“Muito atenta” à inflação, Fed mantém taxas de juro inalteradas
Perspectivas económicas na maior economia do mundo “são incertas”, avisa a autoridade monetária. Taxas de juro de referência continuarão até Março no intervalo actual, de 5,25% e 5,5%.
A expectativa dos mercados era essa e a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) confirmou-a: nas próximas sete semanas, a principal taxa de juro de referência da maior economia mundial vai continuar no mesmo nível em que está agora.
Ao fim de dois dias de reunião, o comité que define a política monetária da Fed decidiu, nesta quarta-feira, manter as taxas de referência dos fundos federais inalteradas, num intervalo entre 5,25% e 5,5%.
Apesar da melhoria da actividade económica e da tendência de recuperação do mercado de trabalho, há sinais contraditórios em relação à evolução da inflação e, por isso, a Fed optou pela prudência, dando aos mercados financeiros um sinal de que não baixará a guarda até que a variação dos preços abrande de forma consistente e prolongada no tempo.
“As perspectivas económicas são incertas e o comité [de política monetária] continua muito atento aos riscos de inflação”, sublinha a Reserva Federal no comunicado emitido após a reunião de Janeiro, explicando que o valor das taxas continuará igual porque o comité não considera “apropriado” reduzir aquele intervalo até que “tenha adquirido maior confiança de que a inflação está a evoluir de forma sustentável para 2%”.
As taxas de juro oficiais da Fed funcionam como guias para a formação das taxas de juro no mercado interbancário norte-americano, à semelhança do que acontece na zona euro com as taxas fixadas regularmente pelo Banco Central Europeu (BCE), onde a política monetária de resposta à inflação começou mais tarde do que nos Estados Unidos.
No final de 2023, a maior economia do mundo voltou a enfrentar um agravamento da inflação, com o índice de preços a interromper a trajectória de abrandamento que se verificava nos meses anteriores. Em Dezembro, a taxa acelerou, passando dos 3,1% em Novembro para 3,4% em Dezembro, terminando o ano no valor mais alto dos últimos três meses de 2023. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego de Dezembro manteve-se estável face a Novembro, permanecendo nos 3,7% (em Outubro estava em 3,9% e em Setembro nos 3,8%).
A Fed sublinha que o seu mandato inclui concretizar dois objectivos simultâneos: conseguir que a economia atinja “um nível máximo de emprego e uma inflação de 2% no longo prazo”. E, neste momento, diz, “os riscos” que se colocam no caminho para concretizar esses dois objectivos “estão a tornar-se mais equilibrados”, continuando a “fortemente” empenhada em fazer regressar a inflação ao seu objectivo de 2%, tendo em conta a evolução dos vários indicadores económicos.
Os dados “recentes sugerem que a actividade económica tem vindo a expandir-se a um ritmo forte”, mas, em contraponto, “as melhorias no emprego atenuaram-se desde o início do ano passado”, ainda que permaneçam “sólidas” e a taxa de desemprego continue “baixa”. E se a inflação “abrandou no último ano”, continua “elevada”.
Em todo o caso, a instituição presidida por Jerome Powell diz estar prepara para “ajustar a orientação da política monetária, conforme apropriado, se surgirem riscos que possam impedir a concretização dos objectivos” da Fed.
Para decidir, a instituição diz que continuará atenta a um vasto “leque de informações”: não apenas sobre “as condições do mercado de trabalho, as pressões inflacionistas e as expectativas de inflação”, mas também a “evolução financeira e internacional”.
A próxima reunião em que a Fed voltará a fixar o valor as taxas de juro está agendada para 19 e 20 de Março, altura em que a entidade também divulgará as suas novas previsões de crescimento para a economia norte-americana.
Na Europa, onde, na semana passada, o BCE decidiu igualmente manter as taxas de juro inalteradas, a expectativa de investidores nos mercados financeiros é a de que a autoridade irá inverter a política monetária para a zona euro a partir de Abril, com uma descida dos juros. Neste momento, a taxa de juro da facilidade permanente de depósito – a que define os custos dos empréstimos pedidos pelos bancos junto do banco central – continua nos 4%.