Os super-ricos estão a beber gelo dos glaciares da Gronelândia no Dubai— graças a esta startup
O gelo dos glaciares com milhares de anos é enviado para o Dubai. A Arctic Ice diz que o negócio é sustentável porque só usa as partes que se separam dos glaciares.
Uma startup da Gronelândia está a recolher pedaços de gelo que se separam dos glaciares do Árctico e a usá-los para manter frescas as bebidas servidas nos bares de luxo do Dubai.
A Arctic Ice foi criada em 2022 e, segundo o site da empresa, vende “o gelo mais puro do mundo”, uma vez que, lê-se, recolhe as partes que derretem dos glaciares do Árctico “congelados há mais de 100 mil anos” e que nunca estiveram em contacto com solos ou agentes poluentes.
De acordo com o Guardian, a empresa terminou no início de Janeiro o primeiro carregamento de gelo do Árctico para os Emirados Árabes Unidos. O lote pesava 20 toneladas.
No site, a startup destaca que o negócio se preocupa “com o bem-estar da sociedade, em preservar o ambiente” e com a população da Gronelândia. No entanto, nem todos encaram a extracção de gelo da mesma forma e, no TikTok da startup, são várias as críticas.
Entre os comentários, há quem tenha questionado sobre a quantidade de dióxido de carbono necessária para transportar um único cubo de gelo até ao Dubai e sobre os danos que a queda dos glaciares e, consequente subida do nível das águas do mar, estão a provocar na Gronelândia.
"Só para que isto fique bem claro: estão a transportar gelo da Gronelândia para o Dubai? Para ser usado em bebidas? Qual é a parte sustentável disso?", lê-se num dos comentários citado pelo Business Insider. Ao Guardian, a Arctic Ice disse ter recebido mensagens privadas que encarou como "ameaças de morte" e bloqueou vários comentários no TikTok.
Os vídeos que publicaram mostram o gelo a boiar nas águas do fiorde de Nuuk. Depois lançam uma rede que puxa os pedaços que interessam para o interior do barco.
Malik V Rasmussen, um dos fundadores, explicou ao diário britânico que a Arctic Ice só recolhe os pedaços de gelo que ficam transparentes na água — o chamado gelo negro — que não esteve em contacto com a parte superior ou inferior do glaciar que derreteu.
Na quarta-feira, 17 de Janeiro, a revista Nature publicou um novo estudo do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA (JPL, na sigla original) que revelou que a Gronelândia está a perder cerca de 30 milhões de toneladas de gelo por hora, mais 20% do que o que se pensava.
A Arctic Ice admite que “era suposto o gelo derreter no mar”, mas os dois fundadores decidiram que não ia ser assim. Num dos vídeos, explica como funciona o processo: depois de o retirarem da água, colocam-no em caixas que são levadas para a cidade vizinha da Dinamarca. Neste país, o carregamento é entregue a outra empresa que o distribui pelos bares do Dubai.
Malik V Rasmussen reforça que o gelo dos glaciares derrete mais lentamente e é enviado congelado para o Dubai. O objectivo da startup é gerar receitas para a Gronelândia que está financeiramente dependente da Dinamarca. Por ano, relembra o jornal britânico, as subvenções da Dinamarca representam 55% do orçamento da Gronelândia.
"Na Gronelândia, ganhamos todo o nosso dinheiro com o peixe e com o turismo. Há muito tempo que queria encontrar outra coisa com a qual pudéssemos lucrar", afirmou o co-fundador.
Não é a primeira empresa a fazê-lo
A Arctic Ice não é a primeira empresa a tentar comercializar cubos de gelo dos glaciares da Gronelândia. Mas é a primeira a conseguir exportá-lo.
Em resposta aos níveis de emissões de gases com efeito de estufa no transporte do gelo, a empresa afirma que são baixos, mas compromete-se a ser neutra em carbono no futuro.
“Acredito que nasci para ajudar a Gronelândia na transição verde. Temos essa meta na empresa, mas talvez ainda não a tenhamos comunicado suficientemente bem”, defendeu Malik V Rasmussen.
No ano passado, a apresentadora de televisão Martha Stewart foi criticada por ter publicado uma fotografia que mostrava um cocktail com gelo retirado das águas da Gronelândia. A fotografia ainda está no Instagram.