O mundo como uma apresentação

Poderá haver mais do que uma pluralidade de coisas no mundo, independentemente de se tratar de partículas ou pensamentos.

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Em geral, uma visão do mundo de acordo com o senso comum diz-nos que existe uma multiplicidade de objectos que constituem a realidade. Independentemente de eles serem materiais, imateriais, meras abstracções ou concretos e empiricamente comprovados, a opinião geral diz-nos que vivemos num mundo plural. No entanto, este ponto de vista não é apenas uma questão de linguagem quotidiana: é também defendido por cientistas e filósofos de departamentos académicos importantes e bastante reconhecidos. Talvez as linguagens quotidiana e técnica se tenham tornado menos distantes uma da outra.

Mas as coisas podem não ser necessariamente como as entendemos. Por exemplo, a investigação feita ao nível microfísico da matéria (sobretudo na área da física quântica) sugere, de facto, que o que se entende por partículas fundamentais não tem um carácter isolado: parece que a interconexão entre todas as coisas é mais plausível do que a crença num mundo de entidades autónomas.

Mas não é só isso: de facto, a compreensão da matéria fundamental enquanto partículas também não é um dado adquirido. A matéria também pode ser vista como ondas, e a nossa identificação da mesma como partículas discretas é apenas uma questão de medida e não necessariamente uma realidade última. Assim, os físicos não estão de acordo numa base absoluta sobre a forma de tratar a natureza da matéria, mas há razões para pensar que a nossa percepção das coisas é apenas uma forma de ver algo que é, na verdade, mais “unificado” do que se poderia esperar.

Portanto, poder-se-ia dizer que a realidade tem a natureza da unidade. Esta natureza pode ser inicialmente deduzida da noção acima mencionada de interconexão entre todas as coisas. No entanto, uma vez que um mundo manifestamente plural se mostra como uma multiplicidade de objectos, a unidade está de alguma forma “despedaçada” ou em tensão. Pelo menos é assim que racionalmente o percebemos. Como conciliar isto?

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O investigador Marco Gomboso DR

Colocar as relações como o elemento que liga tudo pode parecer razoável, mas acaba por não ser evidente. As coisas (tanto a nível microfísico como a nível macrofísico) estão relacionadas (por exemplo, assumimos que existe uma relação entre o nosso olho e a coisa ou conteúdo da realidade que vemos). Mas como é que se relacionam? Para além de importantes explicações parciais e limitadas, não temos qualquer ideia conclusiva sobre o que é esta relação e como esta ocorre; limitamo-nos a tomá-la como um dado adquirido. Funciona, de facto.

Mas a ciência (e a filosofia) querem olhar mais de perto. As relações parecem talvez ser uma espécie de entidades, ou qualidades, distintas das coisas que eles relacionam e, no entanto, não têm sentido sem as coisas que elas ligam. As relações não podem ser aquilo com que se relacionam, mas não são algo em si mesmas. Por isso, parecem inexplicáveis ou com um carácter contraditório.

No meu projecto, proponho a ideia de que, apesar das relações, podemos pensar num “fundo” que, em vez de relacionar as coisas, simplesmente as apresenta como isoladas. Isto pode ser entendido como uma acção de “apresentação”. Além disso, a unidade é susceptível de ser imaterial e difícil de identificar. É uma condição necessária para a existência do mundo empírico. O desafio deste projecto consiste então em saber como compreendê-la concretamente no contexto da física.

Aluno de doutoramento no Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, projecto de investigação sobre o conceito de monismo

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