Críticas a Israel afastam Laurie Anderson de universidade alemã

A artista norte-americana desistiu de ensinar na Universidade Folkwang para as Artes, em Essen, após a instituição ter querido saber qual era hoje a sua posição face à guerra em Gaza.

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Laurie Anderson em 2007 DR
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Artista multidisciplinar e nome cimeiro da música pop experimental, Laurie Anderson tinha aceitado ser professora convidada da cátedra Pina Bausch na Universidade Folkwang para as Artes, em Essen, na Alemanha, mas acabou por recuar quando a instituição, sabendo que esta tinha assinado em 2021 uma Carta Contra o Apartheid lançada por artistas palestinianos, tentou averiguar se a norte-americana mantinha as suas críticas à política israelita após o ataque do Hamas do dia 7 de Outubro.

“Não foi de ânimo leve que a Universidade, a Fundação Pina Bausch [que patrocina a cátedra] e Laurie Anderson tomaram esta decisão”, lê-se no site da instituição.

“A questão não é saber se as minhas opiniões políticas se alteraram. A verdadeira questão é saber, em primeiro lugar, porque é que esta pergunta está a ser colocada”, afirmou por sua vez a artista. “Tendo em conta esta situação, retirei-me do projecto. Os meus colegas na Universidade Folkwang e na Fundação Pina Bausch discutiram longamente comigo e chegámos à decisão conjunta de que este é o melhor caminho a seguir”, concluiu Laurie Anderson, que deveria assumir o cargo em Abril.

A Universidade justificou a sua preocupação de que pudessem não existir condições para uma docência “focada” e “sem perturbações” com o argumento de que o documento subscrito por Anderson secundava as exigências de pressão financeira e cultural sobre Israel assumidas pelo movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que uma resolução aprovada em 2019 pelo Parlamento alemão considera anti-semita, vedando o financiamento estatal a quaisquer estruturas ou pessoas que com ele se relacionem ou lhe manifestem apoio.

O governo estadual de Berlim tinha ido ainda mais longe com a aprovação, no dia 4 de Janeiro, de uma efémera “cláusula anti-discriminação” que os artistas passariam a ter de cumprir para poderem candidatar-se a qualquer financiamento público. A decisão levantou grandes protestos no meio cultural, com milhares de artistas a ameaçarem boicotar as instituições culturais por todo o país, o que levou à revogação da cláusula no passado dia 22.

Desde o ataque do Hamas a 7 de Outubro, trava-se na Alemanha um debate cada vez mais extremado em torno dos limites da liberdade artística e de expressão, com uma série de museus, universidades e outras instituições a cancelar artistas e intelectuais que critiquem, mesmo que apenas nas redes sociais, a resposta israelita ao ataque do Hamas, ou que se limitem a expressar solidariedade com as vítimas palestinianas da invasão de Gaza.

O lugar de professora convidada da cátedra Pina Bausch só foi criado em 2022, e Laurie Anderson seria a segunda pessoa a ocupá-lo, após a performer sérvia Marina Abramović, se não se tivesse agora vindo juntar à já extensa lista de artistas alemães e estrangeiros que abandonaram cargos ou viram cancelados os seus projectos na sequência de tomadas de posição contra a actual política israelita.

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