Amália em digressão nacional no grande ecrã com As Ilhas Encantadas
O filme de Carlos Vilardebó que foi o grande papel dramático de Amália, restaurado pela Cinemateca Portuguesa, chega a partir de hoje às salas de cinema, acompanhado por um ciclo sobre o realizador.
A promessa estava feita desde o ano passado, aquando da exibição no Festival Lumière de Lyon em Novembro; e cumpre-se agora, a partir desta quinta-feira e ao longo das próximas semanas. As Ilhas Encantadas, a única longa-metragem do luso-francês Carlos Vilardebó (1926-2019), com Amália Rodrigues no papel principal, regressa às salas portuguesas, onde não é vista desde a sua estreia em 1965, na cópia restaurada pela Cinemateca Portuguesa no âmbito do projecto FILMar.
O filme de 1965, baseado num conto de Herman Melville, inicia hoje uma “digressão nacional”, em colaboração com cineclubes e projectos de exibição locais, com sessões em Évora (esta quinta-feira, Auditório Soror Mariana Alcoforado) e Coimbra (esta quinta-feira, na Casa do Cinema, onde continuará em cartaz até dia 7). Em simultâneo, será mostrado no Funchal (dia 3, NOS Forum Madeira), Mealhada (dia 8, Cine-Teatro Messias) e Guimarães (dia 13, Centro Cultural Vila Flor) antes de chegar a Lisboa e Porto. Na capital, o cinema Ideal recebe o filme durante uma semana (de 15 a 21); no Porto, haverá uma sessão única no Batalha Centro de Cinema (dia 24). Em Lisboa e Porto, as sessões serão acompanhadas por um teledisco pioneiro do fado Gaivota, dirigido por Vilardebó em 1961. Seguir-se-ão ainda exibições em Elvas, Montemor-o-Novo e Santarém. Fora de território nacional, será ainda exibido no dia 7, na Cinemateca do Luxemburgo.
À altura da sua estreia, As Ilhas Encantadas recebeu elogios da crítica francesa (por oposição à indiferença, mesmo hostilidade, da recepção em Portugal), mas o seu insucesso nas bilheteiras seria marcante para as ambições de todos os envolvidos. Para António da Cunha Telles, abriu a porta à falência da sua casa produtora; impossibilitaria a Amália uma carreira séria de actriz, apesar dos grandes elogios à sua actuação; finalmente, fechou praticamente as portas das longas ao seu realizador, que tentou ainda montar um projecto com Romy Schneider sem sucesso. A recente exibição em Lyon permitiu a sua redescoberta — Jean-Marc Lalanne, na revista Les Inrockuptibles, chamou-lhe “uma maravilha”, comparando-o favoravelmente à Medeia de Pasolini.
Entretanto, o realizador nascido em Lisboa mas criado em França é também alvo de um ciclo a decorrer na Cinemateca de 26 a 29 de Fevereiro, O Intruso do Cinema Novo. Assistente de realização de Jean-Pierre Melville, Julien Duvivier ou Agnès Varda, mais próximo da Nouvelle Vague francesa do que do Cinema Novo português (com o qual quase não tinha ligações, para lá da sua amizade com o produtor Cunha Telles), Vilardebó fez nome como documentarista e sobretudo na filmagem da arte moderna.
Ao longo de três sessões, que contarão com a presença do historiador e programador Federico Rossin, serão exibidas 17 das muitas curtas-metragens que realizou, entre as quais La Petite Cuillère (1960), que lhe valeu a Palma de Ouro da curta-metragem em Cannes. Uma quarta sessão exibirá a versão estreada em França de As Ilhas Encantadas, com menos oito minutos e uma montagem diferente da que Portugal viu em 1965.
Carlos Vilardebó será também evocado na Biblioteca de Marvila, onde estará patente a partir de dia 18 de Fevereiro e até 20 de Abril a exposição Augusto Cabrita: O Olhar Encantado, já apresentada no Curtas Vila do Conde em 2023. Cabrita foi operador de segunda câmara do director de fotografia Jean Rabier durante a rodagem de As Ilhas Encantadas, tirando então inúmeras imagens de rodagem que estão patentes na exposição, e co-dirigiu com Vilardebó a curta de 1966 Os Caminhos do Sol, que será exibida no âmbito da exposição.