%). Alimentação, álcool e tabaco, por seu lado, representam 19,5% desta inflação e a energia, longe dos picos do passado recente, contribuem com 9,9%. Apesar de estas duas categorias representarem menos de um terço, elas "podem ter impactos significativos no índice de preços, dado que os preços tendem a flutuar de forma mais relevante do que as restantes componentes", como sublinha o Eurostat.
No Reino Unido, o Banco de Inglaterra seguiu o exemplo dos EUA e da zona euro, mantendo as taxas de juro no intervalo actual. No final da reunião do comité de política monetária desta quinta-feira, o governador Andrew Bailey afirmou que a evolução vai "no sentido certo", mas considerou também que a economia britânica "ainda não chegou ao ponto que permite cortar nas taxas de juro".
O mesmo responsável abordou ainda as "fraquezas do comércio internacional", preocupações que também são partilhadas na sede do BCE, em Frankfurt. Deixou, no entanto, algumas ideias que sinalizam que a política monetária se aproxima gradualmente de uma viragem.
"A questão, para nós, neste momento, já não é quão restritiva deve ser esta política, mas por quanto tempo deve permanecer assim", referiu, citado pela agência Reuters. "Não precisamos de ter a inflação nos 2%, basta que tenhamos a certeza de que ela está a encaminhar-se para esse valor", acrescentou. Porém, os dados mais recentes, relativos a Dezembro, indicam que a inflação no Reino Unido ainda estava nos 4%. O valor de Janeiro será divulgado dentro de duas semanas.