Das orquídeas às calêndulas, os botânicos portugueses descobriram 19 plantas em 2023
Onze investigadores nacionais descreveram 19 novas plantas em sete países, incluindo Portugal, em 2023. Estima-se que 60% dessas espécies (ou subespécies) estejam em risco.
Os botânicos portugueses descreveram 19 novas plantas em sete países, incluindo Portugal, no ano passado. Este novo património vegetal descoberto por cientistas nacionais já está, contudo, ameaçado de extinção: os especialistas estimam que 60% dessas espécies ou subespécies estão em risco.
Os investigadores Ana Carla Gonçalves e Paulo Silveira, ambos da Universidade de Aveiro, descreveram dez novas calêndulas (duas espécies e oito subespécies) das montanhas de Marrocos e da Argélia, refere um comunicado da Sociedade Portuguesa de Botânica (SPB).
Estas descobertas surgem no âmbito de uma revisão deste género botânico, que integra a família dos malmequeres, no Sudoeste da Região Mediterrânica. Devido aos episódios mais frequentes de seca hidrológica nas montanhas e vales onde ocorrem estas calêndulas, a maioria destas novas plantas descritas encontra-se “criticamente ameaçada”.
Além destas duas espécies e oito subespécies de calêndulas, foram descritas por 11 cientistas nacionais outras quatro novas espécies de plantas, bem como cinco novos híbridos naturais. Estas contribuições científicas foram publicadas em cinco revistas internacionais da especialidade, refere a mesma nota.
A SPB refere que na escolha dos nomes das plantas foram homenageadas pessoas de quatro nacionalidades, as localidades ou países onde foram descobertas, e até, num caso, a planta hospedeira parasitada pelo vegetal agora descrito.
Orquídeas epífitas
O botânico do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra João Farminhão colaborou na identificação de duas novas orquídeas epífitas na África Tropical. As epífitas são vegetais que se desenvolvem sobre outros organismos, mas sem as parasitar. Estas espécies recém-descritas crescem sobre árvores.
O trabalho, que contou com a participação de cientistas do Jardim Botânico do Missuri (EUA) e dos Jardins Botânicos Reais de Kew (Londres), permitiu a descrição da Microcoelia nguemae, uma espécie do Gabão que está entre as poucas orquídeas que não apresentam folhas.
Já a outra espécie de orquídea descrita ocorre nas imediações do sítio arqueológico do Grande Zimbabwe, vivendo “confinada às penhas graníticas”, refere o documento da SPB. Possui um longo esporão de néctar que pode chegar aos 14 centímetros, “sendo apenas polinizada por borboletas nocturnas com uma língua quase tão comprida” como aquela estrutura vegetal.
Nova espécie de erva-toira
Miguel Porto, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-Inbio) da Universidade do Porto, descreveu uma espécie de planta parasita encontrada — pelo menos até agora — apenas nas imediações do castelo de Noudar, Barrancos.
Em causa está a erva-toira-de-noudar (Orobanche nepetae), uma nova espécie de erva-toira. Estes vegetais são holoparasitas, ou seja, não são capazes de fazer fotossíntese e, por isso, contam com os hospedeiros para obter nutrientes. A descoberta foi feita em parceria com um colega da Universidade de Córdova, em Espanha.
Planta suculenta
Na África do Sul, a investigadora Estrela Figueiredo, em colaboração com o britânico Gideon F. Smith, ambos ligados à Universidade Nelson Mandela, descreveram uma planta suculenta na cordilheira do Drakensberg, na África do Sul.
“A combinação da cor das folhas e das flores, cor de alperce, permite a sua diferenciação das espécies que lhe estão mais próximas”, refere a nota de imprensa.
O comunicado da SPB assinala ainda, como destaque de 2023 na área da botânica nacional, a publicação de uma nova lista dos carvalhos existentes no país.