Revolta de agricultores franceses aumenta pressão sobre o Governo e espalha-se para regiões rurais
Protestos de agricultores zangados com a pressão dos preços, impostos e regras verdes são o primeiro teste para o novo primeiro-ministro. Bloqueios causaram um morto em acidente, mas vão continuar.
Agricultores franceses em tractores e camiões levaram mais longe os seus bloqueios de estradas esta terça-feira, resultando em vários engarrafamentos e um acidente fatal, enquanto os sindicatos pediam ao Governo que diminuísse a sua pressão por preços mais baixos ao consumidor e reduzisse as regulamentações ambientais.
“Não levantaremos os bloqueios enquanto o primeiro-ministro não fizer anúncios muito concretos. O tempo das conversas acabou, é preciso agir”, afirmou Arnaud Gaillot, presidente do Sindicato dos Jovens Agricultores.
A indignação crescente, que se tem vindo a propagar em países vizinhos, ocorre numa altura em que a campanha para as eleições europeias ganha ritmo e constitui o primeiro grande desafio para o novo primeiro-ministro do Presidente Emmanuel Macron, Gabriel Attal.
Horas depois de os dirigentes sindicais se terem reunido com Attal na segunda-feira à noite, novos comboios de tractores partiram durante a noite para bloquear estradas, incluindo a Auto-estrada n.º 7, no Sul de França. “Estamos preparados para tudo, não temos nada a perder”, disse Josep Perez, um manifestante entrevistado pela BFM TV noutro bloqueio de estrada na Região Sudoeste de cultivo de fruta, perto de Agen.
A polícia disse que uma mulher foi morta e duas outras ficaram gravemente feridas quando um carro colidiu com um bloqueio de estrada no Sudoeste do departamento de Ariège. O ministro da Agricultura francês cancelou a sua ida a uma reunião dos ministros da UE em Bruxelas para se deslocar ao local.
“Aos nossos agricultores: pedi ao Governo que se mobilizasse totalmente para apresentar soluções concretas para as dificuldades que enfrentam”, disse Macron na plataforma social X, acrescentando que o acidente na departamento de Ariège foi perturbador para todos.
“Contradição total”
A política agrícola sempre foi uma questão sensível em França, o maior produtor agrícola da União Europeia, onde milhares de produtores independentes de carne, lacticínios, vinho e outros produtos têm um historial de protestos perturbadores.
Macron está preocupado com o crescente apoio dos agricultores à extrema-direita antes das eleições para o Parlamento Europeu, em Junho, com o partido Rassemblement National, de Marine Le Pen, a liderar as sondagens.
O lobby agrícola diz que a indignação é principalmente alimentada pelos recentes esforços do Governo — liderados pelo ministro das Finanças e da Economia, Bruno Le Maire — para combater a inflação, instando os retalhistas e os gigantes da alimentação a reduzir os preços ao consumidor.
Patrick Benezit, presidente do sindicato de criadores de gado FNB, disse na terça-feira, numa conferência de imprensa, que a pressão resultante sobre os fornecedores está a ser transferida para os agricultores, obrigando alguns a vender abaixo dos custos reais, o que iria contra uma lei que visa garantir preços justos.
A Comissão Europeia publicou um relatório esta terça-feira, afirmando que, ao nível da UE, foram tomadas 63 medidas no valor de 2,5 mil milhões de euros (2,72 mil milhões de dólares) entre 2014 e 2023 para apoiar os agricultores e produtores afectados por perdas de produção, reduções de preços, aumento dos custos e ruptura das cadeias de abastecimento devido à pandemia de covid-19, à guerra na Ucrânia ou a doenças animais.
Os agricultores franceses estão a multiplicar as acções para exigir melhores pagamentos e uma cadeia mais justa com os supermercados. Na Alemanha e na Roménia, os agricultores também protestaram na semana passada