Literacia Mediática

Mais paz e mais ação — pediu-se no lançamento da Operação 7 Dias com os Media

Alunos de seis escolas e agrupamentos de escolas de Lisboa estiveram na apresentação da 12.ª edição dos 7 Dias com os Media. “Discursos de PAZ em tempos de guerra” é o tema deste ano.

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Contribuir para mudar o mundo passa também pelos pequenos gestos quotidianos Manuel Roberto

A guerra Israel-Hamas, a guerra na Ucrânia, a propagação de discurso de ódio nas redes sociais. Foi com estes temas em cima da mesa que o GILM - Grupo Informal sobre Literacia Mediática apresentou a 12.ª edição da iniciativa "7 Dias com os Media" na tarde de 23 de janeiro, na Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, Lisboa. Conforme tem acontecido, esta semana dedicada à literacia mediática decorre de 3 a 9 de maio, tendo o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa como momento propício ao arranque. O evento de apresentação serviu para lançar sementes e consciencializar para a edição deste ano, que tem como mote "Discursos de PAZ em tempos de guerra".

A plateia confirmava que este não era um evento sobre jovens sem jovens. Alunos de turmas de seis escolas e agrupamentos de escolas da zona de Lisboa preenchiam as cadeiras do auditório. As conversas paralelas que se podiam ouvir em qualquer recreio de uma escola iam-se cruzando no ar, até que o evento começou. Aí, um silêncio só interrompido à medida que a plateia era interpelada. “Sabem a diferença entre uma notícia e um artigo de opinião?”, perguntava-lhes Bruna Afonso, membro do GILM e da organização da iniciativa.

Além da plateia composta, mais turmas marcavam presença através da transmissão em direto do evento, no canal de YouTube do GILM. E a presença jovem não ficava por aqui: também lá estava, na biblioteca, o embaixador da iniciativa: João Lopes, aluno do 11.º ano em Ciências e Tecnologias, do Colégio Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, falaria mais tarde aos colegas. Também ele queria lançar algumas sementes e convidá-los a irem pensando em formas de contribuir para os 7 Dias com os Media.

Depois de uma breve apresentação da Linha Internet Segura, com o representante da linha, jurista e técnico de apoio à vítima Tomás Grencho, seguiu-se o grande debate da tarde, de onde surgiram reflexões mais alargadas e se clarificaram conceitos. A Tomás Grencho juntaram-se a professora da NOVA FCSH Marisa Torres da Silva, o jornalista da RTP António Mateus, a comissária executiva da Comissão 50 Anos 25 de Abril Maria Inácia Rezola e o moderador Francisco Sena Santos, jornalista e professor universitário.

O discurso de ódio não é de agora nem acontece só aqui

António Mateus, que esteve quatro vezes na Guerra na Ucrânia, prendeu os alunos com as histórias na primeira pessoa e partilhou algumas linhas norteadoras do seu trabalho: “Eu faço questão de não misturar a minha perceção, subjetividade ou os meus amores ou os meus favores. Tenho de trabalhar para as pessoas que defendem Putin da mesma forma que trabalho para as que odeiam. Depois, são as pessoas que tiram as suas conclusões.”

O rigor jornalístico e a distinção entre factos e opinião, já mencionados por Bruna Afonso, foram sendo temas recorrentes no debate. “O jornalista está para contar aquilo que aconteceu. O jornalista vê e conta”, disse Sena Santos a dado momento. E porque a forma como se “vê e conta” é possível hoje de uma maneira que antes do 25 de Abril não era, Maria Inácia Rezola interpelou a plateia para perceber se os mais novos tinham consciência do que podia ou não ser feito no tempo do Estado Novo — lembrando a iniciativa #NãoPodias, da Comissão 50 Anos 25 de Abril.

O debate foi viajando no tempo: do Estado Novo às memórias de António Mateus enquanto correspondente da Agência Lusa na África do Sul, no tempo de Mandela, até à atualidade e à era das redes sociais. Sobre este último tema, a plateia tinha muito a dizer, mas ainda havia espaço para definir melhor alguns conceitos como aquele que dá mote à 12.ª edição dos 7 Dias com os Media: “discurso de ódio”. Marisa Torres Silva explicou: “Discurso de ódio é muito para além de uma ofensa, de um insulto. Provoca danos ao nível da ansiedade, do bem-estar, da auto-estima de um indivíduo que dele é alvo, mas também ao nível social, porque perpetua estereótipos em relação a um determinado grupo.”

“Quase tão importante quanto sabermos a tabuada”

Foi por ter uma voz ativa, que se manifesta no projeto "Líderes Digitais", iniciativa da SeguraNet, que João Lopes foi convidado para ser o embaixador desta edição da Operação 7 Dias com os Media. Recebeu o convite com entusiasmo e coube-lhe a si dirigir-se aos jovens e apresentar-lhes argumentos para quererem fazer parte também. No auditório já se tinha falado sobre racismo, xenofobia e diversas formas de discriminação, e João quis deixar uma mensagem: “Temos de ser, nós próprios, agentes da mudança” e “a nossa perspetiva de mudança não tem de ser igual à do nosso amigo”.

Ao PÚBLICO na Escola, João disse que “sensibilizar para a literacia mediática é quase tão importante quanto sabermos a tabuada” e que foi ter consciência disso que o fez aceitar este convite do GILM. Mas além da sensibilização para a literacia mediática como um todo convenceu-o poder ter algo a dizer sobre o tema da iniciativa. Acredita mesmo que a mudança começa em cada um(a) e não ficou sem resposta quando alguém na plateia lhe perguntou: “E tu, o que é que fazes para mudar o mundo?” O segredo está em ter atenção nas pequenas coisas do dia-a-dia, respondeu.

João Lopes acredita que uma parte essencial para que os jovens possam fazer parte da mudança é que existam espaços e momentos em que podem contribuir efetivamente com a sua opinião e trabalho. “Aqui acho que não nos podemos queixar, porque os jovens estavam presentes, e o encontro está a ser transmitido online. Todos estes fatores podem parecer pequenos, mas já assisti a muitos eventos onde se fala sobre jovens e como ensinar, ou como mudar os métodos de aprendizagem, e muitas vezes não há lá jovens.”

Quando o grupo que enchia a plateia se preparava para sair, a mãe do jornalista António Mateus, presente desde o início do evento, na companhia do marido, decide pegar livremente no microfone e deixar uma mensagem a todos: a sua experiência de vida permite-lhe afirmar que sim, todos ali podem contribuir para “mudar o mundo”.