Estudantes da UMinho contra docente que defende aumento de propinas se jovens continuarem a emigrar

Luís Aguiar-Conraria defendeu que se deve aumentar as propinas se se continuar a registar o êxodo para “países ricos”. Estudantes alertam para aumento das desigualdades.

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Manifestações em várias cidades, convocadas por algumas associações académicas, na véspera do Dia Nacional do Estudante, em Março de 2023 MATILDE FIESCHI
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A Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) criticou o presidente da Escola de Economia e Gestão daquela academia, Luís Aguiar-Conraria, por este defender o aumento das propinas se os jovens quadros do país continuarem a emigrar.

"Não podemos aceitar a retórica de quem confunde e tenta substituir o escasso investimento existente na educação e no ensino superior pelos verdadeiros problemas que levam milhares de jovens a emigrar", refere a AAUM.

Em comunicado, a associação aponta, designadamente, o desemprego jovem, os baixos salários, os problemas da habitação, o centralismo de uma economia presa nas duas grandes áreas metropolitanas onde o custo de vida é muitas vezes mais elevado que outras grandes cidades europeias e o sucessivo desinvestimento na ciência e na investigação que faz com que muitos tenham de prosseguir os seus projectos no estrangeiro.

"Não é erguendo muros mais altos e barreiras que deixam deliberadamente mais pessoas excluídas do sistema que resolvem os verdadeiros problemas do país. E o caminho trilhado, ainda que mais demorado do que o suposto, não deve ser revertido", acrescenta.

Esta posição da AAUM surge depois de, em entrevista ao jornal Eco, Luís Aguiar-Conraria ter defendido que se deve aumentar as propinas se se continuar a registar o êxodo para outros países dos estudantes formados nas universidades portuguesas. "Temos de aumentar as propinas porque, com grande probabilidade, os jovens depois vão-se embora e não beneficiamos desse investimento", afirmou.

No comunicado, a AAUM diz que "não compreende como é que um presidente de uma prestigiada escola da Universidade do Minho e do país, com todas as responsabilidades que são inerentes ao exercício do seu cargo, consegue defender publicamente este posicionamento". "O ensino superior e o seu acesso progressivamente universal é uma conquista de todos os portugueses e da nossa democracia e assume-se como o mais importante elevador social e económico das famílias, sendo, também, um importante promotor social e económico do país", defende a Associação Académica.

Contactado pela Lusa, Luís Aguiar-Conraria disse que "não faz sentido" que sejam os contribuintes portugueses a financiarem os países ricos, já que são estes os beneficiários do saber dos jovens quadros formados em Portugal.

"Qual é a lógica, por exemplo, de nós pagarmos a formação dos enfermeiros que depois vão trabalhar para Inglaterra?", questionou. Acrescentou que quem frequenta mais as universidades portuguesas são jovens oriundos de famílias ricas. "Ou seja, temos os contribuintes a pagar a educação das famílias mais ricas em Portugal", referiu.

Nesse sentido, e caso os jovens quadros não fiquem no país, Luís Aguiar-Conraria considera que é justo aumentar as propinas. Lembrou que há "uma percentagem razoável" de bolsas para os alunos mais carenciados e sublinhou que as propinas serão o mais leve dos encargos das famílias que têm um filho da universidade.

"Eu não defendo subir as propinas para evitar a saída dos jovens. Não é isso. Claro que o ideal é travar a saída dos jovens de outra forma, seja com reduções do IRS, seja com o país crescer mais, seja com maiores salários", disse ainda.