O quintal de Kathleen ganhou o prémio “Relvado Mais Feio” do mundo. Ela espera servir de inspiração

Concurso quer chamar a atenção para a escassez de água, convidou proprietários de casas de todo o mundo a competir pelo invulgar título. Kathleen Murray secou o seu quintal na Tasmânia de propósito.

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Kathleen Murray, que vive na Tasmânia, ganhou o concurso "O relvado mais feio do mundo" este mês Kathleen Murray
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Durante anos, o trabalho no jardim esteve no fundo da lista de tarefas de Kathleen Murray. Ela tinha a intenção de comprar um cortador de relva e, finalmente, aparar os hectares cobertos de vegetação que rodeavam a sua casa na ilha da Tasmânia. Mas como mãe solteira a criar quatro filhos, havia sempre assuntos mais urgentes.

Por isso, em vez de tratar do seu quintal, viu-o transformar-se no lar dos "cortadores de relva da natureza". Cangurus e outros marsupiais banqueteavam-se na relva a meio da noite, fora da vista dos predadores.

Equidnas [porco-espinho] e bandicoots [ou bandicutos, marsupiais de pequeno porte semelhantes a ratos] cavavam túneis debaixo da cerca do quintal. Papagaios e lagartos de língua azul também faziam visitas. Os animais fizeram do seu relvado, que ela nunca regava ou cortava, a sua "Disneylândia privada".

O resultado estava longe da estética verde e luxuriante a que a maioria aspira – e, este mês, o seu quintal seco valeu-lhe o título de "O relvado mais feio do mundo".

O concurso, concebido para chamar a atenção para a escassez de água, convidou proprietários de casas de todo o mundo a competir pelo invulgar título. Das mais de 30 inscrições "horríveis, mas heróicas", um painel de seis juízes seleccionou o relvado de Murray, onde "nem um decímetro coberto de pó é desperdiçado com rega", anunciaram os organizadores do concurso na semana passada. A região de Gotland, na Suécia, organizou uma versão local do concurso em 2022, antes de o abrir a candidaturas globais em 2023.

É como deixar de pintar o cabelo

Murray exibiu pronta e orgulhosamente o seu novo certificado de "Relvado mais feio do mundo" no seu frigorífico depois de vencer o desafio. "É um pouco como as mulheres que decidem, pela primeira vez, deixar de pintar o cabelo e o seu cabelo começa a ficar grisalho e elas passam-se e começam a pintá-lo novamente", disse Murray, 53 anos. "Bem, eu escolhi deixar o meu relvado ficar grisalho."

Agora, Kathleen Murray espera que outros sigam o exemplo.

A escassez de água tem sido um problema crescente nas últimas décadas, à medida que as populações aumentaram em áreas com abastecimento de água limitado, nota Jay Lund, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade da Califórnia em Davis. Este facto levou as autoridades de zonas secas, como a Califórnia e a Austrália, a restringir a quantidade de água utilizada na jardinagem. "Se quisermos ter um relvado grande, bonito e verde, é preciso muita água", constata Lund.

O relvado de Murray parecia ser exactamente o oposto. Mas foi mesmo isso que levou Lesly Pyle, uma autora e redactora de Dallas que fazia parte do júri do "World's Ugliest Lawn", a dar o seu voto a Murray. "É um relvado com um aspecto verdadeiramente horrível", confirma Pyle.

Mas, além das fotografias, Pyle disse que o que lhe chamou a atenção para o estéril quintal de Murray foi a parte escrita da candidatura, que descrevia em pormenor a forma como se tinha tornado tão desleixado. "Ela cativou-nos com a sua história", confirma Pyle.

Ensinar a sustentabilidade

Murray cresceu em Victoria, na Austrália, onde a sua família vivia numa quinta com vacas, cavalos e galinhas. Tinham um pequeno carro branco, que a mãe de Murray, Patricia Myers, cobriu de autocolantes com mensagens sobre como salvar o planeta. Quase não o usavam, preferindo ir a pé ou de bicicleta para a maioria dos sítios. Myers, que participava activamente em protestos ambientais na Austrália, ensinou a Murray o que é a sustentabilidade.

"A minha mãe sempre me ensinou a ver o quadro geral de que todos nós somos apenas zeladores desta terra", lembra Murray.

Kathleen, que tem um doutoramento em ciência forense do solo, tentou incutir essas mesmas lições nos seus próprios filhos. Ela e a sua família vivem actualmente em Sandford, na Tasmânia, uma zona seca onde recolhem a água da chuva em grandes tanques.

Quando deixou de cortar a relva em 2016, observar a vida selvagem que esta atraía passou a ser o seu entretenimento diário. "A vida selvagem no meu quintal traz uma alegria à minha vida que nenhuma assinatura da Netflix poderia trazer", resume.

Murray participou no concurso "O relvado mais feio do mundo" em Dezembro, depois de ouvir falar dele na rádio. Os juízes do concurso pediram a participação de pessoas com relvados secos que estivessem a poupar água, e Murray pensou para si própria: "Bem, essa sou eu."

Kathleen espera inspirar mais relvados "feios" como o dela – e que os proprietários de casas considerem manter apenas plantas nativas nos seus quintais e desligar os aspersores.

Juntamente com o seu certificado, Murray ostenta a camisa castanha que lhe foi dada quando ganhou o prémio, onde se lê: "Orgulhosa proprietária do relvado mais feio do mundo" – um prémio que passará para o vencedor do próximo ano, mais um sinal do foco do concurso na sustentabilidade.

Ela não planeia começar a regar a terra para que continue a atrair os animais que a tornaram sua. "Eles não acham que o meu quintal é feio. Eles acham que é bonito."

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