Governo alemão descobre campanha de desinformação pro-Rússia no X

Profissionais delegados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão encontraram 50 mil contas falsas que difundiam desinformação contra a Ucrânia. Notícia foi avançada pela Der Spiegel.

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As 50 mil contas falsas identificadas produziram mais de um milhão de publicações no X REUTERS/DADO RUVIC
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O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão identificou uma campanha de desinformação pró-russa levada a cabo no X (antigo Twitter), com o objectivo de influenciar negativamente a opinião pública sobre o apoio de Berlim à Ucrânia. A informação foi avançada pela revista alemã Der Spiegel, que teve acesso a dados do mesmo ministério.

Segundo a revista alemã, citada pela AFP, profissionais delegados pelo ministério identificaram, com recurso a software especializado, entre 20 de Dezembro e 20 de Janeiro, 50 mil contas falsas que produziram mais de um milhão de publicações em alemão na rede social de Elon Musk.

Uma das narrativas mais prevalentes era a de que Olaf Scholz, o chanceler da Alemanha, estaria a colocar os interesses da Ucrânia, na guerra com a Rússia, à frente das necessidades do povo alemão.

Algumas das contas, refere a AFP, mencionando dados do artigo da Der Spiegel, têm ligações aos sites de notícias falsos que clonaram o design de outros órgãos de comunicação – a chamada Operação Doppleganger (sósia, em português).

Nesta operação, os agentes de desinformação utilizaram o design de jornais internacionais como o The Guardian e mesmo da própria Der Spiegel para difundir notícias falsas com o objectivo de prejudicar a opinião pública sobre o apoio à Ucrânia e enaltecer as acções do Kremlin.

Na terça-feira, Josep Borrell, o alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, mostrou-se preocupado com o perigo que a desinformação representa para a democracia. Classificou-a, ainda, segundo a agência Lusa, como uma das “ameaças mais significativas” num “ano crucial” como 2024, em que há um número atipicamente alto de eleições por todo o mundo, incluindo as europeias.

Em Setembro, a vice-presidente da Comissão Europeia com o pelouro da Transparência, Vera Jourová, destacou o X como a rede social onde mais desinformação circula, em comparação com outras das principais plataformas. Jourová alertou também para a importância de se estar atento à desinformação de origem russa que pode circular durante as eleições em território europeu.

O Fórum Económico Mundial prevê que a desinformação seja o risco global mais severo dos próximos dois anos e o quinto dos próximos dez. Num relatório deste ano, sublinha-se que os vários processos eleitorais por todo o mundo, a desinformação e o desenvolvimento de ferramentas que facilitam a sua propagação podem criar uma tempestade perfeita de descontentamento. Este, problematiza o relatório, pode desaguar em protestos violentos, crimes de ódio, "confrontos civis" e terrorismo.

A organização não-governamental DisinfoLab, num relatório publicado em Dezembro, sublinhou a importância de, em 2024, os estados europeus cooperarem na troca de informação e no combate à desinformação. Sugere também o reforço da Lei dos Serviços Digitais da UE e de políticas a nível nacional que tenham "explicitamente como alvo a desinformação".

Recomendam ainda a aposta na literacia informativa e digital, proteger minorias e grupos particularmente vulneráveis às consequências da desinformação, proteger jornalistas, fact-checkers e denunciantes, e apostar na investigação, entre outros.

No mesmo relatório, detalham algumas das principais narrativas de desinformação que se difundem por grande parte do território europeu: das acusações de que a União Europeia é uma "fonte de empobrecimento" dos Estados-membros ao negacionismo da crise climática e das vacinas, passando pelos discursos xenófobos e anti-imigração.

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