Guerra de palavras entre Israel e o Qatar “não ameaça” negociações para acordo em Gaza

Com o Governo israelita cada vez mais pressionado, Estados Unidos acreditam que um novo acordo pode ser fechado em breve entre Israel e o Hamas.

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Familiares de reféns e outros manifestantes protestam contra a entrada de ajuda na Faixa de Gaza ALEXANDRE MENEGHINI/Reuters
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Tal como o Qatar, que em conjunto com o Egipto mediou o acordo para a trégua de Novembro, também os Estados Unidos estão optimistas sobre a possibilidade de convencer Israel e o Hamas a aceitarem as condições para um novo cessar-fogo – que poderá durar dois meses – que permita a libertação dos mais de 130 reféns que permanecem na Faixa de Gaza em troca de palestinianos encarcerados nas cadeias israelitas.

O Presidente Joe Biden, escreve o diário The Washington Post, citando vários responsáveis, prepara-se para enviar o director da CIA, William Burns, à Europa, para um encontro com os chefes dos serviços secretos de Israel e do Egipto, David Barnea e Abbas Kamel, e com o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman – uma reedição da reunião que decorreu pouco antes da conclusão do acordo que antecedeu a libertação de 111 reféns, incluindo 81 israelitas, em troca de 240 palestinianos que estavam nas cadeias de Israel, em Novembro.

Os últimos dias ficaram marcados pelo aumento da violência em Khan Yunis, no Sul da Faixa de Gaza, onde Israel acredita que estão escondidos os comandantes do Hamas e onde tem lançado ataques que fizeram centenas de mortos entre a população palestiniana.

Em Israel, assiste-se a protestos cada vez mais desesperados dos familiares dos reféns e dos seus apoiantes – que impediram a passagem de camiões com ajuda para Gaza na quarta e na quinta-feira, bloquearam estradas em Israel e invadiram o Parlamento israelita –, enquanto Israel e o Qatar se envolviam numa guerra de palavras.

Depois da divulgação de uma gravação em que se ouve Benjamin Netanyahu criticar o Qatar, afirmando-se desiludido com os EUA por não pressionarem mais os qataris e descrevendo o país como “mais problemático” do que a ONU ou a Cruz Vermelha (organizações que o seu Governo considera anti-Israel), Doha acusou o primeiro-ministro de estar a obstruir os seus esforços de mediação.

“Em vez de se preocupar com as relações estratégicas do Qatar com os EUA, esperamos que Netanyahu decida agir em boa-fé e concentrar-se na libertação dos reféns”, reagiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Doha, Majed al-Ansari, na rede X. “Se as notícias são verdadeiras, o primeiro-ministro israelita está apenas a obstruir e a minar o processo de mediação, por razões que parecem servir a sua carreira política”, afirmou, descrevendo as declarações de Netanyahu como “irresponsáveis e destrutivas, mas não surpreendentes”.

Na terça-feira, Ansari dissera que o Qatar está envolvido “em discussões sérias com os dois lados”: “Apresentámos ideias aos dois lados, estamos a receber um fluxo constante de respostas dos dois lados, e isso é, em si mesmo, motivo de optimismo”, sublinhou. “Apesar de inoportuna, a discussão não ameaça as negociações, disse um responsável dos EUA”, escreve o Post.

Uma garantia dos EUA

“Penso que Netanyahu está sob pressão, por causa das ruas em Israel, toda a gente quer a libertação dos reféns”, disse ao jornal norte-americano Samir Farag, major-general egípcio na reserva que integra um órgão que aconselha o Presidente em temas de segurança e defesa. “Toda a gente quer a paz – os palestinianos, o Hamas e os israelitas. Mas todos querem ganhar nas negociações”, afirmou.

Farag sublinhou que os reféns deixam o Hamas “numa posição muito forte”, mas insistiu que tanto o movimento palestiniano como Israel querem voltar à mesa das negociações.

Os termos das negociações actuais incluem pelo menos parte de uma proposta israelita que passaria por uma trégua de 60 dias em troca da libertação, por fases, dos reféns (primeiro, as crianças e as mulheres civis, depois, os homens civis, seguindo-se as mulheres e os homens militares e, finalmente, os que morreram desde 7 de Outubro).

Israel propôs que os principais líderes do Hamas deixem Gaza, mas a liderança do movimento recusou essa possibilidade, ao mesmo tempo que exige que a próxima libertação de reféns envolva o fim da guerra – não um cessar-fogo temporário –, algo incompatível com as promessas de uma “vitória total” que Netanyahu continua a repetir. De acordo com o Post, “inúmeros responsáveis dizem que as negociações sobre estes pontos fundamentais ainda decorrem”.

Segundo Farag, o que o Hamas quer é “uma garantia, porque às vezes eles entregam os reféns e depois [Israel] ataca outra vez”. E essa garantia, afirma o egípcio, só Washington pode dar, ainda que Biden não pareça pronto a “pressionar seriamente o Governo de Netanyahu”. “Os americanos, acreditem, são muito poderosos, podem fazer o que quiserem. Os israelitas têm muitos problemas – económicos”, disse. “Mas quem é que apoia Israel? Os EUA. Quem lhes deu todas as munições?... Se os americanos disserem não, eles param.”

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