Akram Khan e Clara Andermatt na temporada dos Estúdios Victor Córdon

Primeira programação concebida e anunciada enquanto plataforma de criação artística autómoma dentro do Opart foi anunciada esta quarta-feira.

Foto
Kaash, de Akram Khan K2-JeanLouisFernandez
Ouça este artigo
00:00
04:26

A obra do coreógrafo britânico Akram Khan, uma nova peça da portuguesa Clara Andermatt e a companhia Teatro Praga vão marcar a programação dos Estúdios Victor Córdon (EVC), em Lisboa, anunciada esta quarta-feira.

Formalizado o seu estatuto de unidade orgânica dentro do Opart – ​Organismo de Produção Artística, é a primeira vez que os EVC, dirigidos por Rui Lopes Graça, anunciam a sua temporada enquanto plataforma de criação, "afirmando a sua autonomia artística, e passando agora a uma nova fase no seu crescimento", lê-se na programação.

Criados para "apoiar a comunidade artística independente e abrir espaço a vozes vindas de geografias e contextos diversos", os EVC vão contar ainda com os criadores Crystal Pite, Teresa Silva, Carlota Lagido, Piny, o compositor Luís Tinoco e o coreógrafo moçambicano Panaibra Canda, entre outros nomes.

Para Rui Lopes Graça, "é essencial promover iniciativas que apoiem o início de carreiras, que intensifiquem o movimento de artistas dos e nos PALOP [Países de Língua Oficial Portuguesa], que proporcionem espaços de presença das comunidades imigrantes e descendentes residentes em Portugal e que, de forma geral, sejam um exemplo da democratização do acesso às instituições culturais".

"Nesse sentido, o nosso tempo deverá ser um tempo de acção continuada", com vista ao "reconhecimento de cada pessoa com dignidade e respeito", reflectindo o estado de um mundo sobre o qual "é urgente pensar e agir", acrescenta.

Depois da estreia, em 2023, no Porto, de Bantu, uma criação de Victor Hugo Pontes que nasce de uma parceria entre os EVC e o Camões -- Centro Cultural Português em Maputo, com um elenco português e moçambicano, o espectáculo irá em digressão por Portugal, começando por Guimarães, no festival GUIdance, na quinta-feira.

Passará ainda em Fevereiro por Águeda (Centro de Artes), Leiria (Teatro José Lúcio da Silva), Ovar (Centro de Arte de Ovar) e Coimbra (Teatro Académico Gil Vicente). Em Março vai ao Funchal (Teatro Municipal Baltazar Dias), e a Loulé (Cineteatro Louletano), e em Abril estará em Torres Vedras (Teatro-Cine Torres Vedras).

Outros Mundos, um novo programa dos EVC dedicado a comunidades migrantes residentes em Portugal, propõe, através do estudo das suas culturas, criar objectos de partilha e interacção pública, tendo elegido este ano como país-alvo o Irão, sobre o qual incidirá a nova criação de Clara Andermatt, a estrear em Janeiro de 2025.

O programa Território, direccionado para jovens bailarinos de todo o país, trará a Portugal o coreógrafo britânico-bangladeshiano Akram Khan e o norte-americano Jermaine Spivey, para interpretar as peças Kaash, de Khan, e ensaiar uma nova criação de Spivey.

O espectáculo tem estreia marcada para o Teatro Carlos Alberto, no Porto, no dia 19, sendo também apresentado a 20 de Julho, e depois irá em digressão por Aveiro, Leiria e Lisboa, com mecenato da Fundação Millennium bcp.

Com o objectivo de "estabelecer, para o futuro, uma estrutura sólida de apoio à criação e circulação para artistas dos países de língua oficial portuguesa e de Portugal", os EVC desenvolvem este ano a Rede de Residências PALOP, coordenada pelo artista moçambicano Panaibra Canda, que consiste em cinco semanas de residência de criação, incluindo workshops, conversas e mostras, em várias cidades portuguesas, e uma apresentação final em Maputo.

Numa nova edição do programa Em Casa, que visa proporcionar um espaço de trabalho contínuo a um artista por ano, acolherá as propostas de Teresa Silva, artista nascida em Lisboa, em 1988, que se dedica à investigação, criação e interpretação nas áreas da dança contemporânea e da performance desde 2008, e que dará a conhecer as várias facetas do seu trabalho.

O ciclo Encontros para o Futuro chega este ano à sua 6.ª edição, dedicada à realidade das comunidades migrantes residentes em Portugal, e tem este ano como título A par e passo.

Irá consistir num conjunto de três conversas com a curadoria do Teatro Praga, que pretende reflectir sobre o reconhecimento de artistas migrantes e das suas práticas, que estando presentes no espaço público, "são muitas vezes invisibilizadas por múltiplos factores sociais", aponta a programação.

No espaço expositivo à entrada dos EVC, está ainda prevista uma série de exposições com curadoria da coreógrafa Carlota Lagido, que levará a proposta Cérebro, olhos, mãos e papel, no âmbito da qual convida três artistas das artes performativas com uma forte ligação às artes visuais para exporem essa dimensão do seu trabalho.

Luís Guerra será o primeiro, com inauguração marcada já para Fevereiro, seguindo-se João Galante e Elisabete Francisca. O espaço também acolherá o trabalho fotográfico de Guilherme Gouveia, que exporá o resultado da sua residência artística nos EVC.