A segunda missão europeia na órbita de Vénus tem participação portuguesa

A sonda EnVision, da Agência Espacial Europeia, tem partida para o planeta Vénus marcada para 2031. Um pouco mais tarde, em 2035, partirá outra missão para detectar ondas gravitacionais do espaço.

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Ilustração artística da sonda EnVision em Vénus ESA
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Cientistas e empresas de Portugal participam na segunda missão europeia na órbita de Vénus, a EnVision, com lançamento previsto para 2031 e que vai estudar a superfície e o interior do planeta e a sua atmosfera. A missão foi adoptada agora pela Agência Espacial Europeia (ESA), significando, na prática, que a fase de estudo foi concluída e segue-se a concretização.

O astrofísico Pedro Machado, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) com estudos publicados sobre a atmosfera de Vénus, disse à Lusa que será responsável por um dos instrumentos científicos da nova sonda europeia que vai orbitar Vénus, no caso um espectrógrafo de infravermelhos que permitirá aferir, por exemplo, se existe actividade vulcânica no planeta.

O investigador liderará o consórcio científico português de apoio à missão, que será formado por astrofísicos, geólogos e geógrafos.

A missão a Vénus foi aprovada pela ESA na quinta-feira, tal como uma outra missão que vai detectar ondas gravitacionais no espaço, a LISA (Laser Interferometer Space Antenna), em que também participam vários cientistas portugueses, entre os quais Vítor Cardoso e Richard Brito​ (ambos do Instituto Superior Técnico) e Francisco Duque (do Instituto Max-Planck para Física Gravitacional, na Alemanha).

O lançamento das três naves espaciais que vão procurar pequenas perturbações no tecido do espaço-tempo que constitui o Universo, as tais ondas gravitacionais originadas por fenómenos cósmicos cataclísmicos como a colisão de dois buracos negros, está previsto para 2035.

Indústria portuguesa a bordo até Vénus

A astrofísica Clara Sousa e Silva – que fez parte da equipa internacional de cientistas que anunciou em 2020 a descoberta nas nuvens de Vénus da fosfina, um gás que na Terra é produzido naturalmente por bactérias, que são organismos vivos –​ também vai colaborar com a equipa científica portuguesa, mas na área da astrobiologia, que estuda a origem da vida.

Pedro Machado adiantou que a indústria portuguesa estará igualmente envolvida na missão EnVision, através das empresas LusoSpace e FHP, que vão ser responsáveis, nomeadamente, pelos testes de alinhamento dos instrumentos e pelo fabrico de componentes para os encaixes dos instrumentos.

A EnVision sucede à missão espacial europeia Venus Express, que entre 2006 e 2014 teve em órbita uma sonda a estudar a atmosfera do planeta. O estudo da atmosfera de Vénus, planeta mais próximo da Terra, continua a ser assegurado pela missão japonesa Akatsuki.

Apesar de semelhante à Terra no tamanho e massa, Vénus é inóspito, a sua superfície tem uma temperatura média de 464 graus Celsius e uma pressão atmosférica 92 vezes maior do que a sentida no “planeta azul”. De todos os planetas rochosos do nosso sistema solar, Vénus é o que tem a atmosfera mais densa e está completamente coberto por camadas de nuvens espessas compostas principalmente por ácido sulfúrico.

Portugal é Estado-membro da ESA desde Novembro de 2000.