Pintura de Abel Salazar que loja escondeu com uma parede foi finalmente destapada

Pintura do antigo Café Rialto, no Porto, esteve escondida dois anos. Trabalhos para a destapar foram realizados após mobilização de um cidadão, que reclama um enquadramento diferente para a pintura.

PP - 22 JANEIRO 2024 - PORTO - OBRA DE ARTE A PINTURA DE ABEL SALAZAR RECUPERADA NUMA LOJA 
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A pintura de Abel Salazar, Síntese da História, esteve escondida atrás de uma parede durante dois anos Paulo Pimenta
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A pintura de Abel Salazar, Síntese da História, esteve escondida atrás de uma parede durante dois anos Paulo Pimenta
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A pintura de Abel Salazar, Síntese da História, esteve escondida atrás de uma parede durante dois anos Paulo Pimenta
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O objectivo mais urgente já foi atingido. A pintura de Abel Salazar (1889-1946) gravada no antigo Café Rialto, que foi escondida atrás de uma parede construída há dois anos por uma loja do Porto que precisava de mais prateleiras para expor os seus produtos, já está destapada. Mas há quem defenda que ainda falta dar-lhe o enquadramento que ela precisa. A vontade de a destapar, que foi concretizada pelos proprietários do espaço comercial, foi demonstrada por um cidadão portuense quando soube que a obra do médico, professor, investigador e também pintor, tinha sido escondida. Porém, a sua causa ainda vai a meio porque continua a preferir que o mural passe a estar num entorno diferente. Só que, tão cedo, não parece que isso vá acontecer. A Endutex, proprietária do imóvel, que tem novos planos para o edifício que adquiriu em 2020, diz estar contratualizado que o espaço comercial em causa estará arrendado ao actual inquilino por cerca de mais oito anos.

Renato Soeiro, responsável por desencadear este processo que despertou a atenção de outros cidadãos - um deles foi o escritor Mário Cláudio, que também se manifestou publicamente - tem dialogado com responsáveis da Endutex. De acordo com o mesmo, a empresa do sector têxtil que nos últimos anos passou também a investir na hotelaria, tem tido abertura total para ouvir as suas propostas.

Em Agosto do ano passado, o engenheiro civil que em 2021 foi candidato à presidência da Câmara de Gaia pelo Bloco de Esquerda, sugeria em artigo de opinião publicado no PÚBLICO que fosse estabelecida uma parceria com a Casa-Museu Abel Salazar para que se criasse um pólo da instituição no espaço onde agora está uma loja Miniso. Esta hipótese foi também bem acolhida por Rui Moreira e pela Universidade do Porto (UP), que tem a tutela do museu. Porém, tanto o presidente da Câmara do Porto como a UP sublinhavam as condicionantes que existiam, tendo em conta que a loja está arrendada a um privado.

Outra sugestão, dada a conhecer ao PÚBLICO uns meses depois - a reboque da forte afluência que dizia terem alguns cafés históricos da cidade que resistiram ao passar do tempo e às pressões do sector imobiliário - passava pela eventual reabertura do Café Rialto, onde longas tertúlias se realizaram por algumas elites do Porto, entre 1944 e 1972, ano em que o espaço fechou.

Renato Soeiro, continua a defender que qualquer uma dessas hipóteses proporcionaria o “enquadramento” certo para o mural de dimensões generosas - cinco metros de largura por três metros de altura - a que Abel Salazar chamou Síntese da História. Porém, diz compreender que o proprietário da loja faça por cumprir o contrato que tem com o inquilino. E, face ao passo que foi dado para que a pintura fosse destapada, sublinha a boa vontade da atitude tomada pelos donos. “Era importante que a as pessoas pudessem conseguir ver a obra”, afirma.

Edifício em reformulação

O edifício Rialto, que deu nome ao café onde foi pintado o mural, agora uma loja, já teve outros usos – também foi uma dependência bancária. Quando foi inaugurado, na Praça D. João I, em 1942, junto ao Rivoli, pelas dimensões fora do comum, na época, ficou conhecido como o primeiro “arranha-céus” do Porto. O prédio foi desenhado por Rogério de Azevedo. E o café por Artur Andrade, o mesmo arquitecto que concebeu o cinema Batalha, onde está o mural de Júlio Pomar que foi escondido pela ditadura, recuperado e devolvido à cidade em 2022.

Em Outubro do ano passado, a Endutex, que em 2020 adquiriu o imóvel à Ageas, avançou ter planos para abrir em parte do edifício - que originalmente tinha habitação, escritórios e, no piso térreo, o Café Rialto, que fechou em 1972 - mais um hotel de apartamentos da marca Moov (propriedade da empresa).

André Ferreira, administrador do grupo Endutex, contactado pelo PÚBLICO, volta a referir que o edifício é um projecto em fase de reformulação. Mas sobre o futuro do espaço comercial onde está o mural de Abel Salazar prefere não fazer projecções. “Neste momento, há um contrato de arrendamento que está a ser cumprido escrupulosamente pelo inquilino”, afirma. E, diz, não há no momento nenhum motivo que o leve a crer que o vínculo não tenha continuidade. Contudo, salienta que no comércio as tendências e as dinâmicas estão em constante mudança.

Nesta fase, a prioridade foi destapar a pintura de Abel Salazar, que nos últimos dois anos esteve escondido atrás de uma parede. Os trabalhos começaram em Janeiro, após uma conversa de “sensibilização” com o inquilino, que diz não ter oferecido resistência. Já se consegue ver a pintura, mas a obra terminará na totalidade nos “próximos dias”.

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