Fernando Madureira, o nome que se confunde com o “dragão”

No centro da actualidade está o miúdo irrequieto da Ribeira, chefe de família, mestre de gestão e íman de polémicas que gravitam em torno da claque do FC Porto.

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Fernando Augusto da Silva Monteiro Madureira voltou esta manhã a preencher o espaço mediático, fruto da detenção de que foi alvo, juntamente com a mulher, Sandra Madureira, e mais uma dezena de elementos com ligação aos Super Dragões, grupo de que Madureira é o rosto visível.

Mas quem é, afinal, o líder da claque mais célebre do FC Porto? Quem é este homem natural da Ribeira, onde nasceu a 13 de Maio de 1975 – há 48 anos, portanto –, e que de modesto avançado de emblemas menores chegou ao topo da hierarquia de uma das claques mais badaladas do país?

Sobre as origens, o PÚBLICO deixou algumas pistas em 2007, num texto que revela uma faceta menos conhecida do “ruço”: a de bom primo, marido, genro e chefe de família. O “cognome” foi-lhe atribuído, de acordo com essa incursão ao círculo mais íntimo de Madureira, pelo facto de andar constantemente aos saltos.

Assim, de jovem promessa do Ribeirense a “veterano” do Canelas ou do Castelo da Maia dista toda uma história umbilicalmente ligada à claque portista, que, entretanto, “sublimou”… entre acusações, processos, suspensões, condenações e absolvições, para além das ramificações a outras áreas polémicas de âmbito policial relacionadas com a noite da cidade.

Os negócios relacionados com o futebol ou a restauração, os sinais exteriores de riqueza e as explicações apresentadas ao longo das últimas três décadas deixam Fernando Madureira ainda mais exposto ao escrutínio público, mesmo que já há 17 anos reafirmasse que nada tinha a esconder ou a temer.

"Fama" internacional

Dez anos depois desse testemunho, em que a própria mulher, Sandra, explicava a fixação dos media e a suspeição das autoridades em relação ao líder dos Super Dragões com base no historial da claque na fase do “partiam tudo”, a alcunha "Macaco" continuava associada aos episódios que aterrorizavam donos e clientes de estações de serviço e de lojas nas deslocações da claque, no país ou no estrangeiro.

Incidentes que não se coibiu, de resto, de "documentar" num livro publicado em Dezembro de 2005 com o título Fernando Madureira - O Líder, em que dá conta de vários episódios de violência, coacção e assédio nas deslocações para acompanhar o FC Porto, quer a nível nacional, quer fora de portas.

Em 2018, Madureira foi condenado pelo Tribunal de Oliveira do Bairro a um ano e quatro meses de prisão, substituídos por 480 horas de trabalho a favor da comunidade, por um crime de atentado à segurança rodoviária, por em 2015 ter imobilizado o autocarro da claque na auto-estrada para trocar insultos com adeptos do Benfica que seguiam em sentido contrário.

Uma fama que ultrapassou fronteiras, ao ponto de o New York Times ter enviado um repórter a Canelas para contar a história a que Rory Smith deu o título de “A assustadora equipa de futebol que ninguém quer defrontar”. Uma história sobre o Canelas 2010, clube capitaneado por Madureira que integrava vários elementos da claque dos Super Dragões e que ficou famoso pelos piores motivos.

Também, apesar da absolvição, o episódio Chapacoense – "Quem me dera que o avião da Chapecoense fosse do Benfica" –, com o cântico, no Dragão Caixa, motivado pela queda do avião do clube brasileiro que provocou a morte a 71 pessoas, projectou a claque portista no plano da indignação internacional.

Mestrado investigado

A história de Madureira pode, assim, ser confundida com um puzzle feito de fragmentos de violência e intimidação, como os acrescentados na recente assembleia-geral do FC Porto, suspensa após insultos e agressões a associados do próprio clube.

Mas também com episódios totalmente inesperados, como o do mestrado em Gestão do Desporto concluído com 17 valores no Instituto Universitário da Maia (Ismai) e posteriormente investigado a pedido do reitor, que remeteu a dissertação de Fernando Madureira para averiguação pela Inspecção-Geral da Educação e Ciência. Até para eliminar quaisquer dúvidas sobre os procedimentos na avaliação.

Dissertação em que o autor cita José Maria Pedroto (“No FC Porto, os problemas não se levantam porque nunca chegam a existir”) e visa, “através da análise de várias técnicas de marketing”, encontrar “as melhores formas de atingir o objectivo do projecto - encontrar uma estratégia capaz de agregar mais adeptos para o estádio e, consequentemente, encontrar formas de dinamizar e criar mais acção na Bancada Sul do Estádio do Dragão”.

Nesta reflexão, Madureira reserva um lugar à estratégia de bilhética, área que contaria com a dedicação da mulher, uma ex-funcionária dos Correios que concluiu naquele instituto da Maia o mestrado em Psicologia Clínica Forense.

Agora, na antecâmara das eleições do clube, depois de uma participação activa dos Super Dragões, Fernando Madureira enfrenta nova “batalha” em que terá de explicar à justiça a proveniência da arma, de drogas e milhares de euros encontrados pela polícia nas buscas desta quarta-feira.

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