Israel acredita que 10% dos funcionários da UNRWA têm laços com grupos armados

Dez países já suspenderam o financiamento à agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos. Em Gaza, dois milhões de pessoas dependem da assistência distribuída pela UNRWA.

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Sacos de farinha distribuídos pela UNRWA em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, junto à fronteira com o Egipto IBRAHEEM ABU MUSTAFA/Reuters
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Segundo informações dos serviços secretos de Israel reunidas num dossier enviado para Washington, pelo menos 12 funcionários da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) participaram ou estiveram de alguma forma envolvidos no ataque do Hamas de 7 de Outubro, quando centenas de militantes atacaram comunidades israelitas junto à Faixa de Gaza, matando quase 1200 pessoas e raptando mais de 250. De acordo com as mesmas informações, cerca de 10% dos mais de 12 mil funcionários da UNRWA em Gaza têm laços com o Hamas ou com outros grupos islamistas, como a Jihad Islâmica.

O dossier israelita, apresentado à Administração de Joe Biden na sexta-feira, inclui a lista e os cargos dos 12 funcionários e as alegações contra cada um deles, escreve o diário The New York Times, que teve acesso ao documento no domingo. Segundo essas informações, seis atravessaram a fronteira nesse sábado de manhã para participarem nas operações, dois ajudaram a raptar israelitas, dois “foram localizados em locais onde muitos israelitas foram mortos” e outros coordenaram a logística do ataque, “incluindo a aquisição de armas”, escreve o jornal The Wall Street Journal, que também consultou os documentos.

Israel terá conseguido reconstituir os movimentos dos seis funcionários que participaram nos ataques através dos dados dos seus telefones que mostram onde estiveram no país. Outros funcionários terão discutido o seu envolvimento a partir de telefonemas feitos de dentro de Gaza, dizem os israelitas com base em escutas telefónicas. Três funcionários receberam mensagens de texto com ordens para se apresentarem em vários pontos de reunião, no dia 7, incluindo um que recebeu instruções para levar lança-granadas que teria em casa.

Dos 12 acusados, Israel descreve dez como membros do Hamas e um como associado da Jihad Islâmica. Sete são professores em escolas da UNRWA, dois trabalham em escolas noutras funções, um é descrito como assistente social, outro como gerente de armazém e um como funcionário administrativo. De acordo com o diário de Nova Iorque, a acusação mais pormenorizada diz respeito a um conselheiro escolar da cidade de Khan Yunis, no Sul de Gaza, acusado de “trabalhar com o seu filho para raptar uma mulher de Israel”. O jornal destaca ainda que o assistente social do campo de refugiados de Nuseirat, no Centro de Gaza, é acusado de distribuir munições e de coordenar viaturas usadas a 7 de Outubro, assim como de ajudar a trazer o corpo de um soldado israelita para o enclave palestiniano.

“Das 12 pessoas implicadas, nove foram imediatamente identificadas e despedidas pelo comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini; um foi confirmado como estando morto e a identidade de dois outros está a ser clarificada”, afirmou no domingo, num comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Segundo o dossier, dois dos alegados operacionais já terão sido mortos pelas forças israelitas. E entre os 10% ligados aos grupos armados, 190 são “combatentes reincidentes, assassinos”, disse à agência Reuters um responsável israelita. “A partir das informações dos serviços secretos, documentos e cartões de identidade confiscados durante os combates, é agora possível assinalar 190 terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica que trabalham para a UNRWA", lê-se nas informações de Israel.

O ex-primeiro-ministro português disse estar “horrorizado” com as acusações, mas apelou aos países doadores para “garantirem a continuidade das operações” da agência. Dez países, incluindo os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão (três dos maiores dadores da agência), suspenderam o financiamento na sequência das acusações israelitas e da abertura de uma investigação pelas Nações Unidas.

Por outro lado, Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram que são contra a suspensão de fundos.

Desde 7 de Outubro, mais de 26 mil pessoas já morreram nos ataques e operações de Israel na Faixa de Gaza, de acordo com os dados do Ministério da Saúde do Hamas (que a ONU e até os EUA consideram credíveis). Com dois milhões de pessoas, incluindo mais de um milhão de crianças, a depender da assistência da UNRWA em Gaza, a agência diz que só tem meios para funcionar até Fevereiro – ao contrário de outras agências da ONU, a UNRWA, estabelecida em 1949, não tem um fundo de reserva. A agência é ainda um dos maiores empregadores no enclave palestiniano.

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