Créditos de energia: uma alavanca para o autoconsumo de energia renovável
Os previsíveis e extremamente severos efeitos das alterações climáticas têm impulsionado cientistas, políticos e ativistas a despertar consciências e tomar medidas que possam resultar na efetivação de uma transição energética eficaz. É neste contexto que a descarbonização da geração de energia e o consequente investimento em fontes de energias renováveis têm recebido apoio na agenda política e mediática, de forma a ser possível reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e enfrentar a crise climática numa perspetiva sustentável.
Difundir sistemas descentralizados de autoconsumo, baseados em energias renováveis, nos quais os cidadãos estão diretamente envolvidos nas atividades de consumo, geração, comércio e fornecimento de energia pode fazer parte da mudança estrutural que se exige. No entanto, subsistem alguns desafios que terão de ser suplantados para que a aposta na geração de energia para uso próprio se torne uma opção ainda mais atrativa para os consumidores, nomeadamente decorrentes das discrepâncias entre perfis de geração e de consumo ou a dificuldade de armazenamento de eletricidade proveniente de sistemas de autoconsumo que não seja utilizada imediatamente.
Nesse contexto, os designados créditos de energia surgem como uma solução que pode responder, de forma inteligente, às dificuldades identificadas, ao mesmo tempo que tornam mais apelativa a adoção de sistemas de geração distribuída baseados em fontes renováveis.
Com um sistema de créditos de energia para autoconsumo, os consumidores que geram a sua própria eletricidade, geralmente proveniente de fontes renováveis, como solar ou eólica, podem utilizar a rede elétrica como uma se de uma "bateria virtual" se tratasse. Na prática, cada unidade de créditos corresponde a um megawatt-hora de eletricidade gerada que é injetado na rede. Assim, por exemplo, quando a geração, num determinado momento, excede as necessidades de consumo, o excedente, em vez de ser perdido ou armazenado numa bateria convencional, é injetado na rede.
O produtor-consumidor, em vez de ser compensado financeiramente pela transação no momento em que ocorre, acumula os créditos de energia correspondentes, representativos da quantidade de eletricidade que gerou além do que consumiu. Estes estarão à sua disposição para que os possa usar mais tarde, recolhendo eletricidade da rede num momento futuro de carência, designadamente em que as condições meteorológicas inviabilizem a geração, ou de vantagem económica.
A implementação de um sistema desta natureza está, naturalmente, dependente de ajustes no quadro legal e do desenho de regulamentação específica no que diz respeito ao funcionamento da rede elétrica e das instalações de autoconsumo, não descurando a sua capacidade de interligação. Contudo, os créditos de energia podem apresentar-se como uma ferramenta impulsionadora da expansão da geração distribuída e adesão a fontes renováveis na produção de eletricidade. Deste modo, os consumidores poderão participar ativamente na redução das emissões de gases de efeito de estufa, ao mesmo tempo que poderão ganhar autonomia e beneficiar de reduções nas suas contas de eletricidade.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.