Reféns e solução de dois Estados: a pressão sobre Netanyahu vem de todos os lados

Ao mesmo tempo que o primeiro-ministro enfrenta contestação crescente em Israel, começa a subir a tensão com os Estados Unidos por causa da criação de um Estado palestiniano.

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Benjamin Netanyahu EPA/Filip Singer
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O protesto das famílias dos reféns aprisionados em Gaza pelo Hamas à porta da residência de Benjamin Netanyahu na sexta-feira à noite não só serviu para expressar a frustração por um problema sem resolução à vista como acrescenta mais um capítulo à pressão crescente sobre o primeiro-ministro israelita. Já este sábado, milhares de pessoas juntaram-se em Telavive numa manifestação a exigir a dissolução imediata do Knesset, o parlamento israelita, e a marcação de eleições.

Não é só em casa que a condução do conflito por parte de Netanyahu está a ser posta em causa. Nos Estados Unidos, principal aliado de Israel, aumenta de tom a impaciência da Administração de Joe Biden em relação à forma como o Governo israelita está a conduzir as operações em Gaza e também aos planos para o cenário pós-guerra.

Após quatro semanas de silêncio entre o chefe de governo de Israel e o Presidente norte-americano, Netanyahu e Joe Biden voltaram a comunicar na sexta-feira, numa conversa telefónica que evidenciou as diferenças fundamentais quanto à via a seguir para a criação de um Estado palestiniano assim que a guerra em Gaza termine.

Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro israelita viu também a sua condução do conflito ser posta em causa por um membro do seu gabinete de guerra: Gadi Eisenkot, ex-chefe das Forças de Defesa de Israel (IDF), defendeu numa entrevista a urgência de um acordo que torne possível a libertação dos reféns detidos pelo grupo islamista na Faixa de Gaza.

“Os reféns só regressarão vivos se houver um acordo, que deve estar ligado a uma pausa significativa nos combates”, disse Eisenkot, cujo filho mais novo foi morto no mês passado durante os combates em Gaza.

A aparente falta de um plano para tentar trazer para casa os 132 reféns – segundo o Governo de Israel – que ainda permanecem nas mãos do Hamas começa a causar grande desconforto na sociedade israelita. “As famílias estão fartas, pedimos um acordo já”, exigiram os familiares no protesto de sexta-feira à noite junto à residência de fim-de-semana de Netanyahu em Cesareia, promovido pelo Fórum das Famílias de Reféns e Pessoas Desaparecidas.

Netanyahu tem defendido que só a pressão militar pode levar à libertação dos reféns, uma opção que muitos israelitas vêem como irrealista dada a situação actual no terreno. Nem sequer uma operação semelhante à que, em 1976, permitiu a libertação de cerca de 100 reféns em Entebbe, no Uganda, por comandos israelitas, parece ser a solução.

“Os reféns estão espalhados de tal forma – mesmo debaixo da terra – que a probabilidade de êxito de uma tal operação é extremamente baixa”, disse Eisenkot, cada vez menos optimista de que os reféns voltarão em breve às suas famílias. “Continuamos a fazer esforços e a procurar todas as oportunidades, mas a probabilidade é baixa, e dizer que é assim que vai acontecer é semear uma ilusão”, acrescentou.

A solução de dois Estados

Desde o ataque do Hamas em território israelita a 7 de Outubro do ano passado que o Governo de Netanyahu tem contado com o apoio quase incondicional dos Estados Unidos, mesmo perante a condenação global por causa do número crescente de mortes civis e do sofrimento humanitário em Gaza.

Mas a relação entre Biden e Netanyahu tem mostrado cada vez mais sinais de tensão, uma vez que o primeiro-ministro israelita tem repetidamente rejeitado os apelos do Presidente norte-americano à soberania palestiniana, dificultando o que Biden acredita ser a chave para desbloquear uma paz duradoura no Médio Oriente, a solução de dois Estados.

O telefonema de sexta-feira entre os dois líderes aconteceu um dia depois de Netanyahu ter afirmado aos responsáveis norte-americanos, em termos claros, que não apoiará um Estado palestiniano como parte de qualquer plano pós-guerra. Biden reafirmou na conversa o seu compromisso de trabalhar para ajudar os palestinianos a avançar para a criação de um Estado.

“Como estamos a falar de uma Gaza pós-conflito, não se pode fazer isso sem falar também das aspirações do povo palestiniano e do que isso tem de significar para eles”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

Pelo seu lado, Netanyahu garantiu ter dito a Biden que se opunha a qualquer Estado palestiniano que não garantisse a segurança de Israel.

“Israel deve ter controlo de segurança sobre todo o território a oeste do rio Jordão. Essa é uma condição essencial”, afirmou.

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