Protesto de agricultores franceses bloqueia estradas no país e acesso a Espanha
Os protestos dos agricultores em França estão a ganhar força e estão já dispersos por várias regiões do país. Os tractores bloqueiam as estradas pela pressão dos preços, impostos e regras verdes.
Agricultores franceses bloquearam uma estrada principal que liga a França à Espanha com uma manifestação na fronteira esta sexta-feira, como parte dos protestos nacionais contra os baixos preços dos alimentos e o excesso de burocracia. Os agricultores em França, o maior produtor agrícola da UE, dizem que não estão a ser pagos o suficiente e que estão sufocados por uma regulamentação excessiva em matéria de protecção ambiental.
Na sexta-feira, um grupo de manifestantes incendiou um edifício da Mutualité Sociale Agricole (MSA), na cidade de Narbonne, no Sul de França, segundo o director local da MSA, numa altura em que se intensificam as manifestações agrícolas. “Não compreendo isto. Lamento profundamente o que fizeram. Estamos a fazer tudo o que podemos para ajudar”, disse Sophie Bonnery à BFM TV na sexta-feira, enquanto se encontrava no exterior do edifício em ruínas, muito queimado.
O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, deveria anunciar um conjunto de medidas para ajudar os agricultores, que exigem melhores salários e condições de vida, ainda nesta sexta-feira.
Esta sexta-feira também, os agricultores franceses bloquearam uma das principais auto-estradas que ligam Paris à cidade nortenha de Lille e à Bélgica, provocando longos engarrafamentos de trânsito, no âmbito dos protestos nacionais contra os baixos preços dos alimentos e o excesso de burocracia. Os sindicatos apelaram ao bloqueio das estradas em Paris e arredores para aumentar a pressão sobre o Governo do primeiro-ministro Gabriel Attal, que os agricultores acusam de não fazer o suficiente para os ajudar. “Vamos entrar em Paris para mostrar a nossa raiva, as nossas queixas”, disse o agricultor Matteo Legrand.
A secção da região parisiense do sindicato dos agricultores FNSEA planeia montar 11 bloqueios de estrada nos principais eixos pendulares à volta de Paris, incluindo as auto-estradas n.º 6, n.º 10 e n.º 13, de acordo com um documento de planeamento visto pela Reuters.
Os agricultores franceses têm estado a protestar para instar o Governo a fazer mais para os ajudar. Na terça-feira, em tractores e camiões, levaram mais longe os seus bloqueios de estradas, resultando em vários engarrafamentos e um acidente fatal, enquanto os sindicatos pediam ao Governo que diminuísse a sua pressão por preços mais baixos ao consumidor e reduzisse as regulamentações ambientais.
“Não levantaremos os bloqueios enquanto o primeiro-ministro não fizer anúncios muito concretos. O tempo das conversas acabou, é preciso agir”, afirmou Arnaud Gaillot, presidente do Sindicato dos Jovens Agricultores.
Os protestos estão agora a afectar o tráfego que tenta entrar em França vindo de Espanha através da auto-estrada AP-7 que percorre a costa mediterrânica desde o Sul de Espanha até à fronteira. Cerca de 20.000 camiões espanhóis entram diariamente em França. A federação nacional de associações de transportes de Espanha disse que alguns camiões espanhóis tinham sido alvo de ataques na fronteira e o ministro da Agricultura espanhol, Luis Planas, condenou tais actos, dizendo aos jornalistas que os ataques a camiões são “absolutamente inaceitáveis”. “Respeitamos plenamente o direito de manifestação e o direito de exprimir livremente a sua opinião, mas sempre com respeito e de forma pacífica, e não com meios violentos e coercivos”, afirmou.
O serviço de trânsito da Catalunha, Transit, disse no X que as faixas norte da AP-7 estavam bloqueadas no município fronteiriço de La Jonquera, e partilhou vídeos online que mostram longas filas de camiões.
Responsáveis da Fenadismer, federação espanhola das associações de transportes, divulgaram imagens de um camionista espanhol obrigado a esvaziar 20.000 litros de vinho do seu depósito e acusou os manifestantes franceses de vandalismo e destruição de bens. “As reivindicações justas que envolvem actos intoleráveis perdem toda a legitimidade”, escreveram no X, antigo Twitter.
Andres Gongora, da associação de agricultores COAG, afirmou que os agricultores espanhóis compreendem a razão do protesto dos agricultores franceses e partilham algumas das suas reivindicações. “O que não conseguimos entender é que eles estejam a concentrar os seus protestos na produção espanhola, quando nós somos membros da União Europeia, tal como eles”, disse Gongora. “A livre circulação de mercadorias deve ser garantida.”
Os agricultores franceses continuam os seus protestos com bloqueios de estradas e manifestações em frente a edifícios estatais, aguardando uma resposta do Governo ao seu pedido de ajuda “imediata” de várias centenas de milhões de euros. Em 23 de Janeiro, o Conselho Agricultura e Pescas da UE sublinhou a importância de criar as condições necessárias para que os agricultores da UE possam garantir a segurança alimentar de forma sustentável e rentável, bem como assegurar um rendimento justo para os agricultores.