Em 2023, o Observatório do Bullying recebeu o menor número de queixas dos últimos quatro anos

Entre 2020 e 2023, o Observatório Nacional do Bullying registou 627 denúncias, tendo a grande maioria (407) ocorrido no primeiro ano. No ano passado, foram 65.

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A média de idades das vítimas e dos agressores ronda os 13 anos Nuno Ferreira Santos
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Desde que foi criado, a 30 de Janeiro de 2020, e até ao final do ano passado, o Observatório Nacional do Bullying recebeu 627 queixas relacionadas com esta prática. Não houve, ao longo destes quatro anos, alterações significativas no perfil das vítimas ou no local em que o bullying é praticado, mas as queixas baixaram e 2023 foi mesmo o ano com o menor número de casos reportados àquele órgão.

O primeiro ano de vida do observatório (uma iniciativa da associação Plano i, tornada realidade por quatro psicólogas e uma advogada) foi aquele em que mais pessoas denunciaram situações de bullying. Foram 407 denúncias, um valor muito acima de todos os que se seguiram: 82 denúncias em 2021, 73 em 2022 e 65 em 2023.

A folha de informação do observatório, que compila os dados daqueles quatro anos, não aponta razões para esta diminuição de queixas – haverá menos casos ou as pessoas reportam-nos menos? –, mas o que não mudou, ao longo destes quatro anos, foi o perfil das vítimas e dos agressores, o local onde o bullying é praticado ou as razões pelas quais as pessoas são vítimas desta prática.

Os dados do observatório, para o período 2020-2023, mostram que houve mais vítimas do sexo feminino do que masculino (365 contra 251) e que a idade média tanto das vítimas como dos agressores rondou os 13 anos.

A maior parte do bullying é presencial (77%), havendo 22,2% dos casos em que, além de ser praticado em presença da vítima, é também feito online. Em 93% dos casos, vítima e agressor partilham o mesmo estabelecimento de ensino e é no recreio da escola que ocorre a maior parte dos casos denunciados. Não é, por isso, de estranhar que o observatório indique também que “os intervalos da manhã, da tarde e de almoço foram os períodos de maior ocorrência de situações de bullying”.

Já no que se refere ao nível de ensino, os dados indicam que 33,4% dos casos ocorreram quando as vítimas frequentavam o 1.º ciclo do ensino básico, 23% o 2.º ciclo e 23,9% o 3.º ciclo. Os distritos do Porto (onde o observatório está instalado) e Lisboa são responsáveis por mais de 43% dos casos alvo de queixa.

Preocupante é a prevalência com que estas situações ocorrem, com o observatório a referir que em 21,4% dos casos denunciados o bullying aconteceu todos os dias, enquanto em 53,3% “foi praticado quase todos os dias”.

A violência psicológica destaca-se como a mais utilizada (88,8% dos casos), seguindo-se a social (63,6%) e a física, que ocorre em mais de metade das situações (52,3%). Houve também casos reportados de violência sexual (10,2%) e financeira (5,1%).

Os dois principais motivos para as vítimas serem alvo de abuso através desta prática relacionam-se com o seu aspecto físico (51,2% dos casos) e os resultados académicos (35,1%), mas há quem também tenha sofrido bullying por causa da idade (16,9%), da diversidade funcional (13,7%), do sexo (13,1%), da orientação sexual (8,9%), da nacionalidade (5,6%), da etnia (4,3%) ou da identidade de género (4,3%)

Os impactos sobre as vítimas são diversos e com uma prevalência muito alargada. Em 89% dos casos, provocaram ansiedade ou nervosismo, em 87,7% tristeza e em mais de 72% vergonha e dificuldade de concentração. A dificuldade de conciliar o sono afectou 71% das vítimas, enquanto 61,4% delas admitiram ter passado a evitar determinados locais na escola.

O observatório contabiliza que 43,1% das vítimas necessitaram de apoio psicológico e que 20,6% precisaram de tratamento médico. Em 13,2% dos casos, considera-se que houve risco de vida para a vítima e em 5,4% deles foi mesmo necessário recorrer à hospitalização.

Na página do observatório há um formulário que pode ser preenchido por todos os que tenham conhecimento de casos de bullying e os queiram denunciar. Desde a criação deste organismo, as denúncias chegaram sobretudo de mulheres (em 460 dos 627 casos), sendo que em 24,9% do total das queixas foram encarregados de educação das vítimas ou ex-vítimas a reportar o caso e em 11,2% familiares de vítimas ou ex-vítimas.

A percentagem de pessoas que admitem não ter feito nada depois de tomar conhecimento de um caso de bullying é muito baixa (1,4%), tendo a maioria afirmado que apoiou a vítima (41,1%). Houve quem tenha pedido apoio a uma pessoa adulta do estabelecimento de ensino (23,3%) e quem tenha optado por responder ao questionário do observatório (21,9%). Não são muitos os que afirmaram ter defendido a vítima no momento em que o bullying aconteceu (9,6%) ou que, não o tendo feito na altura, confortaram a vítima mais tarde (4,1%).

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